Está lançado o mote de ataque à pandemia do Covid-19, em Portugal. A criação de um governo de salvação nacional. Quem são os obreiros desta variante governativa, aqui vão: Pedro Santana Lopes, o “hibrido”, Miguel Sousa Tavares, o “inconstante”, João Vieira Pereira, “o diretor” e, naturalmente, André Ventura, o facho, pois não haverá governo em Portugal sem a presença do “chega, segundo diz.
Será
nisto que estão a pensar os «opinion makers» e os «opinion leaders»? Um grande
governo de “salvação nacional” à direita e à extrema direita do espectro
político partidário português? “É bom que ouçam aquelas 500 mil cruzes”,
diz o “diretor”. E diz mais: “Não acordamos um dia e descobrimos que há 500
mil fascistas em Portugal”. É evidente, que o “diretor” é novo, talvez
produto do 21 de abril de 74, e, portanto, sem conhecimento efetivo das
vivências em ditadura e dos pensamentos únicos em “união nacional”, que
governaram este país, em quase cinco décadas. É claro que nas escolas por onde
andaram, ouviram e estudaram (?) estes períodos políticos portugueses. Pouca
atenção devem ter dado a esta matéria. Senão, não teriam dúvidas, que o
Portugal democrático nascido em 25 de abril de 1974, comporta dentro de si, um
número significativo de antidemocratas e grandes apoiantes das ideologias de
extrema direita e de cariz fascista. Não se manifestaram tão abertamente como
hoje, porque os tempos eram outros e as cicatrizes estavam ainda muito vivas.
Mas eles estavam cá, quer pelos genuínos quer pelos seus herdeiros. Todos sabíamos
disso. Mas enquanto os partidos do sistema iam reunido em si, as clivagens da
sociedade portuguesa, tudo se esbatia sobre o “manto da democracia”. As crises
de 2008 e agora a de 2020, propiciaram o aparecimento na Europa e nas Américas,
de verdadeiros populistas, nacionalistas, xenófobos e racistas, à frente dos
respetivos governos. Esta onda, serviu de pasto aos protofascistas da Hungria,
da Itália, de Espanha, de Portugal, etc. E as eleições legislativas de 2019,
traduziram este “boom”, da extrema direita, no nosso País.
Menos
de dois anos depois, já se apela a “governos de salvação nacional”, querendo
com isto significar que a onda populista, xenófoba e racista, julga ter chegado
a hora de trazer a direita e a extrema direita para o poder. Miguel Sousa
Tavares, lembra o episódio de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polónia,
tornando inevitável a declaração de guerra das potências aliadas e a [inevitável]substituição
do primeiro ministro inglês (Chamberlain) por Winston Churchill. Esta
comparação, entre aqueles factos e os factos causados pela pandemia do coivd-19,
que justificariam a substituição do governo atual por um governo de “salvação
nacional”, é abusiva e até incompreensível no campo democrático. De resto,
basta olhar para o que se passa à nossa volta, para já na Europa, para ver que
não tem sido necessário recorrer ao conceito de “governo de salvação nacional”,
para combater a crise. Os principais partidos do sistema democrático, têm dado
o seu apoio critico ao combate à pandemia, todos, sem exceção, com a presunção
de que fariam melhor. Claro que as dúvidas são muitas. Desde logo, porque boa
parte da direita em Portugal, não é propriamente fã do SNS, o que nos leva à
interrogação legitima, de como teria sido este combate à pandemia, sem o apoio
governamental efetivo, ao Serviço Universal de Saúde e baseado apenas, na lei
da oferta e da procura. Todos se lembram da “pobreza regeneradora”, como lema
de um governo de direita ultraliberal em Portugal. Não foi há muito!
Aliás,
hoje, basta ouvir os bastonários das Ordens Profissionais da área da saúde (e
não só), para se perceber que o combate político é feito com todas as armas ao
dispor, sejam elas legitimas ou ilegítimas. E aqui não tem havido
contemplações. Trate-se de morte ou não, isso é indiferente, para esta gente.
Esqueçam
a “salvação nacional”. Basta não deitar petróleo na fogueira…