Em vésperas de mais um aniversário do 25 de abril de 1974, alguns jornais fazem eco de que o cravo murchou, numa simbologia de que a nossa democracia está doente e pouco apelativa. Alguns de nós não deixará de aceitar que, como dizia Melo Antunes, no décimo aniversário da revolução de abril, «O 25 de Abril era a grande oportunidade histórica de transformarmos a realidade portuguesa no sentido de uma sociedade mais justa e mais livre.»
Estes
nossos heróis de abril tinham um sonho para Portugal, que não se bastava por
devolver a liberdade a cada um de nós, mas igualmente, para se criarem
condições para construir uma sociedade mais justa, mais tolerante e mais
igualitária. Como declarou o Bispo D. Januário Torgal Ferreira, aquando da
comemoração dos quarenta anos do 25 de abril “Só quem se sente incomodado ao
ouvir falar em direitos humanos, exercício da democracia, justiça social, na
miséria, no desemprego, no desfasamento de classes, na promoção de cada mulher
e cada homem, esses julgam que os ideais de Abril já fizeram o seu tempo.”.
Realmente,
hoje, em Portugal, existem grupos organizados e inorgânicos que ameaçam
explicitamente o exercício da democracia e dos direitos humanos, erigindo as
bandeiras do racismo, da xenofobia e da discriminação racial, com a cobertura e
financiamento das centrais internacionais do populismo e do protofascismo. Já
com assento no parlamento português, estas bactérias infetam diariamente o
tecido político e social da nossa democracia e, ainda que timidamente, vão
recebendo o apoio de alguns dos partidos da nossa democracia. Nenhum dos intérpretes
da democracia nascida em 25 de abril de 74, imaginou que, 47 anos depois, a
classe política portuguesa tivesse gerado tantos anticorpos ao sistema
democrático, ao ponto de o colocar em causa. A verdade é que, nos últimos 30
anos, o regime democrático foi sendo engolido por uma onda gigante de corrupção,
com forte expressão na classe política, que corroeu os alicerces da democracia
e minou a confiança dos cidadãos.
Porém,
reconheça-se que se deve continuar a preferir a democracia, mesmo a mais imperfeita,
à ditadura.
Saudemos,
por isso, o 25 de abril de 1974.
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