sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

A Soberba

Certo dia a Soberba foi participar numa competição desportiva a eliminar, lá para os lados da Península Árabe, no Médio Oriente. Qual pavoa, a Soberba pavoneou-se abrindo as suas penas atrativas, ainda que pelo caminho tenha deixado cair uma delas. Nada que preocupasse a Soberba. Afinal a sua ostensiva arrogância e pretensa superioridade pelos demais competidores, cegaram-na ao ponto de esquecer aquele provérbio que diz que “a Soberba precede a ruína”. E foi o que aconteceu. Levantou-se, ainda em passo de samba, da ressaca da jornada anterior, e partiu para o estádio, em cortejo engalanado e altivo pronta para mais uma manifestação de arrogância e superioridade sem limites. Outro competidor a esperava, não tão arrogante, mas tenaz como os seus antepassados. Foi cruel. A Soberba diante de um competidor tão audaz e destemido foi cedendo e coberta de vergonha acabou humilhada. Foi o desespero total. Toda a nação se sentiu traída pela Soberba acreditando que isso era coisa do Diabo que de novo o povo quis castigar. A Soberba, descorçoada, sumiu-se.

Diz a lenda que a Soberba volta forte e destemida daqui a quatro anos. Até lá, resta o silêncio reconfortante!  

domingo, 13 de novembro de 2022

A SUCESSÃO NO PCP

 A substituição do Secretário-Geral do Partido Comunista Português (PCP), assenta na ‘hereditariedade específica’, isto é, na transmissão dos agentes genéticos conservadores do partido que determinam a herança de características comuns àquela força política. É uma ‘eleição’, tipo monarquia constitucional, sem parentesco, ou tipo monarquia eletiva, onde o governante é periodicamente selecionado por um pequeno colégio eleitoral. Parece que foi o que se passou, na presente substituição de Jerónimo de Sousa, à frente do PCP. Não há uma Assembleia eletiva, com candidatos a concorrerem ao cargo. Há um pequeno núcleo de eleitos do Secretário-geral que, numa ‘sala escura’, escolhem o sucessor, que é presente ao Comité Central dos comunistas que aí ratificam a escolha (por unanimidade), “sem tugir nem mugir”.

Processo ‘pacífico’, longe daquela ‘luta de galos’ que os restantes partidos da democracia, ciclicamente, nos brindam, não só em Portugal, claro.

É, evidentemente, um processo de democraticidade duvidosa e longe dos padrões ocidentais. Em abstrato, não há oposição à escolha do líder e os putativos candidatos da comunicação social (eles próprios se autopromovendo), vêm adiada a subida ao ‘púlpito’, aparentemente, com ‘bons olhos’. João Oliveira, João Ferreira ou Bernardino Soares, não mereceram a escolha de Jerónimo de Sousa, certamente, por imaturidade política e pela fraca consistência programática, na defesa da ortodoxia comunista. O novo Secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, é um ilustre desconhecido, da democracia portuguesa. É um comunista de Abril de 1974, entrou para o partido comunista português em 1994, pertenceu à comissão política de Carlos Carvalhas e é descrito como um “homem afável” com “muita capacidade de diálogo”. Segundo o mesmo Carlos Carvalhas, a escolha de Álvaro Cunhal, em 1992, “O futuro o dirá, mas esta é a decisão coletiva e eu creio que não é só um líder que pode projetar o partido, somos todos nós, somos todos os comunistas, todos aqueles que entendem que da projeção deste secretário-geral quem lucra não é o secretário-geral, nem é o partido, é o povo português, são os trabalhadores, são os pequenos e médios empresários”. (sublinhado nosso).

É evidente que esta “decisão coletiva” é um eufemismo, de Carlos Carvalhas, que pretende significar um amplo debate em torna da escolha do Secretário-geral do PCP. Sabemos que não foi assim. Tudo se resumiu a uma semana de designação do sucessor e um Comité Central amorfo e totalitariamente “ámen”.

Nada de novo. Os tempos de João Amaral e outros, há muito que se findaram. A nova geração de comunistas, incluindo, Paul Raimundo, não tem estofo ideológico e apenas serve ao combate politico interno. Numa fase em que o centrão deu de si, os comunistas portugueses foram chamados com êxito à participação na governação, mas rapidamente cederam aos caprichos ortodoxos da “brigada do reumático” do partido. Claro que foram penalizados nas eleições, mas este é o mal menor, pois onde existir um comunista, a esperança nunca desvanece.

Este é o problema das tradições. Por mais desajustadas e antiquadas que estejam, há sempre quem as queira manter vivas.

Há duzentos anos a abolição das touradas já era motivo de debate parlamentar em Portugal. Hoje, ainda se mantém. O comunismo de Marx e Lenin, do qual resultou a falência do modelo socioeconómico e político comunista, deixou desamparados os seus militantes e ativistas políticos que deambulam por todo o mundo numa catarse sem precedentes, alheios à realidade que os rodeia. Os “operários” das startups fogem aos dogmas de classe e inscrevem uma nova classe - “empreendedores” – ao catálogo das profissões. Paulo Raimundo, na esteira de Jerónimo de Sousa, poderão estar tentados à mudança. Mas mudar, mesmo, ‘tá quieto ó mau”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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sábado, 12 de novembro de 2022

O BULLYING E OUTROS ANGLICISMOS, DOS JORNALISTAS DO ACESSÓRIO

Com injustiça ou não, creio que a humorista Joana Marques, tem sido acusada frequentemente de comportamentos ‘bullies’ entre colegas de profissão, jornalistas do acessório e outros. Joana Marques é uma humorista, guionista, apresentadora de televisão e locutora de rádio portuguesa, cargos que acumula com distinção o que lhe tem criado uma inveja quase delinquente. A prova de que assim é está nas reações dos/das visados/as que a coberto do anglicismo (bullying), proferem afirmações disparatadas ou despropositadas, em sua ‘defesa’, como tivessem sido vítimas de intimidação sistemática ou vexatória, não se dando conta, que o exercício da liberdade de expressão, não está condicionado ao agrado ou desagrado de alguns. É, em si mesmo, um direito fundamental.

É certo que há as chamadas ‘piadas de mau gosto’ que alguns de pensamento mais conservador e pouco pluralista, tendem a considerar uma espécie de ‘bullying’. Por exemplo, dizer que o Stevie Wonder não podia ver à sua frente o Ray Charles é, obviamente, uma ‘piada de mau gosto’ ou dizer que quando a Joana Amaral Dias diz que “…usa o corpo como arma política”, está a fazer ‘bullying’ sobre a Joana Marques é um evidente exagero e também de mau gosto ou pior ainda, dizer aos homens-bomba que o seu sacrifício será recompensado com 72 virgens no paraíso é, estupidamente, de mau gosto. Mas não vai para além disto. Mau gosto (para alguns, claro!). A Joana Marques, que me tenha apercebido, não vai tão longe. Fui repescar algumas pérolas e deu isto: - «Ela apanhou um texto de um comentário que eu tive aqui e disse que a minha mãe andava a fugir à polícia por tráfico de droga. Isso é gravíssimo! A minha mãe faleceu, não lhe admito a ela nem a ninguém (…) e quando ela diz que eu bebo chás marados, eu não bebo chá até porque não gosto, como vê tenho um corpo Danone, graças a Deus, coisa que a senhora não tem”, prosseguiu, para logo a seguir terminar: “A Joana devia beber chá de cavalinha, sabe porquê? Está muito inchada, emagrece e desincha da língua também, fica aqui a resposta (…). Acho que esta senhora é muito infeliz e alguém tem de pôr um limite (…) ela é uma indecente”» (Filipa Castro?)

Gente grande de verdade, sabe que é pequena e por isso quer crescer, quer evoluir. Já gente pequena acha que sabe tudo e daí maltratam e humilham os outros. Não vamos hostilizar ninguém nem fazer comédia gratuita a hostilizar, a menosprezar e diminuir os nosso colegas." (Luciana Abreu)

«Se eu estivesse a poucas horas de me tornar cunhada do Bruno de Carvalho, ficava muito pensativa". "Este casamento estava tão escasso ao nível de celebridades, que uma das mais famosas era a Inês Simões"» (Joana Marques)

"Reforcei o meu seguro quando descobri que a Judite Sousa não tinha gostado nada do ‘'Extremamente Desagradável” (Joana Marques)

Claro que resumi o alegado ‘bullying’ a duas ou três situações, pois que se relatasse mais isto ficaria parecido com o “Extremamente Desagradável”, o que é plágio, ainda por cima de “mau gosto”!

 

P.S.: Aquela do “corpo Danone”, é soberbo …

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

“Tv MARCELO”

O presidente populista, Marcelo Rebelo de Sousa, sempre dispôs de uma caixa de ressonância que bem podemos de apelidar de “Tv Marcelo”. Na verdade, embora em Portugal existam múltiplas estações de televisão, todas, sem exceção, têm um canal da “Tv Marcelo”, que passa diariamente e a toda a hora a programação do presidente populista. Não é uma programação programada, pois o presidente populista é mais de improvisos e diretos. É nesta incontinência comunicacional que os portugueses, vieram a tomar conhecimento, pelo próprio, de algumas lacunas graves do seu pensamento cristão e democrático, como seja a desvalorização da pedofilia (não quantitativa) no seio da igreja católica; A grave indiscrição do PR, ao desvendar a data da ida do PM a Kiev; a desconsideração do presidente brasileiro ao presidente português e a leveza com que Marcelo tratou o tema; a advertência pública, totalmente despropositada e desrespeitosa, que fez à ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, dizendo que está atento e não perdoará uma má execução do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência); o seu ultimo espetáculo na Web Summit, em total descontrolo emocional, são tudo sinais de que o presidente Marcelo, ensaia terminar o mandato em espiral negativa.

E se a maior parte das infelicidades do presidente na ‘Tv Marcelo’ estão a fazer mossa, e o presidente já se deu conta disso, a desvalorização da pedofilia no seio da igreja católica abriu uma ferida difícil de sarar.

Nem anunciando Passo Coelho, evitou o rombo. Daí que, como bom populista que é, lançou-se para as catedrais de consumo, lojas de rua, feiras e mercados, na esperança de que o rebanho se concilie com esta ‘ovelha tresmalhada’.

Os seus mais acérrimos seguidores, pedem uma pausa, e a hierarquia da igreja, “nem tuge nem muge”.

Marcelo sabe, que “mais vale cair em graça do que ser engraçado”. Durante muito tempo, Marcelo ‘caiu em graça’ na generalidade dos portugueses. Porém, ultimamente, teima em ‘ser engraçado’, e não está a resultar.

Não haverá ninguém, para além de António Costa, e os seus ministros devidamente industriados para serem compreensivos com Marcelo, como já se viu, que o convença a arrepiar caminho? É que se não, vai ser uma estopada até ao fim…!

