sábado, 10 de outubro de 2020

“𝐂𝐚𝐧𝐭𝐚𝐬 [𝐟𝐚𝐥𝐚𝐬] 𝐛𝐞𝐦, 𝐦𝐚𝐬 𝐧ã𝐨 𝐦𝐞 𝐚𝐥𝐞𝐠𝐫𝐚𝐬”

É usual ouvirmos (lermos) esta expressão, quando alguém em lugar de poder tenta justificar o injustificável ou pior ainda faz ou pretende fazer dos seus ouvintes (ou leitores) uns “totós”. Vem isto a propósito, do discurso do Presidente da República no 05 de outubro, quando a dado passo do seu discurso pediu cautelas éticas na aplicação de fundos europeus contra a "corrupção, clientelismos e compadrios".

António Costa, e bem, já lhe respondeu: O primeiro-ministro […] está indisponível para governar com suspeitas sobre o uso de dinheiros públicos e defendeu que é "o primeiro interessado" numa lei de contratação pública do parlamento que dê garantias de confiança.

Este confronto do Presidente com o Primeiro Ministro, nada tem a ver com o processo de confiança e desconfiança existente entre ambos. Se fosse isso, estávamos bem. O confronto é mais ideológico. O Presidente, está a dar voz ao seu setor politico da direita democrática que reclama que a «pipa de massa» que vem de Bruxelas, não seja “desperdiçada”  maioritariamente no setor pública, mas antes e sobretudo no setor privado, esse sim, o “motor” da economia e o único capaz de vencer a crise económica em que vivemos, no dizer de alguns “papalvos”.

Aliás, já José Gomes Ferreira dizia na SIC “que em toda a economia Ocidental, a história provou que o Estado como agente económico que quer ser o único a mandar em tudo, deu asneira, não há outra maneira de dizer isto, porque caímos numa economia planificada e aquilo que é o dinamismo da sociedade, desaparece.

Hoje (10/10/20) o Expresso, vem recheadíssimo de prosas neoliberais, que desesperam pelo destino dos fundos comunitários que estão para chegar ao nosso país, e acirram os ânimos dos rentistas para travar ou impedir, que os mesmo seja utilizados pelo setor publico da economia em detrimento do setor privado, esse sim, como dizem, o grande motor da recuperação económica, social e  até, imaginem, da saúde publica.

Neste particular, da saúde publica, convém recordar que quer no auge da pandemia quer ainda hoje, o setor privado da saúde “saltou fora”. Isto é fechou portas, recambiando os doentes para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O desplante destes minorcas do neoliberalismo português só tem paralelo, para mim, com os “bufos” da PIDE/DGS. Poder-se-á dizer, que exagero. Admito. Mas sinceramente, perante uma enorme e inesperada crise de saúde pública em que o nosso país (também) se viu envolvido, estes minorcas do neoliberalismo, cujas famílias rastejam pelos serviços públicos de saúde, continuam com o seu discurso de elevar o sector privado ao papel de “grandes salvadores” da crise que atravessamos.

É claro que isto é uma mistificação e é exemplo do vazio que esta direita neoliberal e protofascista, tem para oferecer ao nosso país.

Estes defensores do sector privado para vencer a crise, são os mesmos que acreditaram que a PT, a Somague, o BPN, o BES, o Banco Privado, o BANIF, a SIVA, a Cofina, a TAP, a Soares da Costa e tantos outros, eram os grandes “motores de arranque” da economia portuguesa. Hoje, sabe-se, que foram dos maiores sorvedouros dos recursos públicos (in) existentes no nosso país.

Ainda hoje pagamos a fatura.

Não é por acaso que o insuspeito neoliberal de cátedra, Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças da “Troika” em Portugal, vem agora defender (ver caderno de Economia do Expresso de 10/10), um aumento da despesa pública (em particular do investimento) como alavanca para relançar o crescimento, segundo novo apelo feito a semana que passou, num artigo que publicou no blogue do FMI.

É claro que outras vozes, bem mais autorizada, quer na Europa quer no mundo, vêm sugerindo uma maior intervenção da despesa pública, como forma de vencer a crise económico-social, emergente da pandemia do Covid-19.

É, por isso, dececionante ler estes minorcas do neoliberalismo, que a única receita que têm é a apologia do setor privado Hiper dependente do Estado em detrimento de um amplo e abrangente Estado de bem-estar social sem renegar aos fundamentos económicos do livre mercado.

Vencer a crise económico-social provocada pela pandemia do Covid-19, exige a repulsa dos egoísmos privados e uma atenção concentrada nas vítimas desta crise que acrescentam às vítimas da crise do «subprime» de 2008.

Portugal tem taxas de pobreza e de exclusão social de tal forma gritantes que perder a oportunidade de inverter esta tendência, com os fundos comunitários que aí vêm, é sim, um crime público de proporções gigantescas.

Os políticos que estão atualmente no governo devem mostrar maior capacidade para inverter o curso da história e de uma vez por todas romperem com o marasmo das reformas de fundo que passam por implementar um  verdadeiro Estado de bem-estar social, exigência mínima, quarenta e seis anos depois do 25 de abril de 1974.  

   

 

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