DEFERÊNCIA DEMOCRÁTICA
Segundo comunicação à imprensa,
António Costa, terá convidado o presidente Marcelo a presidir ao último
conselho de ministro do governo cessante. Não se sabe se Marcelo aceitou ou não
o convite. Trata-se de uma deferência democrática que, na minha modestíssima
opinião, não tem razão de ser e explico porquê. Abro aqui um parêntesis para
dizer que sou daqueles que entendem que a democracia também se faz de
formalismos e rituais, necessários para o exercício dos direitos e a saudável
convivência entre órgãos de soberania. Uma democracia adulta e educada é um
exemplo extraordinário para os cidadãos e uma matriz segura para o
desenvolvimento democrático de um país. Fechado o parêntesis, por que razão,
então, entendo eu que esta deferência democrática de António Costa para com o
presidente Marcelo, não se justifica? Pela razão simples que os atos
antidemocráticos do presidente Marcelo, não devem ser brindados com
«deferências», mas antes com censura severa do seu comportamento e até mesmo
com a sanção popular do seu descontentamento, com de resto, acabou por
acontecer. Estas eleições, de iniciativa presidencial, foram um autêntico revés
para o presidente, ainda que tivesse obtido um dos seus objetivos. Colocar no
poder, o seu partido. Fraca consolação. Saímos de uma maioria absoluta estável
e coerente, para uma maioria relativa instável e incoerente. Pior, só governará
se os seus filhos ‘bastardos’ assim o quiserem. O país merecia isto? É claro
que não. Dir-se-á que Marcelo foi duplamente ‘punido’. O eleitorado virou-lhe
as costas e deu-lhe como presente a extrema-direita, mais reacionária xenófoba
e racista, para ele se deleitar em Conselho de Estado e em outros órgãos
democráticos do país. Dirá Marcelo que conseguiu o que Sá Carneiro ambicionava.
“Um presidente, uma maioria e um governo.” Se o conseguir, terá sido com
base em manobras inconstitucionais e antidemocráticas. Até parece coincidência,
mas a verdade é que Marcelo indigitou Luís Montenegro, «na calada da noite».
Sombrio, não é?
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