 

sábado, 29 de outubro de 2022

A FUTILIDADE NA POLÍTICA PORTUGUESA

Dá pelo nome de IL (“Iniciativa Liberal”). Porém, podia muito bem ser de “Idiotas Letrados” ou mais apropriadamente de “Inexistência liberal” (InL). A (InL), é um ajuntamento de pessoas, que, durante anos e anos, formaram os “independentes” ou deambularam por outros partidos da democracia, até ganhar a própria autonomia não por mérito próprio, naturalmente, mas por colapso desses partidos. A (InL) deve a sua existência, exatamente por não ser necessário fazer prova do liberalismo. Aquele ajuntamento, formado por quadros de empresas privadas, quase sempre de intervenção pública, ex-funcionários públicos e/ou de empresas e/ou de institutos públicas, startups, agrupados na (InL), são a expressão acabada da mediocridade diletante que durante anos a fio se pavoneou na antecâmara dos partidos, sempre em lugar recatado, para que a sua sobrevivência não fosse posta em causa. São gente sem ideias nem projeto. Muito baseados no “eu-eu-eu”, a (InL) é vista como um grupo preguiçoso, narcisista e mimado.

A (InL), é um grupo (partido) vazio de ideias. A dinâmica sociopolítica e económica e a efemeridade dos elementos sociais em geral produziram um solo ideológico instável e flexível, na (InL), de forma que o partidarismo, acompanhado pelo estímulo do liberalismo ao consumo, tornaram-se pouco nítidos neste grupo. Acostumados a conseguirem o que querem sem esforço ou em prazos consideráveis, os membros da (InL), não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira e desejam salários ambiciosos, em geral com a suposição de que conhecimento e currículo técnico tornam desnecessários outros atributos profissionais. A discrepância na perceção do significado sobre o trabalho e carreira é evidente o que torna a (InL) um grupo "sem interesse".

Baseados numa conceção tradicionalista do liberalismo, assente no individuo como o centro de tudo, a (InL), não tem pátria nem país. As suas ideias, assentam num programa de marketing, Liberdade Individual – que todo o individuo — cada um de nós! — tem direitos fundamentais a dirigir a sua própria vida, o que fazer com o que é seu, a escolher como viver em comunidade. Em nenhuma parte do seu manifesto político existe uma conexão com a pátria portuguesa ou um “fumus”, sequer, de solidariedade política e/ou social. Por isso, as políticas sociais não existem e muito menos essa preocupação pelos mais desfavorecidos.

O Portugal mais justo e igual, não faz parte do dicionário político da (InL). O liberalismo para este grupo é uma abstração e assim deve continuar a ser. Lê-se, no seu manifesto: “Acreditamos no Liberalismo – nas ideias políticas que defendem pessoas livres, sociedades livres, mercados livres, cidadãos livres – porque a Liberdade é o maior motor de geração de desenvolvimento humano, de harmonia social, e de prosperidade económica.”

A contradição, contudo, é patente para este “liberalismo” acéfalo e abstrato da (InL), uma vez que é sustentado nos apoios e subsídios estatais, e é através do Estado que pretensamente pretendem implementar os ditos “mercados livres”, sob o slogan “privatização da riqueza e socialização de prejuízos”.

Em outros tempos, de credulidade na suposta capacidade de autorregulação dos mercados, em que a (InL) se acantonava na democracia cristã ou na social-democracia, estranhar-se-ia a desconfiança na orquestração pelos preços, a suspeita quanto às expectativas racionais dos agentes, ou a interferência na premissa de garante da ordem liberal, que reduz o Estado a disciplinado observador. Estranhar-se-ia a dúvida sobre a (teoria da) teia de aranha, tradutora do equilíbrio tendencial, do bom funcionamento da economia em mercado livre e, por sua extensão, da ausência de crises sistémicas.

Liz Truss é o último exemplo vivo do falhanço total do neoliberalismo da (InL).

Hoje, não se garantindo equidade no esforço que as sociedades devem fazer, é de temer que não sobrevivam os que já passam fome, os que já não têm medicamentos (vão faltar? não para todos!), os que não terão os tratamentos, os que não terão eletricidade em casa, os que não terão casa.

Esta é a resposta ausente da (InL). Por todas estas razões, a democracia portuguesa, pouco beneficiará deste grupo para a sua consolidação e crescimento. Os contributos ideológicos são de uma pobreza extrema. Aliás, este é terreno minado, para este grupo.

Agora que a (InL) se prepara para substituir a sua liderança, melhor faria reunir em congresso e decretar a sua extinção.  

É simplesmente desolador, o contributo nulo deste grupo para a democracia portuguesa, com custos apreciáveis para o erário público.

Esta é uma das fraquezas dos regimes democráticos. Conseguem suportar no seu seio quem a eles se opõem ou gerar “nado morto”, com alguma facilidade.

 

domingo, 23 de outubro de 2022

‘DIÁLOGO APÓCRIFO’

 Ano de XXI – Lugar de Belém

Tema: Abuso sexual de menores na igreja católica de Portugal

 - O Bispo em linha, diz a telefonista.

- Estou – disse Sua Excelência.

- Estou sim, disse o Bispo.

- Vossa Excelência Reverendíssima, recebi uma denúncia de abusos sexuais sobre uma criança, praticados (alegadamente), numa paróquia sobre a sua alçada. Antes de comunicar às entidades competentes, dou-lhe conhecimento desta denuncia, para os fins que entender por conveniente. Claro que muito me penaliza, enquanto cristão, tomar conhecimento deste tipo de situações que, embora me pareça serem inexpressivos o número de casos desta natureza, na nossa igreja, comparado com os milhares se não milhões de casos de que se tem conhecimento, por esse mundo fora, ainda assim me desgosta.

- Agradeço o seu cuidado e atenção, embora tenha opinião própria sobre o assunto, disse o Bispo. - Na verdade, sou daqueles, no seio da nossa igreja, que pensa que esses casos, se existiram, reportam-se a uma época em que esse tipo de comportamentos entre os sacerdotes e as crianças não eram reprovados visto que não tinham a censura nem a dimensão negativa que hoje se lhes atribui. Como sabe, aliás, o abuso sexual de menores não é "um crime público" e por isso não há (havia) obrigatoriedade de denúncia, como diz ‘acertadamente’ o Dom Linda. - Hoje, algumas coisas já sabemos que foram verdade. Que coisas foram essas, estão por apurar. " Mesmo assim, não podemos "julgar o passado com os critérios de hoje".

- Repare, Sua Excelência, disse o Bispo: ainda há dias uma “ovelha” do nosso rebanho, tornou público um testemunho, em que dizia ter sido abusada e violada por um padre, quando tinha apenas 13 ou 14 anos, de quem veio a ter um filho. Disse, nesse testemunho público, que pediu conselho, ao Dom Linda, contando-lhe "que, mesmo sendo menor, tinha um envolvimento com o padre Heitor”, ao que Dom Linda terá respondido, “que a culpa era dela, já que ela é que andava atrás dele".

- Ora, consultado Dom Linda, este respondeu com toda a franqueza, o seguinte: “não me consigo recordar minimamente de nada parecido com essa denúncia”.

- Vamos duvidar de Dom Linda?

- Poderá Vossa Excelência, como eminente jurista que é, interrogar-se: então se a criatura tem um filho de um padre, e se esse padre, foi afastado da igreja, justamente, por esse caso, como é que Dom Linda não se lembra dele, ainda por cima, quando a vítima o diz ter procurado? É que nem todas as violações de menores na igreja perpetradas por sacerdotes geraram filhos e o crime não se deu numa grande metrópole, mas sim em Vila Real, como é possível esta falta de lembrança?

- Porventura, terá razão Vossa Excelência para essa interrogação, mas são coisas do divino, não nos compete a nós ajuizar, disse o Bispo.

- Despediram-se, como bons amigos, desejando um ao outro “a Paz do Senhor”!...

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

MARCELO CAÇA COELHO PARA ABAFAR GAFE NA PEDOFILIA NA IGREJA!

Desejoso que a maioria do povo português se esqueça do que ele disse quanto ao abuso sexual de menores na igreja católica, que na generalidade dos casos mereceu o mais vivo repúdio de todos, mesmos os mais devotos, Marcelo mandou recado a dizer que não ia ficar fechado no palácio e, como é seu timbre, imediatamente, criou um novo facto politico, lançando a boia a Passos Coelho que, como se sabe, não está no ativo, mas que Marcelo sabia do impacto que iria obter, ao dizer, a propósito de nada, que o "país deve esperar muito do contributo de Passos Coelho". Diz-se que estava a lançar a candidatura de Passos Coelho à Presidência da República. Até é possível que sim, já que Paulo Portas, semanalmente, cimenta a sua posição de candidato. Porém, na minha leitura, não foi esse o objetivo primeiro de Marcelo. O objetivo primeiro, foi criar um facto político que tivesse um impacto significativo que desviasse a atenção da generalidade das pessoas, para a desastrosa declaração de desvalorização que fez, a propósito do número de casos de abuso sexual de menores no seio da igreja católica. Sendo esta matéria de reprovação geral, já que se insere no catálogo de crimes hediondos, todas as manobras dilatórias que Marcelo faça, a sua imagem perante os portugueses, está bastante debilitada, ainda por cima, porque se inscreve numa área respeitante a valores, neste caso de menores, e de uma entidade que tem por missão o bem e de que Marcelo é um devoto confesso. Marcelo mostrou, no entanto, que para ele tudo é relativo. Até a dignidade da pessoa humana. Este, que era um campo, em que Marcelo aparecia, aparentemente, ‘impoluto’, veio a revelar uma “falsa identidade católica” muito próxima da linha mais ortodoxa da igreja católica protagonizada por Bento XVI. O Papa Francisco, bem luta contra esta podridão no seio da igreja católica, impondo estas comissões de investigação dos abusos sexuais de menores que, de outra forma, seriam ocultados e as vítimas escondidas e votadas ao silêncio e à vergonha. Aqui não há misericórdia, nem Marcelo o demonstrou. O abuso sexual de crianças é um crime gravíssimo e abominável, pelo que, qualquer hesitação seja de que tipo for na sua condenação é uma fraqueza imperdoável e verdadeiramente cúmplice.

Marcelo, revelou esta fraqueza. O povo português, não lhe perdoou.

Só que Marcelo está ferido, pela sua própria incúria, e virará “escorpião” traidor, como no passado.

A fábula do escorpião conta a história de um bicho que pede a uma rã para o passar para a outra margem do rio, e acaba por ferrá-la com o seu veneno a meio da travessia, mesmo sabendo que se vão afogar os dois, porque é simplesmente da sua natureza.

