Mesmo com limitações, a vida
continuou no período mais critico da pandemia do Covid-19 e a morte também.
Contudo é, aparentemente, estranho que com tanto confinamento e restrições à
liberdade de movimentos, as informações sobre a morte não Covid-19 que vamos
recebendo, não têm na sua génese, os efeitos colaterais do vírus ou pelo menos,
é assim que se interpreta, pelos últimos casos divulgados.
Sabemos por um estudo realizado
em abril, que praticamente metade da população portuguesa pode estar a ser
psicologicamente afetada pela atual crise, concluindo o estudo que os trabalhadores
presenciais e pessoas que habitam em zonas rurais são mais atingidos pela
ansiedade e depressão.
Por razões diversas, não é de
estranhar que assim seja nestes dois grupos de pessoas. Os trabalhadores
presenciais, porque permanentemente expostos ao risco de contágio pelas
deslocações diárias de e para o trabalho em transportes públicos, a maior parte
das vezes apinhados de gente. Aqui não havia nem há distanciamento físico possível.
O risco é muito elevado e se as pessoas “baixarem a guarda” são uma
fonte de propagação do vírus com toda a certeza. É, pois, legitimo, que este
grupo de pessoas se sintam ansiosas e deprimidas em virtude de saberem o risco
que correm.
As pessoas que habitam em zonas
rurais, no quadro crónico de desproteção em que vivem, naturalmente sentem
maior ameaça perante a pandemia, uma vez que os seus, estão impedidos de os
verem, aumentando a sensação de abandono e de maior exposição ao perigo. Aqui
os níveis de ansiedade são particularmente intensos e a “doença invisível”,
tende a espalhar-se.
Embora pelo estudo realizado
estes dois grupos apareçam como os grupos mais afetados pela pandemia, ao nível
da saúde mental, a verdade é que sabemos que outros grupos terão sido e ainda
estão numa fase de enorme stress. Os que perderam os empregos, por fecho
definitivo das respetivas empresas, os que viram alteradas as suas condições de
trabalho e segurança no emprego, os que, por via da atividade que desenvolvem,
se viram privados de a exercer durante a pandemia e hoje ainda o fazem muito
limitadamente. Este núcleo de pessoas, merecem uma atenção muitíssimo especial
já que a degradação das suas condições económico-financeiras, que já acontecem,
são um enorme catalisador para situações de ansiedade e depressão, senão mesmo outras
patologias mais sérias.
Outros grupos há, que foram
sujeitos a um enorme stress e pressão. Aqui se destacam os médicos,
enfermeiros, profissionais auxiliares de saúde, os professores, os pais, os
profissionais do fornecimento de alimentação e de medicamentos, os
transportadores, etc., que em plena crise se mantiveram ativos para que os bens
essenciais chegassem a todos.
Destaco, no entanto, de entre
todos, os pais. E porquê? Porque estes, foram chamados a uma tripla função desde
o início da pandemia do Covid-19 que é de realçar. Desde profissionais em
teletrabalho, a agentes de ensino e encarregados de educação a tempo inteiro,
os pais experimentaram durante este período uma exigente tarefa para a qual
muitos deles não estavam, sequer, preparados. Os inúmeros exemplos do esforço
muitas vezes hercúleo de alguns pais que foram chamados a trabalhar em casa em simultâneo
com a tarefa de acompanhar os filhos na telescola ou em modalidade de ensino à
distância equivalente, sem quaisquer condições de base, é simplesmente digno de
registo.
Finalmente, outro dado bastante
relevante é o de que na Europa os casos de “violência interpessoal” entre
parceiros íntimos e contra crianças aumentou cerca de 60%, durante a pandemia, em
países como a Bélgica, Bulgária, França, Irlanda, Rússia, Espanha e Reino Unido.
Em Portugal, pelo contrário, soube-se
que as queixas por violência doméstica diminuíram durante o período de
confinamento. As três linhas de apoio a vítimas de violência doméstica
receberam 308 pedidos desde 19 de março e as queixas às polícias por este crime
diminuíram 39% em relação ao mesmo período de 2019. Há quem duvide desta "tranquilidade
aparente", o certo é que ela se deu e tem dado e bom seria que esta
prática criminosa desaparecesse do quotidiano das famílias portuguesas.
A pandemia do Covid-19 foi (é) uma
interrupção nas nossas vidas com marcas profundas no nosso futuro. Desta vez é
o individuo que está em causa. Que tal tenha sido percebido, para bem de todos…
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