sábado, 17 de maio de 2025

 MORREU ‘PEPE’ MUJICA, UM SÍMBOLO DE HUMANIDADE

Nesta última terça-feira (13/05), morreu José Alberto Mujica Cordano, conhecido popularmente como “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, aos 89 anos.

"Pepe" Mujica, conhecido carinhosamente como "o presidente mais humilde do mundo", é uma figura emblemática de liderança e humanidade. Nascido em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Uruguai, Mujica viveu uma vida marcada por desafios, resiliência e um profundo comprometimento com a justiça social.

Mujica tornou-se um símbolo de humanidade não apenas pelas suas políticas, mas pelo seu discurso e exemplo de vida. Frequentemente, ele discursava sobre a importância da sobriedade, criticando o consumismo desenfreado e destacando a necessidade de os líderes políticos estarem próximos dos cidadãos comuns. A sua postura ética e o seu modo de vida austero inspiraram milhões à volta do mundo, reforçando valores de solidariedade, humildade e compromisso com a justiça social.

Após deixar a presidência, Mujica continuou a ser uma voz ativa em prol dos direitos humanos e da igualdade, mantendo a sua relevância no cenário internacional como um exemplo de liderança que prioriza o bem-estar coletivo sobre os interesses pessoais ou de poder. “Pepe” Mujica, com a sua trajetória única, não é apenas uma figura da política uruguaia, mas sim um verdadeiro símbolo de humanidade contemporânea.

A sua morte é uma perda irreparável

quinta-feira, 15 de maio de 2025

 PORTUGAL NA ENCRUZILHADA DA HISTÓRIA

Mais uma vez, Portugal, se vê numa situação difícil onde vai precisar de tomar uma decisão. As eleições legislativas antecipadas, para o corrente mês de maio, fruto de um desacerto democrático, colocou o país em rota de colisão com a democracia e o Estado de Direito. Sucessivas manifestações antidemocráticas, praticadas pelos órgãos de soberania, a começar pelo Presidente da República, desde novembro de 2023, ante uma maioria absoluta, foi o início de um período de degradação das instituições publicas e privadas, com laivos acentuados de preconceito, xenofobia, racismo e o desprezo pela imigração pobre. Aliás, neste ponto, o governo demissionário galgou a onda do protofascismo, acolitado pelos partidos de extrema-direita, parceiros de ocasião. Sem condições para resolver o problema dos indocumentados, o governo aceita que estes sejam «chupados até ao tutano», pelos seus apoiantes e, quando o assunto assume características de indigência gritante, a roçar a escravidão, responde com ordem de deportação. Ventos do mundo, sem dúvida. E memória curta ou falta dela. Portugal foi e ainda é um país eminentemente emigrante. Os portugueses da emigração foram das camadas mais pobres do país, que tal como agora, com outros povos, procuraram melhores condições de vida, em outros destinos.

Um dos capítulos mais marcantes da história da emigração portuguesa é seguramente o ciclo da emigração lusa para França nos anos 60, devido ao processo de reconstrução gaulês do pós-guerra, que em parte, foi suportado por um enorme contingente de mão-de-obra portuguesa pouco qualificada, que encontrou nos setores da construção civil e de obras públicas da região de Paris o seu principal sustento.

Num país estruturalmente condicionado pelo regime autoritário e conservador que vigorou em Portugal entre 1933 e 1974, a miséria rural, a ausência de liberdade, a fuga ao serviço militar e a procura de melhores condições de vida, impeliram entre 1954 e 1974, a saída legal ou clandestina, de mais de um milhão de portugueses em direção ao território francês. Este é um legado nosso, quer queiram quer não.

Mas este mesmo povo, em outras alturas, desbravou terras e mares e deu a conhecer ao mundo novos mundos. Esta circunstância singular de fazer das fraquezas forças, reflete-se nas nossas características e maneira de ser, sempre com o sinal menos de o coletivo interno ser maioritariamente incapaz de conduzir a resultados idênticos aos produzidos no exterior. Fora de Portugal, os portugueses sempre transformaram as suas fraquezas em força e determinação. Dentro de Portugal, os portugueses transformam as suas forças em fraquezas que se manifestam diariamente no domínio da política, da educação, da economia, do social e do humanitário.