Como diz um conhecido seu (ferrado por ele): numa coisa ele "é mestre: a criação de factos políticos que alimentassem os media e a opinião pública ou que desviassem a atenção de assuntos ou decisões atrasados ou a correr mal".

É, por isso, de temer novas caçadas já que a sua “maioria” parece estar a esfumar-se e o regresso às origens parece ser o destino final.

Por tudo isto, Marcelo aprestasse a exercer o segundo mandato ao jeito de Cavaco Silva. Que se cuidem as instituições democráticas, em particular o Governo.

Porém, Marcelo continuará a reivindicar os “seus” pobrezinhos. Nisto ele acertou. Realmente, Passos Coelho, sabe como fazê-los!… 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

PREDITA AOS ABUSADOS SEXUALMENTE NA IGREJA CATÓLICA!

Como pretendestes esperar outra coisa do vosso Presidente da República, quando Deus vos abandonou, na sua própria casa, ainda na flor das vossas vidas? O que vos levou a pensar que o vosso Presidente da República iria ter compaixão por um pequeno grupo de quatrocentas e tal crianças abusadas sexualmente no seio da igreja católica? Porque vos julgais tão importantes? Sabeis, por acaso, que “um universo de pessoas que se relacionam com a igreja católica [na ordem] de milhões de jovens ou muitas centenas de milhares de jovens. Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado porque noutros países com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”, disse o Chefe de Estado. “Crescei e multiplicai-vos” e então sim, mereceis a atenção, aqui na terra, do vosso Presidente da República. Nesta conceção presidencial, pelo que passastes, doloroso é certo, ainda não dá para a categoria de crime. Falta-lhe quantidade. Vós pensais que bastava um caso, para logo ser considerado crime hediondo? Pensastes bem. Contudo, isso é na versão da lei penal. Na versão presidencial, falta-lhes número. A chave do crime de abuso sexual de menores na igreja católica, é, portanto, a quantidade, na visão presidencial. Assim sendo, vós nem sequer à categoria de mártires, ascenderam, pois não está provado que preferiram sacrificar o vosso corpo a renuncia à vossa fé. Não. O vosso corpo foi violado sexualmente, por uma cambada de criminosos, que deveriam arder na fogueira da inquisição. Mas tal não acontece, porque vós sois poucos. E assim sendo, os criminosos têm ‘direito’ ao anonimato e vós o direito ao esquecimento. A menos que decidam lutar até à exaustão. Nesse caso, ao Presidente, respondem: “antes quebrar que torcer!". Mas cuidado, o terreno está minado. O senhor Presidente da República é um devoto cristão, disposto a sacrificar-se, pela sua igreja. E como ele há um número exponencial de cristãos disposto a defender o “templo”. Vós, para eles, não sois vítimas: sois fruto do acaso das circunstâncias da época.

Revoltem-se, exijam justiça, não aceitais a resignação como método sugerido. Tudo o que puderes fazer hoje, servirá de purificador para o futuro nessa e em outras instituições.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

“O SONHO DE ALGUÉM É O PESADELO DE UM SER HUMANO”

Eu adoraria ter uma primeira página do The Telegraph com um avião decolando para Ruanda. Esse é o meu sonho. Essa é a minha obsessão” Secretária de Estado para os Assuntos Internos do Reino Unido, Suella Braverman.

Quem diz isto é uma filha de emigrantes, de origem indiana, que emigram para a Grã-Bretanha na década de 1960. A mãe desta Secretária do Interior, de ascendência hindu era enfermeira. Seu pai, de ascendência goesa trabalhava para uma associação de habitação.

Braverman nasceu em Harrow, Greater London, e cresceu em Wembley. Frequentou a Uxendon Manor Primary School em Brent e a Heathfield School, Pinner, com uma bolsa de estudos parcial. Estudou direito no Queens' College, Cambridge. Foi presidente da Associação Conservadora da Universidade de Cambridge.

Braverman residiu em França durante dois anos, como aluna do Programa Erasmus e depois como Entente Cordiale Scholar, onde completou um mestrado em direito europeu e francês na Universidade Panthéon-Sorbonne.

Braverman é membro da Comunidade Budista de Triratna (anteriormente Amigos da Ordem Budista Ocidental) e frequenta o Centro Budista de Londres mensalmente. Fez seu juramento de posse no Dhammapada (caminho de "darma", base das filosofias, crenças e práticas que se originaram na Índia).

Sua mãe foi a candidata conservadora em Tottenham nas eleições gerais de 2001 e nas eleições de 2003 em Brent East.

Este é uma síntese (Wikipédia) do perfil desta Secretária do Interior, que sendo filha de imigrantes despreza imigrante. Como diz um jornalista inglês, (James Oh Brien), “Filhos de imigrantes que desprezam outros imigrantes provavelmente não deveriam ser responsáveis ​​pela política de imigração. Eles muitas vezes parecem estar lidando com questões pessoais que não deveriam estar nem perto do espaço político. Pessoas que protegeram e defenderam seus pais podem fazer um trabalho melhor.”

Tudo isto porque, o governo britânico, no primeiro trimestre deste ano de 2022, na tentativa de impedir que mais pessoas se arrisquem na travessia Canal da Mancha, assinou um acordo com o Ruanda para deportar imigrantes indocumentados para aquele país do leste africano. Segundo o programa, os migrantes são incentivados a solicitar asilo, e a estabelecer-se e construir novas vidas no novo país. Em troca, o Governo britânico prometeu pagar o equivalente a 120 milhões de libras (cerca de 144 milhões de euros) para o Ruanda integrar os recém-chegados.

É este “o sonho” da Secretária do Interior. Deportar imigrantes, para o Ruanda. Esta governante britânica e filha de imigrantes, vincadamente xenófoba e racista, não pretende para os outros o que teve para si. Ela entende e diz, que as aspirações dos refugiados e imigrantes de agora, que dão à costa inglesa, não podem ser acolhidos tal como os pais dela foram, porque certamente não estão ungidos por uma vaca sagrada indiana. Para estes imigrantes, de agora, o sonho de uma vida melhor para si e para os seus filhos não pode ser realizado num país rico do primeiro mundo, nem beneficiar de bolsas de estudo, ainda que parciais, no Reino Unido, pois o máximo que esta racista e xenófobo tem para dar é um acordo feito com o Ruanda e o repatriamento para este país africano, destes imigrantes, a troco de uns patacos.

Como é possível chegar a este ponto na solidariedade humana?

A história já nos tinha ensinado que os “guardas do campo” foram em certas circunstâncias piores que os seus carcereiros.   

Talvez esta Secretária do Interior (eurocética, convicta???) ainda não se tenha apercebido que a após o «Brexit» (do qual beneficiou regaladamente de um programa de Erasmus e de uma estadia em França), se deve ter destravado algum mecanismo inibidor das expressões de racismo no Reino Unido, pois os episódios de racismo e xenofobia multiplicaram-se exponencialmente, ao ponto de tentaram, por exemplo, tirar o turbante de um cidadão de origem indiana.

A senhora que se cuide, pois os “guardas do campo” poderão ser da origem dela!...

sábado, 1 de outubro de 2022

O CERCO DO COBARDE! – Parte XIII (A anexação de territórios rapinados)

Hoje, 30 de setembro de 2022, o presidente Putin consumou a anexação à Rússia dos territórios rapinados à Ucrânia, a saber: Kherson, Zaporíjia, Lugansk e Donetsk.

Estes territórios que são parte indissociável da nação ucraniana, foram objeto de referendos organizados e realizados por Moscovo no passado dia 26 de setembro, através de comissários seus enviados para cada uma daquelas regiões da Ucrânia.

 O resultado dos referendos, por obscenos, não merecem referência.

Esta violação grotesca do direito internacional e da integridade territorial da nação ucraniana é, acima de tudo, uma despudorada manifestação de terrorismo de Estado perpetrado por um país contra um seu vizinho, totalmente intolerável e condenável em pleno séc. XXI e representa uma provocação à comunidade internacional e uma ameaça à paz mundial, sem precedentes.

Dir-se-á que o mesmo se tem passado um pouco por todo o mundo. Com esta desfaçatez, não!

O dilema está instalado. A Ucrânia e a restante comunidade internacional não reconhecem a integração desses territórios na Rússia, daí manterem-se as ajudas incluindo militares à Ucrânia, bem como as sanções. A Ucrânia, para defender a sua soberania, vai tentar recuperar esses territórios, como fez e faz, de resto, na Crimeia. Resultado, os russos vão reagir com se os territórios fossem seus tentando inverter os papeis de invasor para invadido. Isto já foi declaradamente dito, pelo chefe dos invasores.

O que é mais assustador é que, para alem do descarado roubo de territórios à Ucrânia, a Rússia prepara-se para prolongar a guerra até á liquidação total deste país. Para isso, já fez um ensaio geral de mobilização da sua população para a guerra, à força, pois falta-lhe outros argumentos. Esta escalada militar, depois do falhanço do seu exército regular mais as forças mercenárias ao seu serviço, na Ucrânia, transporta o conflito para outra dimensão de resultados totalmente imprevisíveis. Ao envolver a sociedade civil russa na invasão, Putin demonstra um total desprezo pelos seus cidadãos e uma obsessão única. Restaurar a união soviética, sem comunismo, mas com totalitarismo e «assalto à mão armada».

Com o cinismo próprio dos déspotas, Putin diz que está a ser formada uma "ordem mundial mais justa" para se contrapor a "uma hegemonia unipolar", promovida pelo Ocidente, que disse estar "em colapso". Assumindo-se como o protagonista principal para a criação dessa “ordem mundial mais justa”, Putin, exemplifica através da invasão da Ucrânia, como o pretende fazer. Invasão militar de países vizinhos (e não só), desmembramentos desses países, nomeação de autoridades fantoches, para governar os escombros, eliminação de populações e símbolos nacionais, russificação dos territórios ocupados e campos de “filtragem” para os resistentes.

O Presidente russo, atribui os conflitos na ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), incluindo o atual entre a Rússia e a Ucrânia, como causa do "colapso da União Soviética". Diz ele, "Basta olhar para o que está a acontecer agora entre a Rússia e a Ucrânia, o que está a acontecer nas fronteiras de alguns países da ex-União Soviética. Tudo isso, obviamente, é resultado do colapso da União Soviética", disse o líder russo, durante uma reunião com autoridades dos países membros da Comunidade de Estados Independentes (CEI), que reúne as ex-repúblicas soviéticas.

Dá para perceber a "ordem mundial mais justa" que Putin pretende construir.

