“Isto é mesmo gozar com quem trabalha”. Ora, reparem.
O programa televisivo “Governo
Sombra” (GS), que nasceu inicialmente na TSF, como programa da rádio e,
posteriormente, por força da compra da TSF pelo grupo TVI, passou a ser televisionado
neste canal durante alguns anos. Depois, aparentemente, com base na «lei da
oferta e da procura», a equipe do (GS) rumou à SIC, onde hoje “atua”, todas as
sextas-feiras/sábados. Nada disto, merecia grandes apontamentos. já que se
trata de atividades privadas, em televisões privadas e financiadas por privados.
Será? Pois não é. E aqui é que está o busílis e o escândalo.
Quem se quiser dar ao trabalho de ler
a página da internet do IMPIC (Instituto dos Mercados Públicos do Imobiliário e
da Construção), sem ser exaustivo, constatará que, em 01/10/2019, em 16/10/2019
e em 03/12/2019, foram celebrados contratos
públicos de aquisição de serviços, com o objeto “Gravação do programa
televisivo "Governo Sombra" no âmbito do …” , que se cifram no
total de 50.000 euros, isto num universo de mais de 500.000 euros de contratos
públicos de publicidade na TVI em 2019 e 2020. “Isto é mesmo gozar com quem
trabalha”!
Claro que o “Governo Sombra”, já
não está na TVI. Agora está na SIC, patrocinado pelo “Casinos Solverde”. Também
aqui, “isto é mesmo gozar com quem trabalha”. Ora, vejam. Desde março de
2020, que os “Casinos Solverde” dos 1063 trabalhadores, que têm ao seu serviço,
colocou em lay-off 947, ou seja, quase 100% da sua
força de trabalho. Como se sabe o lay-off, representa uma despesa
para o Estado (Segurança Social) e por trabalhador de cerca 70%, do salário de
cada um. É fácil de ver, que uma empresa que coloque em lay-off, quase todos os
seus trabalhadores, pode dar-se ao luxo de patrocinar um programa de televisão
privado. Indiretamente (ou não, sabe-se lá), o Estado Português financia o patrocínio
dos “Casinos Solverde” ao programa “Governo Sombra”, na SIC. Digam-me lá, se “Isto
[não] é mesmo gozar com quem trabalha”?
Evidentemente, que não me movem
quaisquer sentimentos negativos quer quanto ao programa, quer quanto aos seus
intervenientes. Claro que fico incomodado, com aqueles que dentro do programa
fazem a apologia neoliberal de direita radical, de negação do papel do Estado
em “tudo o que mexa” e, vai-se a ver, auferem e acumulam rendimentos à
custa da participação direita ou indireta dos dinheiros do mesmo Estado, nas
suas diversas dimensões.
E ainda mais gritante é o facto de
o Estado, em plena crise de saúde pública, canalizar recursos que não tem, com
a finalidade de ajudar as empresas a manter os seus postos de trabalho e a sua
atividade, e estes recursos serem desviados (direta ou indiretamente), para
fins totalmente contrários à sua finalidade.
Este seria só por si razão e fundamento
para retirar quaisquer apoios àquela entidade, não sei mesmo se com a obrigação
de devolver tudo o que recebeu.
Quanto ao programa (GS) da SIC,
que quer aqui quer na TVI tem recebido apoios diretos e indiretos do Estado,
está na altura dos donos das respetivas estações televisivas, “fazerem-se à
estrada”, e cativarem outros privados que sem a “bengala pública”, patrocinem
os programas que muito bem entenderem.
Aos neoliberais de direita radical
existentes no programa (GS), está na hora de se retratarem e rumarem à iniciativa
privada (sem a “bengala pública”), ai ganhando o seu sustento sem se
locupletarem à custa do Estado e daqueles que dele dependem.
Digam lá, se “Isto [não] é mesmo gozar com
quem trabalha” ?
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