Em Portugal, quando as situações
negativas se eternizam, há o mau hábito de alguns “opinion maker” se arvorarem
em” provedor do cliente”, neste caso, do “cliente” Covid-19, contra as
entidades em geral pelo mau trabalho que alegam estão a fazer no controlo da
pandemia do Covid-19, concluindo que o que de bom terá sido feito [nesta
matéria] naquilo em que era preciso não trabalhar.
“Em tudo aquilo em que seria preciso trabalhar, falhou-se”.
Esta afirmação carregada de um
preconceito político e social, muito forte, centra-se no papel do Estado no
combate à pandemia do Covi-19, e naquilo que foi feito não por obra do Estado e
aquilo que não foi feito por obra do Estado.
Muito convenientemente, para
estes “provedores”, critica-se o que alegadamente foi feito “sem trabalho”,
desprezando-se o esgotamento de milhares de profissionais de saúde e de outras
categorias profissionais que foram determinantes, para a contenção na
propagação do vírus e manter à tona de água uma boa parte da população
portuguesa. Para esta corrente, normalmente avessa à intervenção do Estado nos
vários sectores da vida social e económica da sociedade, haveria que ter a
coragem do terceiro mundo (mesmo de língua portuguesa), em que a pandemia é um
fato e os cidadãos devem tirar dai as devidas consequências, não esperando que
o Estado possa fazer muito mais do que reconhecer a fatalidade. Países há do
primeiro mundo que atuaram e ainda hoje actuem como países do terceiro mundo no
tratamento da pandemia e na exposição criminosa das populações ao vírus. Este é
um liberalismo selvagem, que se aproxima do «salve-se quem puder». Aqui não é a
crença no individuo. Aqui a crença é no vírus, esse equalizador profético. Não
era preciso “trabalhar”, para sustentar um confinamento; não era preciso “trabalhar”
para sustentar um lay-off; não era preciso “trabalhar” para montar cadeias de
distribuição; não era preciso “trabalhar” enfim, não era preciso “trabalhar”,
para ter 26.382 recuperados do Covid-19. Afinal, tudo isto foi resolvia sem “trabalho”.
Foi a própria inércia que fez o que tinha a fazer. Os poderes públicos,
limitaram ao “vinho e mulheres”. Esta corrente, a mais esdruxula do
espetro político e social português, nascida no pós-suprime e paladina da “pobreza
regeneradora”, “trabalhar” significaria seguir o exemplo da maior parte dos
serviços de saúde privados em Portugal durante a pandemia. Fechar os
estabelecimentos de saúde e recorrer ao lay-off simplificado ou, manter algumas
unidades abertas, mas com custos acrescidos. “Trabalhar”, significaria não
confinar, pôr toda a gente a trabalhar, nada fechar, com brigadas inquisitoriais
no controlo e aplicação da chamada imunidade de grupo e seleção e controlo dos
casos suscetíveis de acesso aos serviços de saúde pública, claro. A “peste
grisalha” nunca poderia usufruir do tratamento da epidemia. Esses “já estão a
respirar o ar dos mais novos”. Isso é que era “trabalhar”.
Aliás para esta corrente de pensamento
(alguns deles em lay-off), Portugal falhou na pandemia, porque foi incapaz de
fazer diferente (“trabalhar”). Não foi imaginativo, disruptivo, “fazer
diferente do habitual”. Nisto, Portugal falhou. Era preciso “trabalho” e isso
não faz parte do nosso ADN.
Esta corrente esdrúxula,
populista e reacionária, apenas tem tristes exemplos comparativos para
sustentar a sua tese. Estados Unidos da América, Brasil, Bielorrússia, Coreia
do Norte e mais alguns outros, onde o “trabalho” desenvolvido, sem tréguas, tem
sido o de conseguir que as pessoas morram, sem qualquer apoio, e sem qualquer “chão”
para o seu enterro. Nada de combate à pandemia tudo a favor de ações concretas
que estimulem o contágio e a proliferação do vírus. Isto, sim, é “trabalho” !…
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