A substituição do Secretário-Geral do Partido Comunista Português (PCP), assenta na ‘hereditariedade específica’, isto é, na transmissão dos agentes genéticos conservadores do partido que determinam a herança de características comuns àquela força política. É uma ‘eleição’, tipo monarquia constitucional, sem parentesco, ou tipo monarquia eletiva, onde o governante é periodicamente selecionado por um pequeno colégio eleitoral. Parece que foi o que se passou, na presente substituição de Jerónimo de Sousa, à frente do PCP. Não há uma Assembleia eletiva, com candidatos a concorrerem ao cargo. Há um pequeno núcleo de eleitos do Secretário-geral que, numa ‘sala escura’, escolhem o sucessor, que é presente ao Comité Central dos comunistas que aí ratificam a escolha (por unanimidade), “sem tugir nem mugir”.
Processo ‘pacífico’, longe
daquela ‘luta de galos’ que os restantes partidos da democracia, ciclicamente,
nos brindam, não só em Portugal, claro.
É, evidentemente, um processo de
democraticidade duvidosa e longe dos padrões ocidentais. Em abstrato, não há
oposição à escolha do líder e os putativos candidatos da comunicação social
(eles próprios se autopromovendo), vêm adiada a subida ao ‘púlpito’,
aparentemente, com ‘bons olhos’. João Oliveira, João Ferreira ou Bernardino
Soares, não mereceram a escolha de Jerónimo de Sousa, certamente, por
imaturidade política e pela fraca consistência programática, na defesa da
ortodoxia comunista. O novo Secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, é um
ilustre desconhecido, da democracia portuguesa. É um comunista de Abril de 1974,
entrou para o partido comunista português em 1994, pertenceu à comissão
política de Carlos Carvalhas e é descrito como um “homem afável” com “muita
capacidade de diálogo”. Segundo o mesmo Carlos Carvalhas, a escolha de Álvaro
Cunhal, em 1992, “O futuro o dirá, mas esta é a decisão coletiva e eu
creio que não é só um líder que pode projetar o partido, somos todos nós, somos
todos os comunistas, todos aqueles que entendem que da projeção deste
secretário-geral quem lucra não é o secretário-geral, nem é o partido, é o povo
português, são os trabalhadores, são os pequenos e médios empresários”. (sublinhado
nosso).
É evidente que esta “decisão
coletiva” é um eufemismo, de Carlos Carvalhas, que pretende significar um
amplo debate em torna da escolha do Secretário-geral do PCP. Sabemos que não
foi assim. Tudo se resumiu a uma semana de designação do sucessor e um Comité
Central amorfo e totalitariamente “ámen”.
Nada de novo. Os tempos de João
Amaral e outros, há muito que se findaram. A nova geração de comunistas, incluindo, Paul
Raimundo, não tem estofo ideológico e apenas serve ao combate politico interno.
Numa fase em que o centrão deu de si, os comunistas portugueses foram chamados
com êxito à participação na governação, mas rapidamente cederam aos caprichos
ortodoxos da “brigada do reumático” do partido. Claro que foram penalizados
nas eleições, mas este é o mal menor, pois onde existir um comunista, a
esperança nunca desvanece.
Este é o problema das tradições.
Por mais desajustadas e antiquadas que estejam, há sempre quem as queira manter
vivas.
Há duzentos anos a abolição das
touradas já era motivo de debate parlamentar em Portugal. Hoje, ainda se
mantém. O comunismo de Marx e Lenin, do qual resultou a falência do modelo
socioeconómico e político comunista, deixou desamparados os seus militantes e
ativistas políticos que deambulam por todo o mundo numa catarse sem precedentes,
alheios à realidade que os rodeia. Os “operários” das startups fogem aos dogmas
de classe e inscrevem uma nova classe - “empreendedores” – ao catálogo das profissões.
Paulo Raimundo, na esteira de Jerónimo de Sousa, poderão estar tentados à
mudança. Mas mudar, mesmo, ‘tá quieto ó mau”.
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