segunda-feira, 22 de junho de 2020

𝑫𝒊𝒔𝒑𝒆𝒓𝒔𝒐𝒔 𝑰𝒏𝒕𝒓𝒂 𝑷𝒂𝒏𝒅𝒆𝒎𝒊𝒂 𝒅𝒐 𝑪𝒐𝒗𝒊𝒅-19



Mesmo com limitações, a vida continuou no período mais critico da pandemia do Covid-19 e a morte também. Contudo é, aparentemente, estranho que com tanto confinamento e restrições à liberdade de movimentos, as informações sobre a morte não Covid-19 que vamos recebendo, não têm na sua génese, os efeitos colaterais do vírus ou pelo menos, é assim que se interpreta, pelos últimos casos divulgados.
Sabemos por um estudo realizado em abril, que praticamente metade da população portuguesa pode estar a ser psicologicamente afetada pela atual crise, concluindo o estudo que os trabalhadores presenciais e pessoas que habitam em zonas rurais são mais atingidos pela ansiedade e depressão.
Por razões diversas, não é de estranhar que assim seja nestes dois grupos de pessoas. Os trabalhadores presenciais, porque permanentemente expostos ao risco de contágio pelas deslocações diárias de e para o trabalho em transportes públicos, a maior parte das vezes apinhados de gente. Aqui não havia nem há distanciamento físico possível. O risco é muito elevado e se as pessoas “baixarem a guarda” são uma fonte de propagação do vírus com toda a certeza. É, pois, legitimo, que este grupo de pessoas se sintam ansiosas e deprimidas em virtude de saberem o risco que correm.
As pessoas que habitam em zonas rurais, no quadro crónico de desproteção em que vivem, naturalmente sentem maior ameaça perante a pandemia, uma vez que os seus, estão impedidos de os verem, aumentando a sensação de abandono e de maior exposição ao perigo. Aqui os níveis de ansiedade são particularmente intensos e a “doença invisível”, tende a espalhar-se.     
Embora pelo estudo realizado estes dois grupos apareçam como os grupos mais afetados pela pandemia, ao nível da saúde mental, a verdade é que sabemos que outros grupos terão sido e ainda estão numa fase de enorme stress. Os que perderam os empregos, por fecho definitivo das respetivas empresas, os que viram alteradas as suas condições de trabalho e segurança no emprego, os que, por via da atividade que desenvolvem, se viram privados de a exercer durante a pandemia e hoje ainda o fazem muito limitadamente. Este núcleo de pessoas, merecem uma atenção muitíssimo especial já que a degradação das suas condições económico-financeiras, que já acontecem, são um enorme catalisador para situações de ansiedade e depressão, senão mesmo outras patologias mais sérias.
Outros grupos há, que foram sujeitos a um enorme stress e pressão. Aqui se destacam os médicos, enfermeiros, profissionais auxiliares de saúde, os professores, os pais, os profissionais do fornecimento de alimentação e de medicamentos, os transportadores, etc., que em plena crise se mantiveram ativos para que os bens essenciais chegassem a todos.
Destaco, no entanto, de entre todos, os pais. E porquê? Porque estes, foram chamados a uma tripla função desde o início da pandemia do Covid-19 que é de realçar. Desde profissionais em teletrabalho, a agentes de ensino e encarregados de educação a tempo inteiro, os pais experimentaram durante este período uma exigente tarefa para a qual muitos deles não estavam, sequer, preparados. Os inúmeros exemplos do esforço muitas vezes hercúleo de alguns pais que foram chamados a trabalhar em casa em simultâneo com a tarefa de acompanhar os filhos na telescola ou em modalidade de ensino à distância equivalente, sem quaisquer condições de base, é simplesmente digno de registo.
Finalmente, outro dado bastante relevante é o de que na Europa os casos de “violência interpessoal” entre parceiros íntimos e contra crianças aumentou cerca de 60%, durante a pandemia, em países como a Bélgica, Bulgária, França, Irlanda, Rússia, Espanha e Reino Unido.
Em Portugal, pelo contrário, soube-se que as queixas por violência doméstica diminuíram durante o período de confinamento. As três linhas de apoio a vítimas de violência doméstica receberam 308 pedidos desde 19 de março e as queixas às polícias por este crime diminuíram 39% em relação ao mesmo período de 2019. Há quem duvide desta "tranquilidade aparente", o certo é que ela se deu e tem dado e bom seria que esta prática criminosa desaparecesse do quotidiano das famílias portuguesas.
A pandemia do Covid-19 foi (é) uma interrupção nas nossas vidas com marcas profundas no nosso futuro. Desta vez é o individuo que está em causa. Que tal tenha sido percebido, para bem de todos…


Nenhum comentário:

Postar um comentário