Após o movimento citadino “A Pão e Água”, projeta-se (com justiça, diga-se!) a criação metafórica de um movimento, nascido nas periferias das grandes cidades, nas vilas e aldeias, que se pretende denominar “Sopa de Cavalo Cansado”, em homenagem à triste lembrança de um Portugal (ainda mais) pobre e distante, em que os tempos difíceis vividos pelos portugueses, levavam a uma alimentação pobre e pouco saudável, de que a maioria desta restauração, sem “Chief”, mas de cozinheiros e cozinheiras de mão cheia, são o seu exemplo atualizado. Quem não admira e saboreia a nossa gastronomia regional portuguesa? E os petiscos das nossas tascas? E as pequenas casas de pasto? E as tabernas? Esta gente, com os seus pequenos negócios, estarão a ser ajudados? Saberão eles pedir ajuda? Terão eles acesso às ajudas? É que estes, ao contrário daqueles, não podem vir para Lisboa ou para o Porto, fazer greve de fome, pela simples razão de que o negócio são eles (mulher e filhos). Esta gente não se pode dar ao luxo de parar a atividade, mesmo no pouco tempo que estão abertos (como os demais), porque não têm almofada ou acesso ao crédito. Como dizem, “é chapa ganha, chapa gasta”. Assim, esta franja enorme da pequena restauração, está longe dos holofotes dos “Chefs” e das suas preocupações, que se guiam por outras métricas e outros valores.
Seria muito importante que o projetado Movimento (metafórico), “Sobreviver a sopas de cavalo cansado”, tivesse uma ajuda condigna, nestes tempos de pandemia, por forma a não caírem no malfadado “pão e água”.
Afinal, todos têm direito a manifestar-se da forma que quiserem e muito bem entenderem, só que tal não pode querer dizer que as graves condições em que vive o setor da restauração (e não só, claro!), se encontram ali representados. Longe disso.
Grande parte dos “grevistas”, são empresários, bem-sucedidos, é certo, porque “Chefs” de mérito, o são, também. Mas a verdade é que a esmagadora maioria da restauração em Portugal, não se fez ouvir nem tem forma de o fazer. Para esses, deverão ser as autarquias locais a prestar-lhes apoio, mais que não seja através da criação de pontes com o governo, que permitam àqueles beneficiar daquilo que hoje, provavelmente, desconhecem, que têm direito.
E esta é a grande diferença, entre aqueles que têm voz e sabem fazê-la ouvir e aqueles que tende voz, também, não se sabem fazer ouvir. E não sabem, porque tradicionalmente fazem parte dos excluídos do debate. Para estes, o microfone está desligado.
São inúmeros os setores e profissões afetadas por esta crise de saúde pública. Sem dúvida que o setor da restauração tem sido afetado de sobremaneira. E as atividades artísticas, criativas e de espetáculos? E a hotelaria? E o transporte aéreo? E as atividades assentes essencialmente na exportação (têxtil e automóvel)? E os cuidados de saúde, a logística e o retalho alimentar, enfim, são tantos os setores (e profissões) afetados pela pandemia que é particularmente injusto falarmos de uns e não dos outros.
Mas grave mesmo, muito grave, são aqueles que apanhados pela pandemia perderam os seus empregos, fecharam os seus negócios, perderam família e amigos, adoeceram com o Covid-19 ou por causa dele faleceram.
Na pandemia, não dá dividir para reinar. É muito pouco ético e seguramente desumano.
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