O “Conselho Europeu afirma que o ordenado mínimo dos portugueses não garante um estilo de vida digno!”. (19-08-2020)
O relatório do Comité Europeu
dos Direitos Sociais, do Conselho Europeu, revelou várias violações que o
Estado Português faz à Carta Europeia dos Direitos Sociais a nível do trabalho:
o ordenado mínimo não assegura um nível de vida decente, o trabalho nos dias
feriados não é remunerado adequadamente, o trabalho perigoso não tem as medidas
compensatórias adequadas, a desigualdade salarial entre homens e mulheres
agravou-se e o direito a organizar-se está dificultado.
Este é um dos relatórios internacionais
a que se deve prestar grande atenção, uma vez que retrata a falência das
políticas europeias em matéria dos direitos sociais e de emprego, e a
consequente incapacidade de alguns Estados-membros, como Portugal, de optar por
políticas ambiciosas de crescimento, que retirem os portuguesas desta “miséria
franciscana”.
As desigualdades são manifestas,
a pobreza corrói uma parte significativa da população infantil e idosa, a fome
ainda está presente nesta camada da população, a crise pandémica agravou as
precárias fontes de rendimento de milhares e milhares de trabalhadores, que com
os seus magros salários já vinham “doentes” da crise do “subprime” de 2008.
Nesta crise de 2008, a governação portuguesa com o beneplácito da União
Europeia, aplicou à sociedade portuguesa, um programa que ficou conhecido por “pobreza
regeneradora”, ou seja, o Estado demitiu-se de todas as suas funções sociais,
reduziu os orçamentos públicos em todas as áreas da governação, deixou cada
português entregue a si mesmo, sem dinheiro e sem apoios, e governou apenas
para a dívida e para os grandes credores internacionais, que não viram beliscado
o valor que reclamavam, ainda que este (ou parte dele) tivesse uma proveniência
duvidosa. O mesmo não aconteceu aos nossos reformados e pensionistas e aos
trabalhadores em geral. Esses viram “sem apela nem agravo”, reduzidos os seus
precários recursos. “Forte com os fracos, fraco com os fortes”, foi esta a divisa
e o lema do governo anterior.
Romper este ciclo vicioso tem
sido o mais difícil, agora agravado pela pandemia do Covid-19.
Mas esta crise pandémica obrigou
o Estado a reassumir as suas funções essenciais e a mostrar as indignidades da
economia de casino que nos foi governando até então, através deste capitalismo
financeiro, com desperdício de dinheiros públicos para atividades formalmente
legais, mas rechiadas de ilegalidades, com desvios de fundos, remunerações
obscenas, práticas de gestão condenáveis, corrupção endémica, fraude fiscal,
branqueamento de capitais, enfim, um sem número de praticas do foro civil e
criminal, verdadeiramente impunes e ostensivamente atiradas à cara de cada um
de nós que assistiu e assiste com impotência a estes comportamentos próprios de
organizações mafiosas, ao serviço da coisa pública ou com dinheiros públicos.
Este, porém, poderia ser um momento
para definitivamente se vencerem as desigualdades no país e o Estado reassumir o
seu papel de Estado Social forte, com instituições fortes capazes de romper o
atraso estrutural em que nos encontramos. Precisamos de uma economia mais justa
e capaz de responder aos desafios do tempo atual, à recuperação da capacidade
dos serviços públicos, nomeadamente, do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e o
combate à precariedade no emprego como prioridades para a recuperação económica
de Portugal.
O que esta crise pandémica nos
tem ensinado é que se não fosse o Estado e as suas instituições, o flagelo e a
tragédia de saúde pública no nosso país seriam avassaladores.
Todos, sem exceção, se abrigaram debaixo
da “umbrela” do Estado, e os poucos que “fugiram”, só o fizeram depois de assegurada
a contribuição do Estado.
A solidariedade mais uma vez foi
assimétrica.
Num artigo publicado já em 2009,
Joseph Stiglitz sustentava que “este sucedâneo de capitalismo, no qual se
socializam as perdas e privatizam os lucros, está condenado ao fracasso”. Seria
bom que assim fosse, mas os exemplos tardam a chegar. Veja-se o comportamento
da própria União Europeia, perante esta crise pandémica. Um desastre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário