É usual ouvirmos (lermos) esta expressão, quando alguém em lugar de poder tenta justificar o injustificável ou pior ainda faz ou pretende fazer dos seus ouvintes (ou leitores) uns “totós”. Vem isto a propósito, do discurso do Presidente da República no 05 de outubro, quando a dado passo do seu discurso pediu cautelas éticas na aplicação de fundos europeus contra a "corrupção, clientelismos e compadrios".
António Costa, e bem, já lhe
respondeu: O primeiro-ministro […] está indisponível para governar com
suspeitas sobre o uso de dinheiros públicos e defendeu que é "o primeiro
interessado" numa lei de contratação pública do parlamento que dê
garantias de confiança.
Este confronto do Presidente com
o Primeiro Ministro, nada tem a ver com o processo de confiança e desconfiança
existente entre ambos. Se fosse isso, estávamos bem. O confronto é mais
ideológico. O Presidente, está a dar voz ao seu setor politico da direita
democrática que reclama que a «pipa de massa» que vem de Bruxelas, não
seja “desperdiçada” maioritariamente no
setor pública, mas antes e sobretudo no setor privado, esse sim, o “motor”
da economia e o único capaz de vencer a crise económica em que vivemos, no
dizer de alguns “papalvos”.
Aliás, já José Gomes Ferreira
dizia na SIC “que em toda a economia Ocidental, a história provou que o
Estado como agente económico que quer ser o único a mandar em tudo, deu
asneira, não há outra maneira de dizer isto, porque caímos numa economia
planificada e aquilo que é o dinamismo da sociedade, desaparece.”
Hoje (10/10/20) o Expresso, vem recheadíssimo
de prosas neoliberais, que desesperam pelo destino dos fundos comunitários que
estão para chegar ao nosso país, e acirram os ânimos dos rentistas para travar
ou impedir, que os mesmo seja utilizados pelo setor publico da economia em
detrimento do setor privado, esse sim, como dizem, o grande motor da
recuperação económica, social e até,
imaginem, da saúde publica.
Neste particular, da saúde publica,
convém recordar que quer no auge da pandemia quer ainda hoje, o setor privado
da saúde “saltou fora”. Isto é fechou portas, recambiando os doentes para o
Serviço Nacional de Saúde (SNS). O desplante destes minorcas do neoliberalismo
português só tem paralelo, para mim, com os “bufos” da PIDE/DGS. Poder-se-á
dizer, que exagero. Admito. Mas sinceramente, perante uma enorme e inesperada
crise de saúde pública em que o nosso país (também) se viu envolvido, estes minorcas
do neoliberalismo, cujas famílias rastejam pelos serviços públicos de saúde,
continuam com o seu discurso de elevar o sector privado ao papel de “grandes
salvadores” da crise que atravessamos.
É claro que isto é uma
mistificação e é exemplo do vazio que esta direita neoliberal e protofascista,
tem para oferecer ao nosso país.
Estes defensores do sector
privado para vencer a crise, são os mesmos que acreditaram que a PT, a Somague,
o BPN, o BES, o Banco Privado, o BANIF, a SIVA, a Cofina, a TAP, a Soares da
Costa e tantos outros, eram os grandes “motores de arranque” da economia
portuguesa. Hoje, sabe-se, que foram dos maiores sorvedouros dos recursos
públicos (in) existentes no nosso país.
Ainda hoje pagamos a fatura.
Não é por acaso que o insuspeito
neoliberal de cátedra, Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças da “Troika” em
Portugal, vem agora defender (ver caderno de Economia do Expresso de 10/10), um
aumento da despesa pública (em particular do investimento) como alavanca para
relançar o crescimento, segundo novo apelo feito a semana que passou, num
artigo que publicou no blogue do FMI.
É claro que outras vozes, bem
mais autorizada, quer na Europa quer no mundo, vêm sugerindo uma maior intervenção
da despesa pública, como forma de vencer a crise económico-social, emergente da
pandemia do Covid-19.
É, por isso, dececionante ler
estes minorcas do neoliberalismo, que a única receita que têm é a apologia do
setor privado Hiper dependente do Estado em detrimento de um amplo e abrangente
Estado de bem-estar social sem renegar aos fundamentos
económicos do livre mercado.
Vencer a crise económico-social
provocada pela pandemia do Covid-19, exige a repulsa dos egoísmos privados e
uma atenção concentrada nas vítimas desta crise que acrescentam às vítimas da
crise do «subprime» de 2008.
Portugal tem taxas de pobreza e
de exclusão social de tal forma gritantes que perder a oportunidade de inverter
esta tendência, com os fundos comunitários que aí vêm, é sim, um crime público
de proporções gigantescas.
Os políticos que estão atualmente
no governo devem mostrar maior capacidade para inverter o curso da história e
de uma vez por todas romperem com o marasmo das reformas de fundo que passam
por implementar um verdadeiro Estado de
bem-estar social, exigência mínima, quarenta e seis anos depois do 25 de abril
de 1974.
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