sábado, 29 de outubro de 2022

A FUTILIDADE NA POLÍTICA PORTUGUESA

Dá pelo nome de IL (“Iniciativa Liberal”). Porém, podia muito bem ser de “Idiotas Letrados” ou mais apropriadamente de “Inexistência liberal” (InL). A (InL), é um ajuntamento de pessoas, que, durante anos e anos, formaram os “independentes” ou deambularam por outros partidos da democracia, até ganhar a própria autonomia não por mérito próprio, naturalmente, mas por colapso desses partidos. A (InL) deve a sua existência, exatamente por não ser necessário fazer prova do liberalismo. Aquele ajuntamento, formado por quadros de empresas privadas, quase sempre de intervenção pública, ex-funcionários públicos e/ou de empresas e/ou de institutos públicas, startups, agrupados na (InL), são a expressão acabada da mediocridade diletante que durante anos a fio se pavoneou na antecâmara dos partidos, sempre em lugar recatado, para que a sua sobrevivência não fosse posta em causa. São gente sem ideias nem projeto. Muito baseados no “eu-eu-eu”, a (InL) é vista como um grupo preguiçoso, narcisista e mimado.

A (InL), é um grupo (partido) vazio de ideias. A dinâmica sociopolítica e económica e a efemeridade dos elementos sociais em geral produziram um solo ideológico instável e flexível, na (InL), de forma que o partidarismo, acompanhado pelo estímulo do liberalismo ao consumo, tornaram-se pouco nítidos neste grupo. Acostumados a conseguirem o que querem sem esforço ou em prazos consideráveis, os membros da (InL), não se sujeitam às tarefas subalternas de início de carreira e desejam salários ambiciosos, em geral com a suposição de que conhecimento e currículo técnico tornam desnecessários outros atributos profissionais. A discrepância na perceção do significado sobre o trabalho e carreira é evidente o que torna a (InL) um grupo "sem interesse".

Baseados numa conceção tradicionalista do liberalismo, assente no individuo como o centro de tudo, a (InL), não tem pátria nem país. As suas ideias, assentam num programa de marketing, Liberdade Individual – que todo o individuo — cada um de nós! — tem direitos fundamentais a dirigir a sua própria vida, o que fazer com o que é seu, a escolher como viver em comunidade. Em nenhuma parte do seu manifesto político existe uma conexão com a pátria portuguesa ou um “fumus”, sequer, de solidariedade política e/ou social. Por isso, as políticas sociais não existem e muito menos essa preocupação pelos mais desfavorecidos.

O Portugal mais justo e igual, não faz parte do dicionário político da (InL). O liberalismo para este grupo é uma abstração e assim deve continuar a ser. Lê-se, no seu manifesto: “Acreditamos no Liberalismo – nas ideias políticas que defendem pessoas livres, sociedades livres, mercados livres, cidadãos livres – porque a Liberdade é o maior motor de geração de desenvolvimento humano, de harmonia social, e de prosperidade económica.”

A contradição, contudo, é patente para este “liberalismo” acéfalo e abstrato da (InL), uma vez que é sustentado nos apoios e subsídios estatais, e é através do Estado que pretensamente pretendem implementar os ditos “mercados livres”, sob o slogan “privatização da riqueza e socialização de prejuízos”.

Em outros tempos, de credulidade na suposta capacidade de autorregulação dos mercados, em que a (InL) se acantonava na democracia cristã ou na social-democracia, estranhar-se-ia a desconfiança na orquestração pelos preços, a suspeita quanto às expectativas racionais dos agentes, ou a interferência na premissa de garante da ordem liberal, que reduz o Estado a disciplinado observador. Estranhar-se-ia a dúvida sobre a (teoria da) teia de aranha, tradutora do equilíbrio tendencial, do bom funcionamento da economia em mercado livre e, por sua extensão, da ausência de crises sistémicas.

Liz Truss é o último exemplo vivo do falhanço total do neoliberalismo da (InL).

Hoje, não se garantindo equidade no esforço que as sociedades devem fazer, é de temer que não sobrevivam os que já passam fome, os que já não têm medicamentos (vão faltar? não para todos!), os que não terão os tratamentos, os que não terão eletricidade em casa, os que não terão casa.

Esta é a resposta ausente da (InL). Por todas estas razões, a democracia portuguesa, pouco beneficiará deste grupo para a sua consolidação e crescimento. Os contributos ideológicos são de uma pobreza extrema. Aliás, este é terreno minado, para este grupo.

Agora que a (InL) se prepara para substituir a sua liderança, melhor faria reunir em congresso e decretar a sua extinção.  

É simplesmente desolador, o contributo nulo deste grupo para a democracia portuguesa, com custos apreciáveis para o erário público.