Que se cuidam os países anteriormente pertencentes à União Soviética. E os outros também!

terça-feira, 27 de setembro de 2022

ITÁLIA - NUMA DAS EXTREMAS DO REGIME DEMOCRÁTICO

Disse um dia Winston Churchill que "a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros". Apesar de gasta, lembramo-nos de a citar, pois continua a ser das melhores para usar na hora de defender as virtudes dos sistemas políticos ocidentais. A democracia em Itália apresta-se a passar por tempos difíceis e seguramente irá ser posta à prova em todas as suas dimensões. “Esticada” até à sua extrema-direita a Itália irá experimentar, pela primeira vez, após a sua adesão à União Europeia em 1958, governar contra os princípios fundadores da União, assentes nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Ora, esta coligação de direita e extrema-direita italiana que acaba de ganhar as eleições, tem no seu programa (e ADN), uma oposição feroz à chegada de migrantes. A líder da extrema-direita e futura primeira-ministra, opõe-se à imigração e já ameaçou o bloqueio naval de países do Norte da África para impedir a chegada de barcos de refugiados. Tem uma agenda clara de incompatibilidade com a comunidade LGBTQIA+. Declarou ser contrária à adoção por casais gays, com o argumento que é melhor para uma criança ter mãe e pai. É dela uma emenda, como deputada, que estenderia a proibição da barriga de aluguer para italianos no exterior.

De raiz neofascista, Giorgia Meloni para suavizar a sua imagem e a do partido às eleições, em plenos preparativos para a campanha eleitoral, terá instruído as direções regionais do partido “Irmãos de Itália (Fratelli d`Italia, ou FDI,​ na sigla italiana) FdI” a alertarem os membros para evitar declarações mais extremas, menções à ideologia fascista e para não fazerem em público a “saudação romana”, que consiste em estender o braço direito, num gesto semelhante à saudação nazi.

De certa forma, a União Europeia já vinha sendo confrontada com Estados membros, violadores dos princípios fundadores da União. O caso da Hungria e da Polónia, são casos paradigmáticos. Porém, a Itália, um dos países cofundadores da União Europeia, representa um golpe nas aspirações democráticas da União, uma vez que são conhecidas as visões eurocéticas e até “Itaxit” dos partidos de direita e extrema-direita, vencedores das eleições legislativas. A tudo isto acresce que, a Itália, tem uma forte dependência do gás russo, e há quem tema que a Itália se torne o “cavalo de Troia” da Rússia, com a chegada ao poder de um pró-Putin. As incertezas, estão aí.

Resta-nos confiar que a democracia italiana conterá em si os necessários mecanismos para fazer face aos desafios com que irá ser confrontada.

Definitivamente, a Europa está instável!

sábado, 24 de setembro de 2022

UMA CADEIA DE COMANDO PARA RESERVISTAS (O estado atual das forças armadas russas)

Que um país que seja invadido militarmente por outro é natural e até aceitável que decrete a mobilização geral de toda a população para a defesa da sua pátria. Agora que um país invasor teoricamente mais forte e com umas forças armadas quantitativamente três ou quatro vezes superiores às do invadido ter de recorrer à mobilização de reservistas (entre os 35 e 50 anos), para manter a guerra que desencadeou é um caso inédito na estratégia militar de qualquer país que se prese e certamente um “case study”, para os estrategas militares e civis, com propensões expansionistas e imperialistas.

Já é anormal (bastante) que seja um líder checheno Ramzan Kadyrov, e grande defensor dos chamados crimes de honra (Um crime de honra consiste no assassinato de um (ou vários) membros duma família, por se considerar a sua conduta imoral e nociva para a alegada honra familiar ou para os princípios duma comunidade ou religião. As razões invocadas podem ser a recusa dum casamento forçado, uma relação desaprovada pela família ou comunidade, relações sexuais fora do casamento, ser vítima de violação, vestir-se de modo considerado inapropriado, ter relações homossexuais, procurar um divórcio, cometer adultério ou renunciar a uma fé), autêntico mercenário da guerra, o grande comandante da ofensiva russa na Ucrânia. Generais, brigadeiros, coronéis, majores, capitães e outros, da cadeia militar russa, estão na Ucrânia a “toque de caixa” deste mercenário da guerra e do seu “exercito” de mercenários, sírios, chechenos, Wagner Group, etc. que, misturados com a cadeia de comando militar russo, desencadeiam a sua ofensiva na Ucrânia. O resultado, é o que se tem visto. Cidades, vilas e aldeias, destruídas, casas, monumentos, escolas e hospitais, destruídos, população civil morta e/ou estropiada, famílias separadas e debandada geral, dos misseis militares russos com alvo preferencial a população civil. Tem sido este, o espelho da guerra da Rússia contra a Ucrânia, volvidos que estão mais de sete meses de invasão.

Mas não tem sido só este o efeito da guerra. Saída dos muros do teatro de operações da Ucrânia, a guerra espalhou os seus efeitos nocivos um pouco pelo mundo, através da escassez de cereais, fertilizantes, gás e petróleo bruto, criando uma verdadeira crise global de alimentos.

Mas não chega, como ficou agora demonstrado. Putin, decide ir à sociedade civil interromper o curso de vida dos seus cidadãos dos 35 aos 50 anos, amputando a vida familiar de cada um apenas e tão só para sustentar uma guerra que a própria população russa não quer. Poderá um governante agir assim, sem consequências? É obvio que não. Porém, o desgaste que esta situação provoca tem efeitos imprevisíveis e sempre desastrosos uma vez que se espalham por outros países e continentes, como está a acontecer.

Em regra, nessa altura, já não está cá o “pirómano”!

 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

TURISMO DE MASSAS - A OUTRA FACE DA MESMA MOEDA!

Li algures por aqui que uma revista alemã especializada no assunto, considera que o turismo de massas está a estragar as grandes cidades, com por exemplo a cidade do Porto. Esta é a consequência, inevitável, da abertura do país aos outros. E os outros são todos aqueles que vêm do mundo, para descobrir e/ou estar em Portugal. Nós, de uma maneira geral, recebemos bem e temos muito para oferecer sem grandes contrapartidas. As nossas grandes cidades, agem para o turismo de massas. Os nossos antepassados deixaram obra no país que, com grande sorte, diga-se, tem resistido à voragem dos tempos. No presente, os liberais das grandes cidades, oferecem os standards europeus, em feroz competição e a preços do “salário mínimo”. É verdade que alguns turistas se queixam dos preços e de alguma falta de qualidade dos serviços. Também isto é o preço a pagar por quem nos visita. Há muito tempo que Portugal é uma atração, mas os nossos representantes insistem em não perceber que se as cidades, vilas e aldeias do nosso país não tem qualidade de vida para os próprios habitantes que lá vivem diariamente e por isso, e só por isso, não apelam a qualquer tipo de turismo qualitativo. A massificação embora ligada a outras vertentes que não só as do turismo, sofre, neste caso, a explosão de visitantes efémeros e descontraídos, pouco dados à contemplação e conservação antes mantendo um status de utilizadores (consumidores) compulsivos. E as nossas grandes cidades, como Lisboa e Porto, preparam-se todos os anos para isso. Fornecer elementos quantitativos de turismo, sem cuidar previamente, das infraestruturas mínimas, para esse fim. O exemplo das trotinetes e afins é paradigmático. Fossem os operadores obrigados a penalizar quem deixa a trotinete em qualquer lugar, que não o lugar próprio, para elas, e a história seria outra. A verdade é que a gestão da cidade também não tem infraestruturas para acomodar as trotinetes, nem fiscalização municipal para esse fim (e outros). Neste caos, que convida ao laxismo, por mais organizados e civicamente informados que sejam os cidadãos que nos visitam, a coisa não dá. Ainda há dias, rebentou uma polémica, no Porto e mais tarde em Lisboa, sobre os desacatos na noite, do fecho das esquadras e da falta de policias, que deu origem aos célebres postos móveis (unidades móveis de atendimento da PSP), que me trouxe à memória uma das vezes em que estive em Amesterdão, num sábado à noite, e as ruas principais tinham a presença policial bem visível quer de bicicleta, moto e carro, numa postura totalmente dissuasora para a autêntica avalanche de pessoas que vinham de todos os lados, para os diversos pontos de lazer e prazer.

As nossas cidades de Lisboa e Porto, oferecem o Bairro Alto, o Cais do Sodré e a Ribeira, como atrativos máximos da noite. A Ribeira, é um espaço muito agradável com ótimas condições para o turismo de massas. Mas o Bairro Alto e o Cais do Sodré? Haja Deus! Este turismo devia ser desviado para as docas. 

terça-feira, 6 de setembro de 2022

“𝐎 𝐂𝐀𝐑𝐈𝐃𝐎𝐒𝐎”!

Ontem foi o Dia Internacional da Caridade. Se há áreas onde Marcelo Rebelo de Sousa dá cartas, uma delas é, sem dúvida, a da “caridade”, muitas vezes, é certo, na sua expressão mais diminuta. Desta vez, não, foi magnânimo, como passo a demonstrar.

Por coincidência (ou não), o governo de António Costa anunciou neste Dia Internacional da Caridade (05/09/2022), as medidas urgência de apoio às famílias, provocadas pela inflação, pelo aumento dos combustíveis, pelo aumento do gás e eletricidade e os consequentes aumentos na alimentação, habitação, transportes, etc., etc., tudo isto em resultado e tendo por principal causa, a guerra desencadeada pela Rússia à Ucrânia.

Como sempre acontecerá, há aqueles que acham pouco o esforço do governo para proteger as famílias, em particular, as mais vulneráveis. Outros entendem que o governo fez um esforço apreciável para acudir às famílias, e que este esforço tem de ser visto no contexto de uma dívida pública já muito elevada. Existem outros, onde se inscreve Marcelo Rebelo de Sousa, que embora considerando as medidas “equilibradas”, destaca o “duplo papel importante” do PSD neste processo.

E aqui a surpresa. Desconhecendo nós a existência (ainda que informal), de qualquer acordo no “centrão”, para as medidas anunciadas pelo governo, fomos investigar mais a fundo as palavras do Presidente Marcelo, na comunicação social. E realmente, o Presidente Marcelo, explicou porque é que em seu entender o PSD teve um “duplo papel importante”, neste processo (leia-se das medidas de urgência.) Diz o Presidente “caridoso”: “O PSD teve um duplo papel importante: o primeiro foi ter mostrado muito cedo um caminho que facilitou a tarefa do Governo, abriu caminho a uma coisa nova que é a entrega direta de rendimento às pessoas. Em segundo, abriu o caminho de uma maleabilidade no aumento da despesa pública. É importante porque o PSD tinha uma autoridade especial no equilíbrio das contas públicas, como demonstrou durante anos com o Governo de Passos Coelho.” 