Abril, abriu-nos a porta da esperança, de um país melhor, mais próspero e mais justo. Foi incomensurável, apesar de tudo, o caminho percorrido até aqui. Não podemos perder o que de tão precioso já conquistamos.   

 

sábado, 19 de abril de 2025

 Aos Meus Netos

 Aos meus netos, que sabem que o 25 de Abril não foi escrito por códigos ou algoritmos frios, mas por mãos que, cansadas de silêncio, arrancaram espinhos ao medo e plantaram cravos nos canos das espingardas. 

Nenhuma IA desenhou a coragem da madrugada em que os tanques viraram flores, nem programou o tremor das vozes que, em segredo, trocaram versos de resistência enquanto o rádio anunciava “Grândola” como senha. 

 A inteligência artificial não sonha. 

Não entende o cheiro da terra molhada após décadas de seca,

nem o peso das chaves atiradas às janelas quando o povo descobriu que as grades eram mentira. 

 Há histórias que só o sangue escreve:  o de Salgueiro Maia, pulsando nas têmporas, o das mães que costuraram bandeiras de esperança, o dos presos políticos que, mesmo sem luz, desenhavam liberdade nas paredes da cela. 

 Netos meus, guardem isto: 

o algoritmo não inventa abraços,

não tece a solidariedade das ruas,

não ouve o silêncio quebrado por uma canção. 

A revolução foi um suspiro humano,

um "até aqui" de gente comum

que ousou trocar ordens por perguntas. 

 E se um dia duvidarem,

lembrem-se: 

as máquinas não choram

quando leem cartas de exílio,

nem sabem o sabor do pão

partido em abril. 

 Porque a memória é um ato de resistência, o 25 de Abril não cabe em redes neurais:  ele é raiz, é cravo, é verso roubado ao esquecimento. 

E vocês, netos, são a prova viva de que a liberdade não se atualiza em softwares — renasce, sempre, nas mãos que a constroem. 

Para que nunca confundam a fria precisão das máquinas com o caos quente de sermos humanos.

 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

 A PULSÃO DOS PEDROS

Aceito que discutir o que escrevem os analistas ou afins da nossa política é passar ao lado do que é essencial. A verdade é que muitos analistas, cronistas e afins, acabam por falar do que é essencial, ainda que de forma canhestra ou comprometida. É o caso de Clara Ferreira Alves, no Expresso, na sua habitual coluna - Pluma Caprichosa. Também ela, em resumo, arfava pelo regresso de Pedro Passos Coelho (PPC).

No passado, outro Pedro, da mesma família política, provocava-lhe suores. Pedro Santana Lopes. Creio, certamente em erro, que não era pelo conteúdo, mas pela forma. Seja como for, os apaniguados juntam-se, para fazer saltar Montenegro e abrir a porta a PPC. Não sei se o professor está disponível para interromper a sua ‘brilhante’ carreira académica. Seja como for, eles querem. Há uma parte do PSD, saudosista, que nada mais vêm à sua frente, senão PPC. Veem nele as qualidades de líder que nenhum outro companheiro tem. Creio que tudo tem a ver com a sua qualidade de submissão à Troica e, sobretudo, a sua coragem para ir ‘além da troica’. Hoje, na Europa, quando se reflete sobre este período da crise financeira, e a forma como alguns países, incluindo Portugal, foram tratados pelas instituições europeias e internacionais, derramam-se ‘lágrimas de crocodilo’ sobre a bestialidade das políticas impostas e dos efémeros resultados das mesmas. Porém, há quem tenha gostado. São uma espécie de Malthusianos, dos nossos tempos.

 

 LIMPEZA ÉTICA – A OPORTUNIDADE PERDIDA?

