As narrativas saídas da pandemia
do Covid-19 sobre os Lares, é de uma hipocrisia sem limites. A grande maioria
dos portugueses de certa idade têm ou já tiveram familiares, amigos ou
conhecidos em Lares. Certamente ainda terão hoje. Quem frequentou Lares de
idosos, seja em visita ou noutra circunstância qualquer, sabia de saber feito,
que na generalidade dos casos os Lares eram depósitos de idosos, com
fraquíssimas condições de toda a espécie e de vigilância médica, pura e
simplesmente, inexistente. Cada idoso “depositado” em Lar, recebia melhor ou
pior tratamento quanto maior ou menor fosse a presença de familiares. Os Lares
em Portugal (não sei como é no resto dos países), na sua esmagadora maioria,
não têm pessoal especializado, para as diversas funções que são exigidas. O
depósito de “velhos” sempre foram ignorados por todos. Instituições públicas,
privadas, solidariedade social, familiares, enfim, como diria o outro, tudo o
que mexe. Mas as autoridades de saúde nacionais, regionais e locais, também não
andam por ali. E porquê? Porque esta área está entregue à Segurança Social,
entidade a quem compete fiscalizar e acompanhar os ditos Lares. Os serviços de
saúde ficam à margem, mas mal como se viu e vê. Só estão presentes para atestar
o óbito. O subdelegado de saúde é uma entidade intermitente, no acompanhamento
destes Lares. Há Lares onde nunca apareceu. Só assim se explica, por exemplo, que
em Reguengos, a “grande maioria dos idosos tinha diversas patologias
crónicas e várias agudizações recentes: múltiplos casos de desidratação,
hipotensão, infeções urinárias, descontrolo glicémico; que desde que os doentes
foram transferidos para o pavilhão, não houve apoio presencial de médico
hospitalar (Medicina Interna), mantendo-se contacto telefónico quando é necessário
transferir algum doente".
É claro que há responsabilidade
da direção técnica da instituição, mas também das autoridades de saúde locais e
centrais, pois não basta à DGS implementar normas e orientações. Alguém tem de
fiscalizar. E aqui é que está o grande problema, que não se esgota na pandemia.
A Segurança Social por si só não é competente para a tarefa ligadas aos Lares.
Não chega uma vistoria e fiscalização inicial por parte da autoridade de saúde.
Esta tem que estar permanentemente presente.
A grande hipocrisia deu-se agora
em agosto de 2020. Desde o governo, a presidente da República, partidos
com responsabilidade parlamentar e outras instituições públicas ou privadas, vêm
agora clamar por uma maior fiscalização e acompanhamento dos LARES, sugerindo o
presidente que “É preciso reforçar a coordenação entre os Ministérios da
Segurança Social e da Saúde.” Já era senhor presidente. E não era preciso o
Covid-19, para chamar a atenção para esta triste realidade. Aliás¸ volvidos
mais de seis meses após o aparecimento do vírus, as autoridades com responsabilidade
na matéria, incluindo privados, locais, regionais ou nacionais, acordaram para
o problema. E vejam só, o senhor presidente está atónito com a quantidade de
Lares ilegais. É arrepiante, que uma realidade que existe à décadas aos olhos
de todos, seja novidade para os governantes deste país.
Este é o verdadeiro pasto para os
inimigos da democracia e do Estado de Direito.
Sem querer ofender, vão-se lixar todos!....
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