Claro que a surpresa, rapidamente se transformou em incredulidade. Incredulidade, pois este “duplo papel” reconhecido (agora) ao PSD, nunca o foi à restante oposição, designadamente, de esquerda, também esta, há muito mais tempo que o PSD, defendeu a entrega direta de rendimento às pessoas e maior maleabilidade no aumento da despesa pública. Ingratidão, seria o termo, caso fizesse parte do léxico político. O “caridoso”, fez aqui um assistencialismo, bacoco, mais próximo da “esmola”, ao PSD. Para assinalar o Dia Internacional da Caridade, Marcelo Rebelo de Sousa, usou da “caridade” para com o PSD, inscrevendo-o, certamente, no grupo das pequenas e médias empresas, que reclamam igualmente, apoio do governo. O “caridoso” fez um desvio à sua veia humanista e celebrou a efeméride dando apoio a uma pessoa moral, no caso o PSD.

Terá sido um pagamento? Seja como for, é ofensivo!...

 

 

 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

𝐎 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐓Í𝐆𝐈𝐎 𝐃𝐀 𝐏𝐑𝐎𝐅𝐈𝐒𝐒Ã𝐎 𝐃𝐄 𝐀𝐃𝐕𝐎𝐆𝐀𝐃𝐎

                                                                 A Ordem dos Advogados é fundada em vista da Justiça; não pode atingir o seu fim senão submetendo todos os atos profissionais aos princípios duma alta e escrupulosa probidade" (Preâmbulo do Decreto nº 11715, de 12 de Junho de 1926)                        

- X -

No Decreto constitutivo da Ordem dos Advogados (OA), rezava, assim, o seu artigo 2.º

Art. 2.º A Ordem tem por fim:

1.º Determinar quais são as pessoas que estão habilitadas a exercer a advocacia no continente da República e ilhas adjacentes; ·

2.º Defender os direitos, imunidades e interêsses dos seus membros;

3.º Exercer o poder disciplinar sôbre os advogados por forma a assegurar se o prestígio da classe e a garantir-se a observância das boas normas de conduta profissional;

4.º Contribuir para o progresso do direito e para o aperfeiçoamento das instituições judiciárias; e

5.º Auxiliar a administração da justiça.” (Decreto N.º 11715, de 12 de Junho, de 1926)

Foi preocupação do legislador de 1926, que a Ordem dos Advogados, assegura-se o prestígio dos advogados (“classe”), contribuísse para o progresso do direito e para o aperfeiçoamento das instituições judiciárias e auxiliasse a administração da justiça.

Cremos não ser exagero dizer que, nos últimos anos, a (OA) não cumpriu qualquer das missões que, entre outras, acima lhe foram confiadas. A profissão não se encontra mais prestigiada, antes pelo contrário; a (OA) não foi parceiro confiável para as tarefas do progresso do direito e para o aperfeiçoamento das instituições judiciárias e foi uma entidade ausente, como auxiliar na administração da justiça. A (OA), nos últimos anos, enveredou pela politização do Direito, e foi, em consonância com outras Ordens Profissionais, armas de oposição política aos governos da República. A (OA), em certos casos, funcionou como se fosse uma associação de proprietários e/ou inquilinos, de interesses reduzidos e setoriais. A (OA), durante estes últimos anos não esteve à altura do seu estatuto de parceiro na administração da justiça. Os advogados, sem exceção, não se sentiram representados pela sua Ordem, não viram melhorado ou sequer prestigiada a sua profissão, nem participado relevantemente, nas matérias da sua profissão. Evidentemente que, este estado de coisas, serviu às mil maravilhas umas quantas sociedade de advogados que, pela sua dimensão e poder, dispensam qualquer intervenção relevante da (AO). 

Os mais desprotegidos, aqueles que em prática individual ou em pequenas sociedades, lutam diariamente, por uma atividade eticamente irrepreensível, não vêm valorizado o seu trabalho pela comunidade, uma vez que uns quantos, com a passividade cúmplice da (AO), teimam em denegrir a profissão.

Os “mexilhões”, ou seja, os advogados estagiários, esses têm na (AO) um “policia” sempre de cassetete em riste, prontos a “punir” a veleidade de um estatuto mais digno, de uma aprendizagem, mais consentânea como os desafios do presente e do futuro, o que implica o rompimento de um quadro formativo arcaico e, sobretudo, com acesso a uma componente remuneratória, condigna.

Outra discussão que não se quer fazer, é a da criação da carreira de advogado no setor público. A este tema a (AO), foge como o “rabo da seringa”. Afinal, uma carreira pública, como por exemplo têm os médicos, os arquitetos, os engenheiros, etc., etc., é coisa que repugna (há muito, diga-se), os dirigentes da (AO). Preconceitos, visão maniqueísta, entre atividade privada e pública e o temor da funcionalização da advocacia, tudo isto sob o manto sagrado do neoliberalismo reinante, abafam a discussão.

Certo é que, em vez de ter advogados a trabalhar em “call center”, empresas de cobrança, imobiliárias, na grande distribuição, etc., etc., etc., lhes poderia ser proporcionada uma carreira no setor público, com um papel fundamental na manutenção do Estado de Direito e na regulação das relações sociais, garantindo a justiça e o bem-estar dos cidadãos. Afinal, a falta de oportunidades dos jovens advogados, prende-se essencialmente, com a falta de janelas de mercado. Tudo se confina à atividade privada e há pouco transparente, relação de trabalho, proporcionada aos jovens advogados. Ora, a administração pública que depende de profissionais formados e especializados nas diversas áreas das Ciências Jurídicas para garantir os direitos e deveres dos cidadãos, deveria contar nos seus quadros com uma carreira de advogados, só assim garantido uma melhor justiça e bem-estar dos cidadãos.

Por outro lado, “os rios de dinheiro” que a administração pública gasta em advogados, muitas vezes promíscuos com a atividade legislativa e de assessoria da própria administração, seria sinal bastante para que a advocacia no setor público fosse, também por isto, uma realidade inquestionável.

Mas, realmente, o clima atualmente não é propicio para isso. As principais profissões jurídicas em Portugal, sofrem uma depreciação de monta tudo pela degradação da sua atividade e a perda de credibilidade. Ainda há poucos dias, em resposta a um inquérito da Rede Europeia de Conselhos de Justiça, 26% de magistrados judiciais portugueses (num universo de 500), responderam acreditar que há corrupção na justiça mesmo que seja “muito raramente”. Infelizmente, são públicos alguns casos.

Também no Ministério Público, a coisa não é melhor. Todos estamos lembrados das acusações públicas (e condenações) de magistrados do Ministério Público, em crimes de corrupção, por exemplo.

Evidentemente que isto não é desculpa para a advocacia se depauperar ainda mais. Pelo contrário, isto deveria servir como “leitmotiv”, para uma advocacia de responsabilidade e de prestígio alicerçada no conhecimento e na competência dos seus profissionais dignamente representado pela sua Ordem, bastião singular dos seus profissionais. 

A Ordem dos Advogados terá eleições em Novembro de 2022. Além do bastonário, serão eleitos órgãos nacionais e regionais, abarcando funções executivas e disciplinares. Há que aproveitar esta nova oportunidade para eleger um grupo de pessoas capazes de devolver à Ordem a missão que lhe foi confiada pelos seus Estatutos e Decreto constitutivo e restituir à classe o prestígio e honorabilidade que há muito andam arredados das preocupações dos últimos “governantes” da Ordem dos Advogados.



quinta-feira, 1 de setembro de 2022

𝐎 𝐒𝐍𝐒 𝐍Ã𝐎 É 𝐔𝐌𝐀 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐓𝐔𝐏!

Uma nova tragédia assolou o Serviço Nacional Saúde. A Ministra da Saúde, e bem, assumiu as responsabilidades políticas do cargo e demitiu-se. Dela não se esperava outra coisa. Exemplar no cargo que ocupou, fez o “tirocínio” na pandemia do Covid-19, mostrando a todos que era possível vencer com os meios que estavam à sua disposição. De uma sensibilidade rara envolveu-se na resolução dos problemas criados pelo Covid-19 com determinação e responsabilidade, lutando ao mesmo tempo contra aqueles que queriam aproveitar a oportunidade para esvaziar o SNS. Foi uma luta desonesta, desigual e antipatriótica, pois foram e são muitos aqueles que sonham acabar com o SNS. Pela minha parte, dou um muito obrigado a Marta Temido, pelo seu desempenho à frente do Ministério da Saúde.

Fechado estes parêntesis, existe uma turbe na classe médica (incluindo o “CEO” dos médicos, na linguagem corporativa bastonário), passando pela classe dos enfermeiros, acolitados por jovens jornalistas, avençados do acessório, todos sem exceção, que olham para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), como uma excrescência do nosso sistema democrático saído do 25 de Abril de 1974, que, no entender deles, urge abolir, em favor das leis do mercado. Para estes, a saúde é uma “mercadoria” e como tal está sujeita às leis da oferta e procura. E neste mercado, o Estado não deve intervir.

Evidentemente que o SNS existe, porque existiu Abril, e este não teria existido se não fosse um grupo de jovens “capitães” que destemidamente, puseram os interesses do povo português à frente dos seus interesses pessoais. Resultou extraordinariamente bem e a eles devemos o viver em democracia, ou seja, expressar-nos livremente sobre tudo e um par de botas, na convicção de que cada um o faz a favor do bem comum. É claro que com o tempo, verificamos que não é assim. O individualismo ainda se encontra impregnado no ADN de muitos de nós o que em muitas circunstâncias se sobrepõe aos interesses mais gerais. Para isso muito contribuem os “pendurados de Abril”. Estes, os “pendurados de Abril”, quase meio século depois, comportam-se como a chamada “brigada do reumático”. Disposto à vassalagem, neste caso, de interesses ocultos, transmitiram aos seus descendentes, o pecado da “coisa pública” e as virtudes metafisicas da coisa privada. O SNS, que faz parte do sistema público de saúde, foi criado por um grande humanista de nome António Arnaut. Democrata sensível às necessidades de saúde do povo português, teve a ousadia de propor e ver aprovada uma Lei de Bases da Saúde, na qual se inscreveu a criação do SNS. Nem todos a aprovaram, mas com o tempo a esmagadora maioria veio a verificar que não tinha razão. Felizmente, até hoje, esta estrutura de saúde pública manteve-se, com maior ou menor dificuldade, apesar dos ataques cerrados da “alcateia” que diariamente desfere os seus golpes de morte. E, contrariamente ao que se pensa, muitos destes “lobos” alimentam-se de restos de alimentos presentes no lixo democrático. Em algumas circunstâncias, esta espécie, alimenta-se das suas próprias crias, como se vem notando. Hoje, temos os “irresponsáveis” (profissionais que assinam declarações de irresponsabilidade, no SNS, claro!), numa atitude no mínimo inqualificável, face ao tipo de profissão que exercem. Imaginem um doente, a ser atendido por um “irresponsável”. Creio que é uma coisa do outro mundo. Hipócrates, deve estar a dar voltas no túmulo!

