À medida que alguns países
importantes na cena europeia ou mundial se vão ridicularizando através dos
líderes que escolhem, dando mostras que os povos estão a atingir um estado de
negação politica nunca visto, caminhando para um abismo sem retorno e de
consequências já mais previsíveis de guerras e catástrofes humanitárias, nós
por cá, destapada a tampa, assistimos ao ressurgir de um neoliberalismo de
pacotilha, ou seja, pessoas e/ou organizações que defendem um conjunto de
ideias políticas e económicas capitalistas como, por exemplo, a não
participação do estado na economia, liberdade total do comércio, para garantir
o crescimento económico e o desenvolvimento social do país.
Estes arautos neoliberais afirmam
que o estado é o principal responsável por anomalias no funcionamento do
mercado livre, em virtude do seu peso e tamanho constrangerem os agentes económicos
privados. Reclamam, por isso, a pouca intervenção do governo no mercado de
trabalho, a política de privatização de empresas do Estado, a livre circulação
de capitais internacionais, a globalização, a abertura da economia para a
entrada de multinacionais, a adoção de medidas contra o protecionismo económico,
a diminuição dos impostos e tributos excessivos etc.
No fundo, estes nossos neoliberais são saudosistas. São
saudosistas da troika e do governo de Passos Coelho; são saudosistas da “pobreza regeneradora”, do
assistencialismo, da venda ao desbarato de empresas públicas enfim, de um
Portugal do passado.
A principal diferença entre os nossos neoliberais e os outros, é que
os nossos pretendem manter uma
reserva pública, para exercer o seu múnus. Eles querem continuar a ter empregos
no sector público, nas empresas públicas, nos institutos públicos, nas empresas
municipais, etc. São gente que defende (?) a pouco intervenção do governo no
mercado de trabalho, mas sempre com a ideia de uma reserva pública de emprego,
que lhes possa isentar do mercado privado de emprego, apesar de tudo sujeito ao
escrutínio de alguma competência ou, se assim não for, de alguma utilidade.
O exemplo mais definitivo é o de
Passos Coelho. Saído da política, onde fez carreira desde pequenino, buscou
guarida no sector público de emprego, com a vantagem excecional, tipo “honoris causa”, de lhe ser dado um lugar
equivalente a professor catedrático. É obra! Aqui, Rui Rio “passa-lhe a perna”.
Quando fez um intervalo na política, foi trabalhar para uma empresa privada na área
de gestão de recursos humanos. Fez jus à sua condição de social-democrata de
raiz liberal na economia.
Outros há, como o historiador Rui
Ramos, que defendem o aparecimento de uma “maioria reformista”, que liberte
Portugal de uma nova “geringonça”. Este “reformador”, neoliberal de encarnação,
sustenta-se no emprego público, para difundir as suas ideias e ganhar
notoriedade para a acumulação de outras atividades, remuneradas, naturalmente.
Como alguém dizia, “Em Portugal, a direita afirma-se
obsessivamente liberal apenas na cruzada contra o poder fiscal e a ação
regulatória, ainda quando esta última visa garantir uma maior transparência e
equilíbrio económico, social e ambiental. Ao revés, sempre foi em geral muito
amiga do orçamento e do Estado quando estes apoiam interesses parasitários,
distorcendo o mercado, por via de subsídios ou de outros instrumentos
protecionistas, segundo o velho princípio — privatizem os benefícios e
coletivizem os prejuízos.”
Essa é que é essa…!