UM TEXTO PARA ‘ABRIL’, EM VÉSPERAS DE ANIVERSÁRIO
Eh pá, estás jovem. Cinquenta
anos, quem diria!
Ainda ontem apenas se sonhava
contigo e hoje comemoramos o teu meio século de “vida”. É obra!
Quis o ‘destino’, porém, que a
comemoração do teu meio século de ‘vida’, fosse celebrado em ambiente político cinzento,
retirando cor e alegria à festa da liberdade.
Muitos tentarão reduzir a festa
ao mínimo e contam com as atuais autoridades políticas para o efeito, também
elas, sedentas do silêncio de Abril. É irónico, que quem não queria a festa, se
veja envolvido na sua organização.
Ouvi um jovem intelectual, numa
rede social que não lembro qual, que dizia mais ou menos o seguinte: “Hoje o 25 de abril tornou-se uma
coisa intocável, de que não se pode dizer mal. É como se fosse uma religião, já
está ultrapassado.”
Não me detive a verificar quem
era o sujeito, nem isso agora conta para este meu comentário. Porém,
impressiona-me o facto de haver jovens adultos que não saibam dar valor ao 25
de Abril e a tudo aquilo que ele representou e representa para a esmagadora
maioria do povo português. Impressiona-me o facto de esta minoria ainda não ter
percebido que sem o 25 de Abril, as suas ideias, crenças, e forma de vida,
estariam totalmente condicionados à sua situação social e de classe, o que
porventura, os teriam limitado, inclusive, na palavra. As imperfeições de
Abril, que as há, resultam do facto de as transformações iniciais e
posteriores, terem sido protagonizadas por homens e mulheres que com o seu
voluntarismos, espírito de missão, forças e fraquezas, lutaram para que aos
portugueses fossem devolvidos os seus mais elementares direitos, numa sociedade
livre e democrática. Não perceber isto, 50 anos depois, é uma falha grave que devemos
assacar à nossa democracia e aos responsáveis políticos que durante este meio
século não a souberam cuidar diligentemente. Mas o balanço, em geral, é
largamente positivo. E é largamente positivo em relação ao que tínhamos e ao
que teríamos se nada fosse feito. Foi preciso, um punhado de jovens militares,
terem a coragem de, em 25 de Abril de 1974, derrubar o regime da ditadura e
criarem as bases para a instauração do regime democrático que vigora até hoje.
Todos aqueles que querem um Portugal sem História, dificilmente dela farão
parte. As liberdades conquistadas, são um bem precioso que não podemos deixar
que se ponham em causa, por mais queixas e lamentos que se tenham. Cinquenta
anos depois, felizmente, não vivemos orgulhosamente sós. Somos uma democracia da Europa ocidental,
membro de um projeto político mais alargado, que é a União Europeia, e um dos
subscritores mais antigos da carta das Nações Unidas, participando no objetivo
da ONU que é o de unir todas as nações do mundo em prol da paz e do
desenvolvimento, com base nos princípios da justiça, dignidade humana e no
bem-estar de todos. O 25 de Abril foi uma conquista civilizacional do povo
português que ombreia com algumas outras de significado extraordinário para
Portugal e para o mundo.
Por todas estas razões, aos que
querem apagar a memória de Abril, fica a certeza de o não conseguirem pela
razão simples de o povo português ser uma amante incondicional da liberdade e
democracia e um fiel depositário dos valores da solidariedade, fraternidade e
igualdade, um legado indiscutível do 25 de Abril de 1974.
Parabéns e conta muitos, com a
energia do primeiro dia!