João Miguel Tavares (JMT), escreveu
há pouco mais de duas semanas (29/09) no Jornal Público, em artigo de opinião
com o título «O desgraçadismo foi
sobrevalorizado», que se terá exagerado na ideia que o governo e a maioria
de direita PÁF com as políticas de austeridade implementadas a partir de 2011, que
se traduziram num inequívoco agravamento das condições de vida da população e
num processo de empobrecimento que afetou largos sectores da população, seriam
um pouco exageradas, com isto pretendendo demonstrar que a coligação PáF não
iria sofrer uma derrota nas eleições, como de resto, veio a acontecer.
Quando li o artigo confesso que
fiquei chocado e perguntei-me várias vezes se nesta política do vale tudo seria
possível um jornalista que semanalmente escreve (e fala) sobre a situação
política portuguesa, não se tivesse apercebido ou até contactado com casos
manifestos de pobreza acentuada, resultante do processo de austeridade levada a
cabo pela maioria de direita que governou Portugal nos últimos 4 anos.
São dezenas senão mesmo centenas
os artigos e trabalhos técnico-científicos que demonstram sem sombra de dúvida
que uma das consequências mais dramáticas da crise económica e das políticas
seguidas nos anos recentes foi o forte agravamento do número de crianças e
jovens em situação de pobreza, que ronda os quase 30%.
O forte agravamento do
desemprego, os cortes efetuados nos rendimentos do trabalho e nas pensões, o
retrocesso generalizado das transferências sociais e o acentuar da tributação
dos rendimentos salariais e pensões traduziram-se inequivocamente num acentuar
das situações de pobreza pré-existentes, mas igualmente na criação de novas
bolsas de pobreza constituídas por sectores da população até então
relativamente imunes ao fenómeno da pobreza.
Quando JMT, no jogo político que
não lhe pertence, ousa afirmar que «O
desgraçadismo foi sobrevalorizado», transforma-se num prostituto do
jornalismo ao serviço dos interesses desta maioria PáF, que demonstrou a sua
total insensibilidade na aplicação de políticas autenticamente danosas para
grande parte da população portuguesa, as quais resultaram no seu empobrecimento
galopante e na sua miséria exponencial.
É minha convicção, já o escrevi, que o governo
de direita que governou Portugal de 2011 a 2015, cometeu verdadeiros crimes
contra os direitos humanos, levando conscientemente à pobreza e à miséria
milhares de portugueses, assim como, privou de alimentação mais de 20.000,
também aqui cometendo crimes, por violação dos direitos das crianças, crimes
estes, todos, punidos pelas Declarações dos Direitos do Homem e das Crianças.
E porque este tema é
demasiadamente grave, para ser colocado na prateleira dos assuntos arrumados com
as últimas eleições, e para que pessoas como JMT e todo o PáF que o acompanha
sejam chamados à realidade uns e outros à responsabilidade, é que é oportuno
trazer à colação o trabalho publicado no jornal “Expresso”, do sábado passado
(10-10-2015), com o seguinte título: “Metade
do país em risco de pobreza”. “Se não
houvesse apoios sociais, cerca de metade da população estaria em risco de
pobreza e não tenho dúvida que as crianças e os jovens são os mais afetados
pela política de austeridade do último Governo.”
“Entre 2011 e 2013, a taxa de risco de pobreza passou de 45,4 para
47,8%, incluindo neste número, a perda de apoios como pensões de sobrevivência,
reformas e outras transferências sociais de suporte à família, educação,
habitação, doença ou desemprego. Farinha Rodrigues acredita que, apesar dos
primeiros sinais de recuperação económica, a situação da pobreza continuará a
agravar-se.”
“É pior do que há dez anos, o que pede decisões políticas ao mais alto
nível” (Estudo de Farinha Rodrigues Professor do Instituto Superior de
Economia e Gestão, que coordena a preparação, em parceria com a Fundação
Francisco Manuel dos Santos, sobre as desigualdades sociais em Portugal.
Eu sei que JMT desconfia da
ciência produzida pelas Universidades, ou melhor dizendo, de alguns estudos
produzidos por alguns académicos, sobretudo se eles não forem da área da
maioria de direita PáF. Por isso, não nos admiremos se ele entender que este
Estudo também padece do mesmo mal. Confesso que não me espantaria.
Afinal JMT só quer acreditar
naquilo que dizem os seus «compagnon de
route» pois são eles que estão mais próximos de o ajudar a alcançar o
“pote”. E, naturalmente, isto tolda-lhe a vista.
Tal como Lomba, JMT aspira a
mais. Tem feito bastante por isso. E dirá lá para os seus botões: se ele
conseguiu porque é que eu não hei-de conseguir!...
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