Cada eleição antecipada, tem a sua história. A que vem aí, é fruto de uma promiscuidade entre a atividade política e atividade pessoal e profissional do primeiro-ministro, que levou à sua queda. O mais incompreensível é, conhecendo-se o que se conhece, Luís Montenegro, usar das regras da democracia para sufragar o seu comportamento, ou seja, submeter o governo de Portugal a uma moção de confiança, para legitimar comportamentos individuais do primeiro-ministro, encontrando-se estes desligados da governação. Falta de vergonha, só pode ser. Luís Montenegro, atingiu o ridículo ao usar um órgão de soberania, para cobrir as suas atividades privadas, intrinsecamente beneficiárias do seu trajeto político, até à denuncia, e só esta serviu para estancar a hemorragia de dinheiros públicos, semipúblicos ou privados, canalizados para a sua atividade individual e/ou familiar.

Pacheco Pereira, comenta que a apresentação de uma moção de censura por Montenegro foi um suicídio político. Aparentemente sim. Mas tudo indica que Montenegro estava (está) convencido de que nada de errado fez, por usar e abusar da sua condição político partidária, ao longo dos anos, para dai extrair benefícios pessoais e familiares. Uma situação muito comum, nos chamados advogados/políticos. Estão na política para servir o bem próprio em detrimento do bem comum. Há uma espécie de ideia de que esta «classe» beneficia de um estatuto ‘supra cidadão’. É curioso, que a nossa história deu exemplos marcantes de advogados que se dedicaram à defesa das liberdades e do bem comum, sem nada quererem para eles, pagando até, muitas vezes, com a sua própria liberdade.

Pelo contrário, esta «classe», nascida após Abril de 1974, não aprendeu nada, de sério. E, por isso, hoje, quer no governo do continente quer no governo da Madeira, temos dois advogados/políticos suspeitos de atividades do foro civil se não mesmo criminal. Politicamente, estão feridos mortalmente, e a ética obrigava a que abdicassem, mas não é isso que se passa. Por razões diversas, ambos se querem manter no poder, ambos concorrendo à reeleição. Um já foi reeleito. Mais uma vez, a justiça vai ter de esperar.

Esta seria a oportunidade única, para uma limpeza ética. Os portugueses têm a obrigação de punir os deputados delinquentes e os partidos que os apoiam bem como os políticos que andam nas margens da corrupção e se aproveitam sem escrúpulos do Estado de Direito Democrático, não os elegendo.

Na Madeira, decidiu-se manter o «status quo». Que assim seja.

 

 “AVERIGUAÇÃO PREVENTIVA” - A nova parceria pública ou privada (MP/Jornalistas)

Com a tomada de posse do novo procurador-geral da República, da escolha do já demissionário governo da AD, sem intervenção do PR, assistiu-se a uma ‘inovação’ no campo da investigação criminal, que dá pelo nome de “Averiguação preventiva”, procedimento administrativo preliminar usado para avaliar se há elementos suficientes para justificar a abertura de um inquérito. Este procedimento, de muito pouco uso, foi chamado ao multifacetado caso Montenegro, pois o MP entendeu que seria necessário recolher informações e provas antes da abertura formal de um processo penal.

Por aquilo que se percebe, o objetivo é determinar se há indícios suficientes para justificar a investigação ou acusação formal do primeiro-Ministro Montenegro.

Durante a averiguação preventiva, as autoridades podem utilizar diversas técnicas de investigação, respeitando sempre os direitos fundamentais dos cidadãos, como a garantia de presunção de inocência e o direito à privacidade. Esta fase é crucial para assegurar que apenas casos com fundamento suficiente avancem para a fase de investigação formal e, eventualmente, para julgamento.