Os “pendurados de Abril”, criaram uma descendência de irresponsabilidade, facilitismos e precaridade assustadora, numa teia promiscua que durante anos e anos minou o nosso Estado de Direito Democrático e que deixou sequelas bem vincadas.

Estamos num ponto de pré-ruptura no SNS, ensaiado entre 2011/2015, com o governo “para além da troika” e as tentativas de secundarização do SNS em favor das entidades privadas de saúde.

Agora, na era das “startups”, o “CEO” dos médicos e alguns destes sonham criar as suas plataformas online como Booking ou Trivago, à volta do SNS, oferecendo soluções médicas sem ir ao hospital (público), que lhes falta tempo para o presencial no privado.

A saída de Marta Temido do Ministério da Saúde é mais um brecha na já frágil estrutura do SNS.

 

 

 

sábado, 20 de agosto de 2022

𝐀 𝐓𝐞𝐥𝐞𝐬𝐜𝐨𝐥𝐚, 𝐬𝐞𝐦 𝐡𝐨𝐫á𝐫𝐢𝐨!

Sobretudo, desde 2008 que os portugueses, em formação continua, tem recebido aulas de economia e finanças, saúde publica (e privada) e incêndios florestais, através dos maiores especialistas e académicos que há no país nestas diferentes áreas. Já antes, entre 2002 e 2010, os portugueses tiveram a cadeira mais difícil da sua formação: o caso “Casa Pia”, ou seja, a denuncia de abusos de menores envolvendo várias crianças acolhidas pela Casa Pia de Lisboa, uma instituição gerida pelo Estado português para a educação e suporte de crianças pobres e órfãos menores.

A aparente disponibilidade e desinteresse com que a maioria dos especialistas pôs ao serviço dos portugueses os seus saberes é, a todos os títulos, merecedor do nosso profundo reconhecimento. Durante mais de 20 anos, nas áreas em foco nos respetivos períodos, recebemos os maiores ensinamentos sobre o que era necessário fazer para resolver os problemas em crise e, com o desleixo próprio de um povo que não acredita nos seus, fomos adiando as soluções ou, o que é pior, fazendo o seu contrário. Hoje (ainda na crise dos incêndios florestais e abusos sexuais de menores por membros da igreja Católica), voltamos a demonstrar a nossa interrogação perante os ensinamentos diários e, o que é ainda pior, temos uma leve suspeição de que os peritos são antigovernamentais. Não é o saber destes peritos reconhecidos que estão em causa, pois que nos falta ciência para tanto, o que verdadeiramente põe em causa estes cientistas e/ou académicos mais recuados, são os “avençados do acessório” que diariamente “botam faladura” em pé de igualdade com os peritos. Resultado: está a dúvida instalada. Será mesmo que houve abuso sexual de menores na Casa Pia? Será mesmo que os portugueses precisaram da intervenção da “troika” para ajudar (financiar) durante a chamada crise do subprime? Será mesmo que o país foi assolado pelo vírus do covid-19, ao ponto de suspender as liberdades individuais (e coletivas)? Será mesmo que os portugueses (leiam-se bombeiros e outros) sabem apagar os fogos? Todas estas “dúvidas” foram levantadas em simultâneo por peritos e “avençados do acessório”. Não admira que a dúvida se tenha instalado. Afinal, à sua maneira, todos são “peritos”, com capacidade (maior ou menor) de influenciar quem ouve e vê. Nós queremos acreditar que quem se dispõe a informar-nos o faz desinteressadamente apenas com o intuito de percebermos algumas das situações que mais nos aflige. É certo que não devemos acreditar em tudo, sobretudo se a informação é prestada pelos “avençados do acessório” que, de uma maneira geral, falam sem qualquer conhecimento de causa. Estes, são um pouco, como as “revistas cor-de-rosa”, vazias de conteúdo que fazem apelo ao irracional que está em cada um de nós. Os peritos comprometidos, não com a ciência e ou/conhecimento, mas antes com as “modas” políticas do momento, são, contudo, os mais perigoso, pois pelas vestes de cordeiro, são verdadeiros lobos que solitários ou em alcateia vão minando a confiança dos cidadão nas suas instituições. Normalmente ao serviço de interesses ocultos estes, conjuntamente com os “avençados do acessório”, são os verdadeiros culpados do atraso da nossa sociedade, pois debitam diariamente incertezas, dúvidas e incompreensões, que obviamente criam temores nas populações.  E fazem-no, a coberto da liberdade de expressão, princípio caro à nossa democracia. Sempre foi assim, para alguns: usam um bem maior para o exercício da mediocridade e insensatez, atropelando ostensivamente os direitos dos outros. Com cobertura mediática, dispõe-se a tudo até serem distratados. A partir daí, passam ao anonimato ou são arguidos. Até que isso aconteça, levamos com eles até à exaustão.

Pobre país, que ainda não consegue separar o “trigo do joio” !

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

𝐎𝐬 𝐩𝐞𝐪𝐮𝐞𝐧𝐨𝐬, 𝐠𝐫𝐚𝐧𝐝𝐞𝐬 “𝐯𝐮𝐥𝐭𝐨𝐬” 𝐝𝐞 𝐏𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐚𝐥 (𝐝𝐨𝐬 𝐩𝐞𝐪𝐮𝐞𝐧𝐢𝐧𝐨𝐬)

Foi ontem (18-08-2022) noticiado que o grande incêndio da Serra da Estrela foi dado como dominado. Lavrou durante mais de 10 dias e foi um pesadelo diário para as populações, para os bombeiros, para as forças da proteção civil, enfim para todos aqueles que sofrem e combatem o drama alheio. Esta ofensiva do fogo na Serra da Estrela foi um duro golpe para aquela paisagem única. Certamente se saberá mais tarde quem deu causa a tamanho horror. Uma coisa sabemos nós: mais de 50% dos fogos tem origem humana (dolosa ou por descuido); nos restantes casos, desconhece-se a origem. Intrigante!

No meio dos horrorosos incêndios, que tem fustigado o país, há mais de um mês, com particular destaque para este na Serra da Estrela, e, enquanto se choram os mortos e se apoiam as vítimas, com a lentidão exasperante típica destas situações, a comunicação social e os dirigentes partidários erigiram como facto importante em Portugal, durante este dramático período, a escolha e contratação de um "conselheiro" económico, de nome Sérgio Figueiredo, para assessorar o ministro das finanças. Esta pelintrice, da classe política e partidária portuguesa a que se junta uma comunicação social débil e sem estatuto, origina uma incompreensível inversão de valores, misturando o que é essencial em cada momento, pelo acessório, pelo trivial e pelo não-assunto, que alimenta uns quantos da cidade, avençados do acessório.

Sérgio Figueiredo, personalidade de menor relevo e, certamente, não desejando o protagonismo que lhe foi dado, vê-se em pé de igualdade perante os graves problemas com que o povo português está presentemente, e mais uma vez, confrontado.

Um simples cargo de consultor, comparável a tantos "consultores" que povoam a administração pública e a privada (com dinheiros públicos) fez, durante mais de uma semana, as delícias destes abutres, que pretendem levar o caso à Assembleia da República, em detrimento, por exemplo, de se reunirem em sessão permanente, para acompanhar a grave situação que o país atravessa.

Os dirigentes partidários e os avençados do acessório, minam os fundamentos do Estado de Direito Democrático e aproximam o país da banalidade, muito frequente nas autoproclamadas repúblicas, que nascem como cogumelos por esse mundo fora.

Portugal é mais, muito mais, que isso. Portugal tem história.

 

terça-feira, 9 de agosto de 2022

𝐁𝐢𝐚 𝐅𝐞𝐫𝐫𝐞𝐢𝐫𝐚 (𝐐𝐮𝐞𝐦 é 𝐞𝐥𝐚?)

Ignorância minha! É uma cantora brasileira, ativista, de 29 anos de idade.

Vem cantar à “Festa do Avante”, com o propósito (diz ela), “… para denunciar os estragos que o povo português deixou aqui no Brasil.”. Dito desta forma, das duas uma: ou a cantante está fora do Brasil há muito tempo ou (o que é mais provável), erigiu a colonização portuguesa (finda há mais de 200 anos), como um acontecimento da atualidade, certamente, pelas amarguras diárias brasileiras.

Saramago, em 1997, respondia ao Jô Soares, o seguinte: “Vocês estão cheios de japoneses, estão cheios de alemães, estão cheios de italianos, estão cheios de tudo quanto é … e nós é que temos a culpa de tudo…

Bia Ferreira sabe quem era Jô Soares? Já não digo José Saramago, esse, na festa do avante, irá conhecer postumamente, entenda-se, a sua vida e obra!...

terça-feira, 26 de julho de 2022

𝐎 “𝐒𝐨𝐥” 𝐞𝐧𝐜𝐨𝐛𝐞𝐫𝐭𝐨!

José António Saraiva (JAS), escreveu sobre as “marias rapaz”, mais propriamente, sobre a “promoção desenfreada do futebol feminino” que, no seu dizer, “não tem nada que ver com desporto, não tem nada que ver com futebol, tem que ver com política. É a ‘ideologia de género’ a funcionar.” Não contente, dispara: “Quando vejo um jogo de futebol feminino arrepio-me ao ver certos choques, ao assistir a lances em que as jogadoras levam violentas pancadas no peito. E pergunto-me: será que não sofrem com isso? Que, no futuro, não virão a ter problemas por causa disso?

Evidentemente, que (JAS) é um amante de futebol (masculino) e, na boa tradição portuguesa, este desporto é para homens e só homens. Foi assim durante muitos anos e não há razão para que assim não seja, segundo (JAS). Os argumentos, como os acima exemplificados, são de alguém que parou no tempo. Imagine (JAS) que o desporto rei em Portugal era o râguebi. Este, na sua versão feminina é praticado desde o século XIX, inicialmente, em Inglaterra, e hoje por todos os países em que o râguebi é o desporto rei. Se quer “assistir a lances em que as jogadoras levam violentas pancadas no peito”, não escolha o futebol (soccer), escolha o râguebi. Até para sua informação, as jogadores do râguebi feminino não levam só “violentas pancadas no peito”, levam em tudo o que é sítio. E levam, há mais de 140 anos. Não me diga que no séc. XIX, era a ‘ideologia de género’ a funcionar.” Aliás esta questão deixa de ser “questão”, quando vemos as mulheres nas fileiras das forças armadas, na polícia, nos bombeiros, etc. No tempo mental de (JAS) estas eram atividades exclusivamente de homens, sobretudo de “barba rija”. Será que os nossos comandantes-em-chefe se deixaram aprisionar pelas “propagandistas da ideologia de género”? Aqui (JAS) é mudo …!

