terça-feira, 27 de setembro de 2022

ITÁLIA - NUMA DAS EXTREMAS DO REGIME DEMOCRÁTICO

Disse um dia Winston Churchill que "a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros". Apesar de gasta, lembramo-nos de a citar, pois continua a ser das melhores para usar na hora de defender as virtudes dos sistemas políticos ocidentais. A democracia em Itália apresta-se a passar por tempos difíceis e seguramente irá ser posta à prova em todas as suas dimensões. “Esticada” até à sua extrema-direita a Itália irá experimentar, pela primeira vez, após a sua adesão à União Europeia em 1958, governar contra os princípios fundadores da União, assentes nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Ora, esta coligação de direita e extrema-direita italiana que acaba de ganhar as eleições, tem no seu programa (e ADN), uma oposição feroz à chegada de migrantes. A líder da extrema-direita e futura primeira-ministra, opõe-se à imigração e já ameaçou o bloqueio naval de países do Norte da África para impedir a chegada de barcos de refugiados. Tem uma agenda clara de incompatibilidade com a comunidade LGBTQIA+. Declarou ser contrária à adoção por casais gays, com o argumento que é melhor para uma criança ter mãe e pai. É dela uma emenda, como deputada, que estenderia a proibição da barriga de aluguer para italianos no exterior.

De raiz neofascista, Giorgia Meloni para suavizar a sua imagem e a do partido às eleições, em plenos preparativos para a campanha eleitoral, terá instruído as direções regionais do partido “Irmãos de Itália (Fratelli d`Italia, ou FDI,​ na sigla italiana) FdI” a alertarem os membros para evitar declarações mais extremas, menções à ideologia fascista e para não fazerem em público a “saudação romana”, que consiste em estender o braço direito, num gesto semelhante à saudação nazi.

De certa forma, a União Europeia já vinha sendo confrontada com Estados membros, violadores dos princípios fundadores da União. O caso da Hungria e da Polónia, são casos paradigmáticos. Porém, a Itália, um dos países cofundadores da União Europeia, representa um golpe nas aspirações democráticas da União, uma vez que são conhecidas as visões eurocéticas e até “Itaxit” dos partidos de direita e extrema-direita, vencedores das eleições legislativas. A tudo isto acresce que, a Itália, tem uma forte dependência do gás russo, e há quem tema que a Itália se torne o “cavalo de Troia” da Rússia, com a chegada ao poder de um pró-Putin. As incertezas, estão aí.

Resta-nos confiar que a democracia italiana conterá em si os necessários mecanismos para fazer face aos desafios com que irá ser confrontada.

Definitivamente, a Europa está instável!

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