Como pretendestes esperar outra coisa do vosso Presidente da República, quando Deus vos abandonou, na sua própria casa, ainda na flor das vossas vidas? O que vos levou a pensar que o vosso Presidente da República iria ter compaixão por um pequeno grupo de quatrocentas e tal crianças abusadas sexualmente no seio da igreja católica? Porque vos julgais tão importantes? Sabeis, por acaso, que “um universo de pessoas que se relacionam com a igreja católica [na ordem] de milhões de jovens ou muitas centenas de milhares de jovens. Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado porque noutros países com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”, disse o Chefe de Estado. “Crescei e multiplicai-vos” e então sim, mereceis a atenção, aqui na terra, do vosso Presidente da República. Nesta conceção presidencial, pelo que passastes, doloroso é certo, ainda não dá para a categoria de crime. Falta-lhe quantidade. Vós pensais que bastava um caso, para logo ser considerado crime hediondo? Pensastes bem. Contudo, isso é na versão da lei penal. Na versão presidencial, falta-lhes número. A chave do crime de abuso sexual de menores na igreja católica, é, portanto, a quantidade, na visão presidencial. Assim sendo, vós nem sequer à categoria de mártires, ascenderam, pois não está provado que preferiram sacrificar o vosso corpo a renuncia à vossa fé. Não. O vosso corpo foi violado sexualmente, por uma cambada de criminosos, que deveriam arder na fogueira da inquisição. Mas tal não acontece, porque vós sois poucos. E assim sendo, os criminosos têm ‘direito’ ao anonimato e vós o direito ao esquecimento. A menos que decidam lutar até à exaustão. Nesse caso, ao Presidente, respondem: “antes quebrar que torcer!". Mas cuidado, o terreno está minado. O senhor Presidente da República é um devoto cristão, disposto a sacrificar-se, pela sua igreja. E como ele há um número exponencial de cristãos disposto a defender o “templo”. Vós, para eles, não sois vítimas: sois fruto do acaso das circunstâncias da época.
Revoltem-se, exijam justiça, não
aceitais a resignação como método sugerido. Tudo o que puderes fazer hoje,
servirá de purificador para o futuro nessa e em outras instituições.