 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

𝐎 𝐂𝐄𝐑𝐂𝐎 𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐁𝐀𝐑𝐃𝐄! – 𝐏𝐚𝐫𝐭𝐞 𝐗𝐈 (𝐀 𝐫𝐮𝐬𝐬𝐢𝐟𝐢𝐜𝐚çã𝐨 𝐝𝐨𝐬 𝐭𝐞𝐫𝐫𝐢𝐭ó𝐫𝐢𝐨𝐬 𝐫𝐚𝐩𝐢𝐧𝐚𝐝𝐨𝐬”)

 Volvidos que estão quase 150 dias de invasão da Ucrânia pela Rússia, esta continua a senda de terror e destruição no território ucraniano, com a utilização de um exército que faz roer de inveja os criadores de jogos de guerra, pela precisão com que, diariamente e sem descanso, atingem alvos civis. O exército russo e o seu comandante em chefe, possuidores de um arsenal de guerra, que impressiona, lançam diariamente todo o tipo de munições sobre o território ucraniano, sem qualquer lógica militar nem sobre qualquer objetivo militar. Estes são, aparentemente, objetivos a evitar. O que se vê e ouve é que os russos querem tomar toda a bacia de Donetsk, região histórica, geográfica e cultural do extremo leste da Ucrânia e a sudoeste da Rússia. Este é (era?) o objetivo inicial. Mas agora, “os soldadinhos de chumbo”, dizem que objetivos da Rússia na Ucrânia, vão além de Donbass. Compreende-se que assim seja. Afinal, dispor de armas para atacar alvos civis e matar civis inocentes, indiscriminadamente, ainda por cima através de um exército de milhares de jovens recrutados à peça, em países arruinados ou subjugados à Rússia, é tarefa que se mostrou demasiadamente fácil e apetecível, para o governo russo, que conta com a apatia “silencioso” do seu povo. A tudo isto acresce, a chamada russificação dos territórios ucranianos rapinados, após a invasão de 24 de fevereiro de 2022. Na verdade, a Rússia está agora a tentar estabelecer o controlo económico e governamental sobre o território ucraniano rapinado e ocupado. Esta situação indica que os russos estarão a preparar-se para criar uma série de “republicas populares” russas, culminando na anexação direta de parte do território ucraniano rapinado e ocupado. São cinco os indicadores, de como os russos estão a proceder, para este efeito. Primeiro, através da implementação da moeda russa: sabe-se que os representantes russos em território ucraniano rapinado e ocupado, nas autoproclamadas “republicas populares” de Donetsk e Lugansk, têm usado o rublo desde 2015. Também as forcas de rapina e ocupação russas em Kherson implementaram um período de transição de quatro meses para mudar a moeda da cidade para rublos russos. Também o comércio em Melitopol e Volnovakha, cidades rapinadas e ocupadas pelos russos, estão a fazer a transição para o rublo russo desde 01 de maio, passado; Segundo, através da substituição de governos locais: São vários os testemunhos e as autoridades ucranianas confirmam que, em várias cidades, os órgãos decisores foram substituídos por representantes russos, incluindo governadores regionais, conseguindo, assim, obter um maior e efetivo controlo administrativo de áreas recém capturadas e rapinadas; Terceiro, através da realização de referendos: Com a substituição das autoridades locais supracitadas, as forças russas estão desde maio a trabalhar na recolha de dados pessoais de ucranianos em Oblasts (distritos) do Sul do pais. As forças de rapina ocupantes pretendem falsificar referendos já́ previamente planeados. Para o efeito, o Kremlin está já́ com planos avançados para a realização de um referendo sobre a independência de uma nova “república popular de Kherson” e, eventualmente, nos Oblasts de Zaporizhzhia e Odessa; Quarta, através do controlo das comunicações: Em grande parte dos territórios rapinados e ocupados, os russos impuseram uma interrupção nos serviços de internet, cortando grande parte cabos de fibra ótica naquelas áreas, tudo isto com a intenção clara de limitar a liberdade de informação. Por outro lado as forças de rapina e de ocupação russos estão a instalar equipamentos “MegaFon” (operadora de telemóveis e de telecomunicações da Rússia) no Oblast de Kharkiv, procurando aumentar o controlo sobre redes telefónicas e de internet em áreas que as forças russas de rapina e ocupação atualmente ocupam ou pretendem ocupar; E, em Quinto lugar, as forças de rapina e ocupação russa, pretendem romper os laços culturais entre os territórios rapinados e ocupados pela Rússia e o Estado ucraniano a longo prazo. Serve de exemplo, a única escola que permaneceu aberta em Mariupol foi proibida de ensinar a língua ucraniana e só ensina russo desde o final do passado mês de Abril. Não nos podemos esquecer, do rasto de pilhagem que tem acontecido nos territórios rapinados e ocupados pelos russos. A ladroagem é assustadora, muito próxima da que os nazis praticaram em territórios igualmente rapinados e ocupados.

É esta a realidade da dita “operação especial” russa sobre a Ucrânia. Cidades, vilas e aldeias, destruídas, com milhares de mortos, feridos, desaparecidos, refugiados e vidas despedaçadas. Saque, pilhagem, e destruição dos símbolos nacionais da Ucrânia e russificação dos territórios rapinados e ocupados. Isto em pleno séc. XXI, na Europa…!

segunda-feira, 27 de junho de 2022

𝐎 𝐂𝐄𝐑𝐂𝐎 𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐁𝐀𝐑𝐃𝐄! – 𝐏𝐚𝐫𝐭𝐞 𝐗 (𝐀 𝐧𝐨𝐯𝐚 𝐩𝐨𝐥í𝐭𝐢𝐜𝐚 𝐝𝐞 𝐠𝐮𝐞𝐭𝐨𝐬 – “𝐜𝐚𝐦𝐩𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐟𝐢𝐥𝐭𝐫𝐚𝐠𝐞𝐦”)

O invasor russo na Ucrânia, inaugurou a política de guetos nos territórios ocupados, através da emissão de salvo-condutos e passaportes, para as populações ucranianas, segregando-as completamente ante uma morte penosa, pela fome, pelas doenças e pelas deportações para territórios inabitados russos. 

Mais de duas centenas de milhar de crianças, fazem parte do grupo de um milhão e duzentos mil ucranianos, que foram deportados à força para a Rússia, a maioria dos quais do leste da Ucrânia, através de “campos de filtragem” russos. Estes centros de detenção, ou filtragem, são uma réplica do que foi utilizado pelo Exército Soviético após a II Guerra Mundial, aquando da libertação de milhões de sobreviventes soviéticos dos campos de concentração nazi. Os militares soviéticos forçaram cerca de 5 milhões de pessoas ao repatriamento na União Soviética, tendo a maioria passado por esses campos de detenção criados pelos serviços secretos russos. Nesses locais, as pessoas foram submetidas a um processo muito rigoroso de filtragem, com interrogatórios que pretendiam perceber se os ex-prisioneiros estavam, de alguma forma, a seguir uma ideologia antissoviética. Mais de 300 mil prisioneiros foram para os gulag, campos de trabalhos forçados criados nos anos 30 que seriam o destino de qualquer pessoa que se opusesse ao regime na União Soviética.

É esta a mesma filosofia que está hoje presente, na Ucrânia, pelo invasor russo. A deportação forçada, com o objetivo de perda de identidade e a nacionalização da cidadania ucraniana. Aos que se mantém, um novo Holodomor ("matar pela fome"), está em curso, seja através da rejeição da ajuda de qualquer espécie, o confisco de todos os alimentos domésticos e a restrição do movimento das populações.

E aos separatistas ucranianos das autoproclamadas “república popular” de Donetsk e de Lugansk, a quem Vladimir Putin, em fevereiro de 2022, ofereceu pomposamente o reconhecimento político e diplomático, em sessão solene, com os dois homens de palha das ditas “repúblicas”, entretanto já com a nomeação já em junho do corrente, de um “comissário” politico russo, para governar a “república popular” de Donetsk, cargo entregue a Vitaly Khotsenko, que era supervisor da política industrial regional no Ministério da Indústria e Comércio da Rússia, oferece agora Putin, dizia, um cenário de destruição em massa nas cidades dessas “republicas”, com novo fluxo de refugiados, provocado pelos disparos de mísseis de cruzeiro, utilização de bombardeiros, morteiros e artilharia pesada, em ataques diários.

Putin e os separatistas, poderão orgulhar-se, a breve trecho, de serem líderes de “repúblicas populares” de “terra queimada” !

 

segunda-feira, 6 de junho de 2022

𝐎 𝐂𝐄𝐑𝐂𝐎 𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐁𝐀𝐑𝐃𝐄! – 𝐏𝐚𝐫𝐭𝐞 𝐈𝐗 (𝐆𝐮𝐲 𝐌𝐞𝐭𝐭𝐚𝐧, 𝐰𝐡𝐨 𝐢𝐬 𝐡𝐞?)

Guy Mettan é cientista político e jornalista. Iniciou sua carreira jornalística no Tribune de Genève em 1980 e foi seu diretor e editor-chefe em 1992-1998. De 1997 a 2020, foi diretor do “Club Suisse de la Presse” em Genebra. Atualmente é jornalista e escritor freelancer.

Guy Mettan, é um jornalista e político suíço, membro do Partido Popular Democrata Cristão da Suíça. Diz a Wikipédia, que o Partido Democrata Cristão é um partido político suíço de centro-direita, membro minoritário da coligação dos quatro partidos do Conselho Federal. Fundado em 1848 como Partido Católico Conservador, adotou o nome atual em 1970.

Feito este introito, deu à estampa um longo artigo de Guy Mettan, sobre a Ucrânia, que Ana Paula Fitas, investigadora, docente e interventora social, recomenda viva e seriamente, a sua leitura, na tradução do Senhor General Luís Cunha, e “da sua generosa e relevante partilha, indispensável ao direito à informação plural e objetiva que é um dos direitos fundamentais dos cidadãos” (sic)

Interessado que sou sobre a matéria e convicto opositor da invasão da Rússia à Ucrânia, sejam quais forem os motivos e/ou justificações que se arranjem, fui ler de espírito aberto, as visões que se encontram espelhadas no artigo, na esperança de ler algo de novo.

Tenho de ser franco, nada de novo! As teses pró-russas explanadas e as contundentes críticas à europa ocidental, acriticamente dependentes dos Estados Unidos da América (EUA), como se alega, em nada me surpreende face aos discursos (pró-russos) proferidos após 24 de fevereiro de 2022.

No entanto deteto alguma incoerência neste texto do democrata cristão suíço (cientista político e jornalista), que não se pode deixar passar em claro. Vejamos

Diz o Democrata Cristão Suíço, logo no início do seu texto que, esta foi “Uma guerra inevitável e improvisada.” Esta parecer ser a primeira divergência (semântica), com Putin. Este assume, que realizou (e está em curso) uma “operação militar especial”, na Ucrânia. Diz o democrata cristão, que “As análises dos peritos mais qualificados (em particular dos americanos John Mea rsheimer e Noam Chomsky), as investigações de jornalistas como Gens Greenwald e Max Blumenthal, e documentos apreendidos pelos russos – a interceção de comunicações do exército ucraniano a 22 de janeiro e um plano de ataque apreendido num computador abandonado por um oficial britânico – mostram que esta guerra foi inevitável e muito improvisada.”.

Dito assim, até parece que os ucranianos se preparavam para desferir um ataque contra território russo. A ser verdade o que escreve, tudo indica que os ucranianos se preparavam (e preparam), para reconquistar os territórios ocupados por separatista, com o apoio militar da Rússia, na Crimeia e dentro de pouco tempo no Donbass. E isto é relevante.

Na Europa ocidental, durante décadas e décadas, vários grupos separatistas em alguns Estados Europeus, praticaram ações, incluindo terroristas, para proclamar a independência dos seus territórios. Imaginem, que alguns desses grupos tinham o apoio militar explicito de países terceiros, com “operações militares especiais”, para garantir o território para esses grupos de separatistas. Imaginem, por exemplo, a França a apoiar explicitamente o grupo separatista basco, para se independentizar da Espanha; ou a Irlanda do Norte, para se separar do Reino Unido; ou a região de Flandres, na Bélgica, que reivindica a soberania para os Países Baixos e ainda a Galiza, na Espanha, que reivindica a soberania para Portugal.

O que é que a península da Crimeia tem de diferente de outras regiões na Europa e no mundo, que são parte integrantes de países reconhecidos pela comunidade internacional, há muito? A que propósito se defende a desintegração territorial de um país? O que justifica esta “adesão” de intelectuais, jornalistas e outros, por uma invasão de um país por outro? A Crimeia, que é uma Républica Autónoma da Ucrânia, foi anexada pela Rússia, militarmente, em 2014. De 2014 a 2022, inclusive, a Europa Ocidental e os Estados Unidos da América, por omissão, sufragaram esta anexação.

É de acreditar, que esta passividade da Europa Ocidental e dos Estados Unidos da América, quanto à “facilidade” da anexação da península da Crimeia, pelos russos, terá criado a convicção ao ditador Putin que o restante território teria os dias contados, caso persistissem, na sua veia independentistas.

Para o democrata cristão suíço, porém, esta era uma guerra inevitável, também, por outras razões. Diz ele, com alguma ingenuidade (?), “que desde a declaração de Zelensky, em abril de 2021, sobre a possível recaptura da Crimeia à força, ucranianos e americanos decidiram desencadeá-la o mais tardar no início deste ano. A concentração das tropas ucranianas no Donbass desde o verão, as entregas maciças de armas pela NATO durante muitos meses, o treino acelerado de combate dos regimentos azov e do exército, a intensificação do bombardeamento de Donetsk e Luhansk pelos ucranianos, em particular entre 16 e 23 de fevereiro (tudo isso é claro que permaneceu ignorado pelos meios de comunicação ocidentais), provam que uma grande operação militar estava planeada por Kiev para o final do inverno.”

Pois, quer a recaptura da Crimeia, quer o fortalecimento e intensificação militar da região de Donetsk e Luhansk pelos ucranianos, de nada serviram, como se sabe, visto que os russos, em 21de fevereiro, na sequência do apoio militar explicito aos grupos separatista, e como claramente declarou Putin: “Considero necessário tomar uma decisão há muito esperada". Reconhecer imediatamente a independência e a soberania da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk. Peço à Assembleia Federal da Federação Russa que apoie esta decisão e depois ratifique os tratados de amizade e assistência mútua com ambas as repúblicas.

Se era uma decisão há muito esperada”, nada teria a ver com movimentações recentes. Só não foi, também, em 2014, pois o resultado seria ainda pior. E esta é a diferença, que o democrata cristão suíço (e outros), fingem que não percebem. Quando a comunidade ocidental e a Ucrânia, assistiram impávidas e serenas à captura da Crimeia, imediatamente perceberem, que não podiam tomar a mesma atitude perante a “gula soviética”, para o restante território ucraniano, designada e principalmente, a região do Donbass, com a conquista de outro porto importante da Ucrânia, Mariupol, que liga com a Crimeia e o Mediterrâneo.

Mas a “recaptura” da Crimeia (que não aconteceu), “à força”, pelos ucranianos, podia sê-lo de outra forma? Alguém acredita (exceto, este democrata cristão suíço), que os russos aceitariam restituir os territórios anexados, só porque sim? Se os EUA, se opunham à anexação da Crimeia, pelos russos, demoraram 8 (oito) anos para o demonstrar. Se a Europa Ocidental se opunha à anexação da Crimeia pelos russos, demoraram, igualmente, 8 (oito) anos, para o demonstrar.

Ou, o que está subliminarmente assumido, por estes “cientistas políticos”, é a perda de territórios da Ucrânia para a Rússia, como «conditio sine qua non», à sua sobrevivência como país. Porém, por mais que estes cientistas políticos nos tentem fazer convencer das suas teses putinistas, a verdade é que a questão ucraniana, infelizmente, é só uma e bem mais simples de explicar.

Putin percepcionou em 24 de fevereiro de 2022, uma oportunidade de dissolver a Ucrânia como um Estado independente. Essa oportunidade não quer perdê-la. Assim, Putin e seus acólitos, só deixarão a Ucrânia em “paz”, quando esta se desmilitarize, mude a sua constituição para garantir neutralidade, reconheça a Crimeia como território russo e reconheça as regiões separatistas de Donetsk e Lugansk como estados independentes.

Enquanto tal não acontecer, os russos, destroem cidades, vilas e aldeias, ucranianas, matam civis indiscriminadamente, são protagonista do maior êxodo de refugiados depois da segunda guerra mundial e, tristemente, dispõe de uma desproporção militar com os Ucranianos de um para dez.

O desastre humanitário na Ucrânia e nas suas fronteiras é trágico e não há uma poderosa força de dissuasão a um avanço militar russo.

Termino, lembrando que em Agosto de 1942, Hitler descreveu a Suíça como "uma espinha na face da Europa" e como um estado que não tinha mais o direito de existir, denunciando o povo suíço como "um ramo desvantajoso do nosso Volk” (povo).

O democrata cristão suíço, Guy Mettan, ainda não tinha nascido!...

quarta-feira, 1 de junho de 2022

𝐎 𝐂𝐄𝐑𝐂𝐎 𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐁𝐀𝐑𝐃𝐄! – 𝐏𝐚𝐫𝐭𝐞 𝐕𝐈𝐈𝐈 (𝐎 𝐄𝐮𝐟𝐞𝐦𝐢𝐬𝐦𝐨 𝐃𝐨𝐞𝐧𝐭𝐢𝐨 𝐝𝐞 𝐏𝐮𝐭𝐢𝐧)

Sergei Lavrov, ministro dos negócios estrangeiros, russo, nega rumores sobre saúde de Putin: 'ele aparece em público todos os dias', diz o ministro.

“Não vês, pois não? Tu não vês. Vês apenas aquilo que ele te mostra”. Isto é o que dizem os doentes da área da saúde mental. Nada a fazer, Lavrov!

O Homem “são como um pêro”, o Presidente russo, Vladimir Putin, assinou em 30 de maio de 2022, um decreto que “simplifica” a “concessão de cidadania” russa a órfãos e deficientes ucranianos. O documento, que foi publicado no portal do Governo russo, abrange menores órfãos e pessoas com deficiência das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, reconhecidas como independentes pela Rússia em fevereiro passado, bem como do resto da Ucrânia.

Dias antes, Putin tinha também “simplificado a concessão de cidadania” russa a habitantes das regiões ucranianas de Kherson e Zaporijia, ocupadas parcialmente pelo exército russo e consideradas estratégicas para um corredor terrestre com a península da Crimeia, anexada pela Rússia.

Nos dois casos, o presidente russo alterou o decreto de abril de 2019 que simplificava o pedido de passaporte russo para os habitantes de Donetsk e Lugansk, que integram o Donbass, no leste da Ucrânia, uma região que Moscovo quer controlar totalmente.

Esta hipocrisia criminosa da alegada “concessão de cidadania” russa, aos habitantes ucranianos das regiões ocupadas militarmente, pelos russos, é de um cinismo atroz. Territórios devastados, outros roubados, populações mortas sem dó nem piedade e as que sobrevivem, são forçadas à cidadania russa, em território pátrio, como alternativa à morte. A isto chama o invasor de “concessão de cidadania”. Apagar da memória de cada ucraniano refém, as suas raízes e a sua identidade, num processo semelhante, ao praticado pelos nazis, para a criação da apelidada “raça ariana”.     

Porém, a política milita russa, da “lei da bala” na Ucrânia, para além da morte e devastação, não conseguiu inverter o nacionalismo ucraniano. Oitenta e dois por cento (82%) dos ucranianos declaram que a Ucrânia não deve ceder nenhum de seus territórios como parte de um acordo de paz com a Rússia em nenhuma circunstância. No inquérito realizado pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev entre 13 e 18 de maio, último, e divulgada na passada terça-feira (24-05), oitenta e dois por cento (82%) dos entrevistados disseram não apoiar concessões territoriais, mesmo que isso signifique prolongar a guerra e aumentar a ameaça à independência da Ucrânia.

No entanto, dez por cento dos inquiridos (aqui incluindo, certamente, António Filipe do PCP e Henry Kissinger), acham aceitável que a Ucrânia abdique de uma pequena parte do seu território para alcançar a paz, enquanto oito por cento, estão indecisos. De acordo com o referido inquérito, 77% dos ucranianos que vivem em território ocupado pela Rússia opõem-se a qualquer concessão de terras.

O número de “apátridas” ou de “Migueis de Vasconcelos” ucranianos, embora expressivos, equivale aquela franja da população, sempre disposta a colaborar com o inimigo e apoiantes incondicionais da integração do seu país na “casa grande”, principalmente, em países recentes ou de ocupação prolongada.

O que aqui releva, é que após a queda do muro de Berlim, as nações e povos amarrados à União Soviética, que dela se libertaram e retomaram o seu projeto de nação livre e independente, com povo, território e cultura, estão novamente ameaçadas, pelo imperialismo russo e pela sua gula na anexação de territórios à federação, para a criação do “homem russo”. Naquela zona, por vontade do ditador Putin, mais tarde ou mais cedo, todos terão de ser russos.  

Por isso, em territórios militarmente ocupados, como na Ucrânia, e sem que lhe seja pedido, ele promove a “concessão de cidadania” russa.

 Só os indefectíveis, acreditam que Putin não está, de facto, seriamente doente!...