PORTUGAL NA ENCRUZILHADA DA HISTÓRIA
Mais uma vez, Portugal, se vê
numa situação difícil onde vai precisar de tomar uma decisão. As eleições
legislativas antecipadas, para o corrente mês de maio, fruto de um desacerto
democrático, colocou o país em rota de colisão com a democracia e o Estado de
Direito. Sucessivas manifestações antidemocráticas, praticadas pelos órgãos de
soberania, a começar pelo Presidente da República, desde novembro de 2023, ante
uma maioria absoluta, foi o início de um período de degradação das instituições
publicas e privadas, com laivos acentuados de preconceito, xenofobia, racismo e
o desprezo pela imigração pobre. Aliás, neste ponto, o governo demissionário
galgou a onda do protofascismo, acolitado pelos partidos de extrema-direita,
parceiros de ocasião. Sem condições para resolver o problema dos
indocumentados, o governo aceita que estes sejam «chupados até ao tutano»,
pelos seus apoiantes e, quando o assunto assume características de indigência
gritante, a roçar a escravidão, responde com ordem de deportação. Ventos do mundo,
sem dúvida. E memória curta ou falta dela. Portugal foi e ainda é um país
eminentemente emigrante. Os portugueses da emigração foram das camadas mais
pobres do país, que tal como agora, com outros povos, procuraram melhores
condições de vida, em outros destinos.
Um dos capítulos mais marcantes
da história da emigração portuguesa é seguramente o ciclo da emigração lusa
para França nos anos 60, devido ao processo de reconstrução gaulês do
pós-guerra, que em parte, foi suportado por um enorme contingente de
mão-de-obra portuguesa pouco qualificada, que encontrou nos setores da
construção civil e de obras públicas da região de Paris o seu principal
sustento.
Num país estruturalmente
condicionado pelo regime autoritário e conservador que vigorou em Portugal
entre 1933 e 1974, a miséria rural, a ausência de liberdade, a fuga ao serviço
militar e a procura de melhores condições de vida, impeliram entre 1954 e 1974,
a saída legal ou clandestina, de mais de um milhão de portugueses em direção ao
território francês. Este é um legado nosso, quer queiram quer não.
Mas este mesmo povo, em outras alturas,
desbravou terras e mares e deu a conhecer ao mundo novos mundos. Esta circunstância
singular de fazer das fraquezas forças, reflete-se nas nossas características e
maneira de ser, sempre com o sinal menos de o coletivo interno ser
maioritariamente incapaz de conduzir a resultados idênticos aos produzidos no
exterior. Fora de Portugal, os portugueses sempre transformaram as suas
fraquezas em força e determinação. Dentro de Portugal, os portugueses
transformam as suas forças em fraquezas que se manifestam diariamente no
domínio da política, da educação, da economia, do social e do humanitário.
Abril, abriu-nos a porta da
esperança, de um país melhor, mais próspero e mais justo. Foi incomensurável,
apesar de tudo, o caminho percorrido até aqui. Não podemos perder o que de tão
precioso já conquistamos.
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