Apesar da ‘inovação’, este procedimento tem a vantagem de não ter arguido e, consequentemente, medidas de coação, designadamente, o termo de identidade e residência. É, pois, um procedimento administrativo preliminar, muito próximo (salvas as devidas distâncias) do dito jornalismo de investigação. E foi assim que o Observador o interpretou. Daí, Luís Montenegro, se ter voluntariado para por à disposição o dossier com a ‘sua história’ ao dito Observador que, depois, certamente, o fará chegar ao tal procedimento administrativo preliminar, denominado, ‘averiguação preventiva’, conduzido (em princípio) pelo Ministério Público. Uma «Joint venture» perfeita. Que já deu frutos. O Observador, através do seu ‘inspetor’ Luís Rosa, fez publicar um extenso trabalho, baseado nos milhares de documentos que lhe foram facultados, de onde já extraiu algumas conclusões e interrogações, a mais significativa é “a de que a montanha de suspeitas pariu um rato?”

Esta interrogativa / conclusiva, parece ser uma violação da pareceria, que ainda dá os seus primeiros passos e já o parceiro, se apressou a tirar conclusões. Podemos admitir que Luís Montenegro deu primeiro os documentos ao Observador, por entender que este era mais lesto e despachado nas conclusões, obviamente, ‘impolutas’. Já o MP, que ainda analisa a documentação que dispõe (alguma ainda não lhe foi entregue, segundo o Expresso de 05-04-2025), será mais lento na apreciação ainda que possa com segurança chegar a mesma conclusão do Observador. Montenegro, não se pode queixar desta pareceria público/privada, que lhe é amiga. Primeiro, porque beneficiou, de um procedimento prévio, ao inquérito crime, o quem faz com que não tenha o estatuto de arguido nem sujeito a medidas de coação. Segundo porque este procedimento administrativo preliminar, conta com a colaboração insuspeita do Observador, e do seu ‘Inspetor’ Luís Rosa, um militante justicialista da escola de Cavaco Silva. Tudo, ‘bons rapazes’.

sexta-feira, 21 de março de 2025

 O QUE QUERES SER, QUANDO FORES GRANDE?

Há pais sem espírito crítico que levam o filho ao Ídolos, dizem que canta e não canta nada. Devemos amá-los, mas também ser críticos”. Esta frase é de Salvador Martinho, humorista português, dita no podcast da “Geração 80”, conduzido por Francisco Pedro Balsemão.

Eu como julgo saber do que ele está a falar, pus-me a pensar se os pais de Salvador Martinho, também não tiveram espírito critico, quando ele pensou abraçar a carreira de humorista, sabendo que o humor não abundava naquelas paragens. Pelo que ele diz, o pai sim, porém, a «A mãe sempre acreditou que o filho ia ser humorista». A Mãe a ser Mãe. Sempre foi assim e assim será ‘forever’. As Mães conseguem ter a bondade intrínseca de ver        qualidades nos filhos que outros não vêm. O miúdo pode fazer ou escrever umas graçolas, zás, é humorista. A verdade é que Salvador Martinho, mal ou bem lá vai andando na carreira de humorista. Esforçou-se, teve sorte, a Mãe nunca perdeu a fé no filho, e derrubou todos os obstáculos à sua frente? Fosse o que fosse, Salvador Martinha está na profissão onde (segundo ele) sempre quis estar. Não sei se foi sujeito a provas, audições ou qualquer outra situação do género. Sei que está onde está, porque alguém acreditou nele. A Mãe, pelo menos …

Por aqui perceberá, Salvador Martinho, que nem sempre é a falta de «espirito critico» dos pais, que alimentam o sonho de um jovem que deseja ser cantor. Estes sonhos, têm uma força inabalável, o que leva muitos jovens a insistir de uma maneira quase doentia, a prosseguir nesse sonho, não aceitando, que não o possam concretizar. Aliás, neste momento, Portugal vive um dos períodos mais pobres no campo das artes, não havendo sinais, de que a situação vá melhorar. A música, o teatro, a dança, a pintura, a escultura, a literatura, o humor, o cinema, a fotografia, o artesanato, etc., etc., vivem um período de fraqueza criativa e, salvo honrosas exceções, a maioria dos protagonistas, é de fraca qualidade. Como diria Salvador Martinho, não beneficiaram de um «espírito crítico» dos pais, ou, dito de outro modo, beneficiaram da bondade intrínseca das Mães. É a vida, como diria o outro …