sexta-feira, 26 de junho de 2020

𝓞 𝓟𝓻𝓸𝓿𝓮𝓭𝓸𝓻 𝓭𝓸 𝓒𝓸𝓿𝓲𝓭-19


Em Portugal, quando as situações negativas se eternizam, há o mau hábito de alguns “opinion maker” se arvorarem em” provedor do cliente”, neste caso, do “cliente” Covid-19, contra as entidades em geral pelo mau trabalho que alegam estão a fazer no controlo da pandemia do Covid-19, concluindo que o que de bom terá sido feito [nesta matéria]   naquilo em que era preciso não trabalhar. “Em tudo aquilo em que seria preciso trabalhar, falhou-se”.
Esta afirmação carregada de um preconceito político e social, muito forte, centra-se no papel do Estado no combate à pandemia do Covi-19, e naquilo que foi feito não por obra do Estado e aquilo que não foi feito por obra do Estado.
Muito convenientemente, para estes “provedores”, critica-se o que alegadamente foi feito “sem trabalho”, desprezando-se o esgotamento de milhares de profissionais de saúde e de outras categorias profissionais que foram determinantes, para a contenção na propagação do vírus e manter à tona de água uma boa parte da população portuguesa. Para esta corrente, normalmente avessa à intervenção do Estado nos vários sectores da vida social e económica da sociedade, haveria que ter a coragem do terceiro mundo (mesmo de língua portuguesa), em que a pandemia é um fato e os cidadãos devem tirar dai as devidas consequências, não esperando que o Estado possa fazer muito mais do que reconhecer a fatalidade. Países há do primeiro mundo que atuaram e ainda hoje actuem como países do terceiro mundo no tratamento da pandemia e na exposição criminosa das populações ao vírus. Este é um liberalismo selvagem, que se aproxima do «salve-se quem puder». Aqui não é a crença no individuo. Aqui a crença é no vírus, esse equalizador profético. Não era preciso “trabalhar”, para sustentar um confinamento; não era preciso “trabalhar” para sustentar um lay-off; não era preciso “trabalhar” para montar cadeias de distribuição; não era preciso “trabalhar” enfim, não era preciso “trabalhar”, para ter 26.382 recuperados do Covid-19. Afinal, tudo isto foi resolvia sem “trabalho”. Foi a própria inércia que fez o que tinha a fazer. Os poderes públicos, limitaram ao “vinho e mulheres”. Esta corrente, a mais esdruxula do espetro político e social português, nascida no pós-suprime e paladina da “pobreza regeneradora”, “trabalhar” significaria seguir o exemplo da maior parte dos serviços de saúde privados em Portugal durante a pandemia. Fechar os estabelecimentos de saúde e recorrer ao lay-off simplificado ou, manter algumas unidades abertas, mas com custos acrescidos. “Trabalhar”, significaria não confinar, pôr toda a gente a trabalhar, nada fechar, com brigadas inquisitoriais no controlo e aplicação da chamada imunidade de grupo e seleção e controlo dos casos suscetíveis de acesso aos serviços de saúde pública, claro. A “peste grisalha” nunca poderia usufruir do tratamento da epidemia. Esses “já estão a respirar o ar dos mais novos”. Isso é que era “trabalhar”.
Aliás para esta corrente de pensamento (alguns deles em lay-off), Portugal falhou na pandemia, porque foi incapaz de fazer diferente (“trabalhar”). Não foi imaginativo, disruptivo, “fazer diferente do habitual”. Nisto, Portugal falhou. Era preciso “trabalho” e isso não faz parte do nosso ADN.
Esta corrente esdrúxula, populista e reacionária, apenas tem tristes exemplos comparativos para sustentar a sua tese. Estados Unidos da América, Brasil, Bielorrússia, Coreia do Norte e mais alguns outros, onde o “trabalho” desenvolvido, sem tréguas, tem sido o de conseguir que as pessoas morram, sem qualquer apoio, e sem qualquer “chão” para o seu enterro. Nada de combate à pandemia tudo a favor de ações concretas que estimulem o contágio e a proliferação do vírus. Isto, sim, é “trabalho” !…

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