quinta-feira, 15 de maio de 2025

 PORTUGAL NA ENCRUZILHADA DA HISTÓRIA

Mais uma vez, Portugal, se vê numa situação difícil onde vai precisar de tomar uma decisão. As eleições legislativas antecipadas, para o corrente mês de maio, fruto de um desacerto democrático, colocou o país em rota de colisão com a democracia e o Estado de Direito. Sucessivas manifestações antidemocráticas, praticadas pelos órgãos de soberania, a começar pelo Presidente da República, desde novembro de 2023, ante uma maioria absoluta, foi o início de um período de degradação das instituições publicas e privadas, com laivos acentuados de preconceito, xenofobia, racismo e o desprezo pela imigração pobre. Aliás, neste ponto, o governo demissionário galgou a onda do protofascismo, acolitado pelos partidos de extrema-direita, parceiros de ocasião. Sem condições para resolver o problema dos indocumentados, o governo aceita que estes sejam «chupados até ao tutano», pelos seus apoiantes e, quando o assunto assume características de indigência gritante, a roçar a escravidão, responde com ordem de deportação. Ventos do mundo, sem dúvida. E memória curta ou falta dela. Portugal foi e ainda é um país eminentemente emigrante. Os portugueses da emigração foram das camadas mais pobres do país, que tal como agora, com outros povos, procuraram melhores condições de vida, em outros destinos.

Um dos capítulos mais marcantes da história da emigração portuguesa é seguramente o ciclo da emigração lusa para França nos anos 60, devido ao processo de reconstrução gaulês do pós-guerra, que em parte, foi suportado por um enorme contingente de mão-de-obra portuguesa pouco qualificada, que encontrou nos setores da construção civil e de obras públicas da região de Paris o seu principal sustento.

Num país estruturalmente condicionado pelo regime autoritário e conservador que vigorou em Portugal entre 1933 e 1974, a miséria rural, a ausência de liberdade, a fuga ao serviço militar e a procura de melhores condições de vida, impeliram entre 1954 e 1974, a saída legal ou clandestina, de mais de um milhão de portugueses em direção ao território francês. Este é um legado nosso, quer queiram quer não.

Mas este mesmo povo, em outras alturas, desbravou terras e mares e deu a conhecer ao mundo novos mundos. Esta circunstância singular de fazer das fraquezas forças, reflete-se nas nossas características e maneira de ser, sempre com o sinal menos de o coletivo interno ser maioritariamente incapaz de conduzir a resultados idênticos aos produzidos no exterior. Fora de Portugal, os portugueses sempre transformaram as suas fraquezas em força e determinação. Dentro de Portugal, os portugueses transformam as suas forças em fraquezas que se manifestam diariamente no domínio da política, da educação, da economia, do social e do humanitário.

Abril, abriu-nos a porta da esperança, de um país melhor, mais próspero e mais justo. Foi incomensurável, apesar de tudo, o caminho percorrido até aqui. Não podemos perder o que de tão precioso já conquistamos.   

 

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