Ano de XXI – Lugar de Belém
Tema: Abuso sexual de menores na igreja católica de Portugal
- O Bispo em linha, diz a telefonista.
- Estou – disse Sua
Excelência.
- Estou sim, disse o Bispo.
- Vossa Excelência Reverendíssima,
recebi uma denúncia de abusos sexuais sobre uma criança, praticados
(alegadamente), numa paróquia sobre a sua alçada. Antes de comunicar às
entidades competentes, dou-lhe conhecimento desta denuncia, para os fins que
entender por conveniente. Claro que muito me penaliza, enquanto cristão, tomar
conhecimento deste tipo de situações que, embora me pareça serem inexpressivos
o número de casos desta natureza, na nossa igreja, comparado com os milhares se
não milhões de casos de que se tem conhecimento, por esse mundo fora, ainda
assim me desgosta.
- Agradeço o seu cuidado e
atenção, embora tenha opinião própria sobre o assunto, disse o Bispo. - Na
verdade, sou daqueles, no seio da nossa igreja, que pensa que esses casos, se
existiram, reportam-se a uma época em que esse tipo de comportamentos entre os sacerdotes
e as crianças não eram reprovados visto que não tinham a censura nem a dimensão
negativa que hoje se lhes atribui. Como sabe, aliás, o abuso sexual de menores
não é "um crime público" e por isso não há (havia) obrigatoriedade de
denúncia, como diz ‘acertadamente’ o Dom Linda. - Hoje, algumas coisas já
sabemos que foram verdade. Que coisas foram essas, estão por apurar. " Mesmo
assim, não podemos "julgar o passado com os critérios de hoje".
- Repare, Sua Excelência, disse
o Bispo: ainda há dias uma “ovelha” do nosso rebanho, tornou público um
testemunho, em que dizia ter sido abusada e violada por um padre, quando tinha
apenas 13 ou 14 anos, de quem veio a ter um filho. Disse, nesse testemunho
público, que pediu conselho, ao Dom Linda, contando-lhe "que, mesmo sendo
menor, tinha um envolvimento com o padre Heitor”, ao que Dom Linda terá
respondido, “que a culpa era dela, já que ela é que andava atrás dele".
- Ora, consultado Dom Linda,
este respondeu com toda a franqueza, o seguinte: “não me consigo recordar
minimamente de nada parecido com essa denúncia”.
- Vamos duvidar de Dom Linda?
- Poderá Vossa Excelência,
como eminente jurista que é, interrogar-se: então se a criatura tem um filho
de um padre, e se esse padre, foi afastado da igreja, justamente, por esse
caso, como é que Dom Linda não se lembra dele, ainda por cima, quando a vítima
o diz ter procurado? É que nem todas as violações de menores na igreja
perpetradas por sacerdotes geraram filhos e o crime não se deu numa grande
metrópole, mas sim em Vila Real, como é possível esta falta de lembrança?
- Porventura, terá razão Vossa
Excelência para essa interrogação, mas são coisas do divino, não nos compete a
nós ajuizar, disse o Bispo.
- Despediram-se, como bons
amigos, desejando um ao outro “a Paz do Senhor”!...