Vem o provérbio a propósito das
últimas notícias que dão conta que o governo português prepara a saída do
programa de assistência financeira da troika, através de um mecanismo de
assistência reforçada (abreviadamente, MAR), o qual substituirá, pelos vistos,
o tão propalado programa cautelar, já que a saída à Irlandesa, pelas razões que
só os credores e esta maioria de governo conhece, não nos é acessível.
Temos, portanto, uma saída com
MAR.
Não é uma saída limpa nem uma
saída suja. É uma saída com derrame. Quer dizer, é uma saída com muito crude,
num MAR muito revoltoso e de ondas traiçoeiras que mais uma vez levará à sua
frente todos aqueles que sem defesa e por obrigação se vêm coagidos a suportar
a insuportável política de empobrecimento e definhamento do nosso país.
Política essa, diga-se, que de nada serviu até hoje, quer em matéria de
ajustamento financeiro, quer em matéria de combate ao défice público quer em
matéria de excesso de dívida (pública e privada).
Daí o alegado mecanismo de apoio
reforçado (MAR). Os indicadores negativos que serviram de base ao pedido de
ajuda externa em Maio de 2011, são hoje exactamente os mesmos e nalguns casos
mais degradados. Não houve redução da despesa antes pelo contrário e aumentou e muito a dívida pública.
Por isso vozes autorizadas (Bagão
Félix) dizem: “Portugal está melhor, mas
os portugueses estão piores”. Pois é, Portugal poderá estar melhor, não se
sabe é em quê. Ainda
ontem (03-03-2014), o presidente da comissão europeia, Durão Barroso, dizia
"Quanto maior for o consenso entre
as forças políticas maior será a confiança em Portugal, portanto, menos
Portugal terá de pagar de juros para financiar as suas despesas". Ou
seja: a confiança em Portugal não abunda, daí que quanto maior for o consenso
maior é a probabilidade de Portugal se financiar a juros mais baixos.
Interrogo-me, no entanto, o
porquê destas dúvidas. Então este governo e esta maioria, não cumpriram com
«êxito» o programa de ajustamento? Então este governo e esta maioria, não
passaram com distinção nas onze avaliações que a troika efectuou ao cumprimento
do programa? Então este governo e esta maioria não procedeu aos cortes sem
precedentes na economia interna e nos serviços básicos à população? Então este
governo e esta maioria não procedeu aos cortes inimagináveis nos rendimentos
dos funcionários públicos, pensionistas e reformados? Então este governo e esta
maioria não procedeu a um ataque sem quartel à classe média portuguesa,
retirando-lhe quase 40% do seu rendimento? Não é verdade, que existe um
empobrecimento muito significativo da sociedade portuguesa? Isto não é uma
dramática redução da despesa no chamado Estado Social?
Se tudo isto é verdade, porque é
que aumentou a dívida pública, quase em 130% do PIB, quando esta em 2011 (data
da entrada troika), não chegava aos 94% do PIB?
Porque raio não conseguimos uma
saída limpa e recusamos um programa cautelar como parece sugerir Durão Barroso,
"Claro que um programa cautelar dá
sempre mais garantias e segurança, mas se Portugal estiver em condições de
dispensar um programa cautelar, melhor para todos", para acabarmos num
programa híbrido (o MAR), que não é mais do que uma «carta de conforto forte»,
próximo do programa cautelar, sabe-se lá com que custos associados.
Verifica-se, pois, que reclamar o
consenso às principais forças politicas nacionais para um acordo alargado em
torno de uma estratégia de médio prazo, para o crescimento económico e com
"horizontes de redução da despesa e
do tecto da dívida pública”, é absolutamente essencial, desde que desse
consenso não façam parte a actual maioria que suportou as politicas
dramaticamente ineficazes e neo-liberais deste governo.
Repetir o erro, é a manutenção da
agiotagem internacional sobre o nosso país.