𝐕𝐞𝐧𝐜𝐞𝐫 𝐚 𝐃𝐞𝐦𝐨𝐜𝐫𝐚𝐜𝐢𝐚 𝐩𝐞𝐥𝐨 𝐂𝐚𝐧𝐬𝐚𝐜̧𝐨 – 𝐎 𝐭𝐫𝐢𝐬𝐭𝐞 𝐞𝐱𝐞𝐦𝐩𝐥𝐨 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮ês
Com o maquiavelismo que se lhe conhece, Marcelo Rebelo de Sousa, no lugar que ocupa, conseguiu descaracterizar o regime democrático e levar ao cansaço, desânimo e resignação do povo português, após as sucessivas ‘paragens’ da democracia e as intermináveis eleições antecipadas, como fonte de descrédito, calculado e pensado, para os objetivos inconfessáveis de enfraquecimento do regime democrático e ressurgimento das vias autoritárias e populistas de onde emergiu. Objetivos conseguidos.
O autoritarismo avança não por superioridade ideológica, mas pela ‘exaustão dos cidadãos’, perante conflitos incessantes, polarização e ineficiência governamental. Agressores políticos exploram a fadiga social para impor agendas, enquanto democratas buscam conciliação, muitas vezes cedendo por esgotamento. Este é um fenómeno global, observado em muitos países, incluindo europeus, onde as instituições democráticas foram "capturadas" gradualmente, transformando incredulidade inicial em resignação. Pandemias, recessões e instabilidade social, amplificam a vulnerabilidade ao discurso simplista, enquanto cidadãos sobrecarregados buscam soluções imediatas.
PS e PSD, usando a ‘tática do
espantalho’ alimentaram o 𝐶ℎ𝑒𝑔𝑎
para fragmentar rivais, replicando a estratégia de Mitterrand com a Frente
Nacional em França. Resultado: Ventura saltou de 48 para 58 deputados (2025),
normalizando discursos xenófobos e punitivistas. A cobertura sensacionalista de
escândalos e a ‘banalização do extremo’ saturaram a opinião pública, gerando
apatia ou adesão a "soluções simples".
Acentua-se a crise existencial do Estado, pela mediocridade dos seus responsáveis políticos, a que acresce uma burocracia asfixiante, uma justiça lenta e serviços públicos em colapso (saúde, transportes), que geram frustração diária. Portugal ocupa a 45ª posição em eficiência laboral (IMD Competitiveness Ranking). As oscilações ideológicas em políticas essenciais (habitação, energia) criam insegurança jurídica.
Há que, rapidamente, reconstruir a confiança, apostando em lideranças "sóbrias", como propõe Pierre Rosanvallon, em resposta ao autoritário "bêbado de poder", o que exige firmeza sem agressividade. Há que valorizar o diálogo institucional, escolhendo o Parlamento como espaço de mediação, não palco de guerras performativas. Há que pugnar pela defesa cultural da democracia, usando a memória como antídoto. Relembrar que em 1974, o “25 de Abril é liberdade" (contra a ditadura) o que contrasta com discursos ocos atuais. Sem essa consciência histórica, o populismo prospera. Fomentar o ‘ócio criativo’ (Stevenson) e a arte como resistência ao cansaço produtivista que esvazia a ação política.
Portugal sintetiza o risco mortal das democracias tardias. A convulsão entre o ‘cansaço das promessas não cumpridas’ e a sedução do atalho autoritário. O país não está só – Hungria, Brasil e EUA, entre outros, compartilham esta encruzilhada –, mas a sua queda seria trágica por ser previsível. Como alerta Sant'Anna, “𝑎 𝑑𝑒𝑚𝑜𝑐𝑟𝑎𝑐𝑖𝑎 𝑡𝑒𝑚 𝑓𝑟𝑎𝑔𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑡𝑟𝑖́𝑛𝑠𝑒𝑐𝑎: 𝑒𝑙𝑎 𝑒́ 𝑓𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒𝑠”. Sua defesa exige mais que instituições: requer cidadãos incansáveis.
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