Esta é uma das fraquezas dos regimes democráticos. Conseguem suportar no seu seio quem a eles se opõem ou gerar “nado morto”, com alguma facilidade.

 

domingo, 23 de outubro de 2022

‘DIÁLOGO APÓCRIFO’

 Ano de XXI – Lugar de Belém

Tema: Abuso sexual de menores na igreja católica de Portugal

 - O Bispo em linha, diz a telefonista.

- Estou – disse Sua Excelência.

- Estou sim, disse o Bispo.

- Vossa Excelência Reverendíssima, recebi uma denúncia de abusos sexuais sobre uma criança, praticados (alegadamente), numa paróquia sobre a sua alçada. Antes de comunicar às entidades competentes, dou-lhe conhecimento desta denuncia, para os fins que entender por conveniente. Claro que muito me penaliza, enquanto cristão, tomar conhecimento deste tipo de situações que, embora me pareça serem inexpressivos o número de casos desta natureza, na nossa igreja, comparado com os milhares se não milhões de casos de que se tem conhecimento, por esse mundo fora, ainda assim me desgosta.

- Agradeço o seu cuidado e atenção, embora tenha opinião própria sobre o assunto, disse o Bispo. - Na verdade, sou daqueles, no seio da nossa igreja, que pensa que esses casos, se existiram, reportam-se a uma época em que esse tipo de comportamentos entre os sacerdotes e as crianças não eram reprovados visto que não tinham a censura nem a dimensão negativa que hoje se lhes atribui. Como sabe, aliás, o abuso sexual de menores não é "um crime público" e por isso não há (havia) obrigatoriedade de denúncia, como diz ‘acertadamente’ o Dom Linda. - Hoje, algumas coisas já sabemos que foram verdade. Que coisas foram essas, estão por apurar. " Mesmo assim, não podemos "julgar o passado com os critérios de hoje".

- Repare, Sua Excelência, disse o Bispo: ainda há dias uma “ovelha” do nosso rebanho, tornou público um testemunho, em que dizia ter sido abusada e violada por um padre, quando tinha apenas 13 ou 14 anos, de quem veio a ter um filho. Disse, nesse testemunho público, que pediu conselho, ao Dom Linda, contando-lhe "que, mesmo sendo menor, tinha um envolvimento com o padre Heitor”, ao que Dom Linda terá respondido, “que a culpa era dela, já que ela é que andava atrás dele".

- Ora, consultado Dom Linda, este respondeu com toda a franqueza, o seguinte: “não me consigo recordar minimamente de nada parecido com essa denúncia”.

- Vamos duvidar de Dom Linda?

- Poderá Vossa Excelência, como eminente jurista que é, interrogar-se: então se a criatura tem um filho de um padre, e se esse padre, foi afastado da igreja, justamente, por esse caso, como é que Dom Linda não se lembra dele, ainda por cima, quando a vítima o diz ter procurado? É que nem todas as violações de menores na igreja perpetradas por sacerdotes geraram filhos e o crime não se deu numa grande metrópole, mas sim em Vila Real, como é possível esta falta de lembrança?

- Porventura, terá razão Vossa Excelência para essa interrogação, mas são coisas do divino, não nos compete a nós ajuizar, disse o Bispo.

- Despediram-se, como bons amigos, desejando um ao outro “a Paz do Senhor”!...

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

MARCELO CAÇA COELHO PARA ABAFAR GAFE NA PEDOFILIA NA IGREJA!

Desejoso que a maioria do povo português se esqueça do que ele disse quanto ao abuso sexual de menores na igreja católica, que na generalidade dos casos mereceu o mais vivo repúdio de todos, mesmos os mais devotos, Marcelo mandou recado a dizer que não ia ficar fechado no palácio e, como é seu timbre, imediatamente, criou um novo facto politico, lançando a boia a Passos Coelho que, como se sabe, não está no ativo, mas que Marcelo sabia do impacto que iria obter, ao dizer, a propósito de nada, que o "país deve esperar muito do contributo de Passos Coelho". Diz-se que estava a lançar a candidatura de Passos Coelho à Presidência da República. Até é possível que sim, já que Paulo Portas, semanalmente, cimenta a sua posição de candidato. Porém, na minha leitura, não foi esse o objetivo primeiro de Marcelo. O objetivo primeiro, foi criar um facto político que tivesse um impacto significativo que desviasse a atenção da generalidade das pessoas, para a desastrosa declaração de desvalorização que fez, a propósito do número de casos de abuso sexual de menores no seio da igreja católica. Sendo esta matéria de reprovação geral, já que se insere no catálogo de crimes hediondos, todas as manobras dilatórias que Marcelo faça, a sua imagem perante os portugueses, está bastante debilitada, ainda por cima, porque se inscreve numa área respeitante a valores, neste caso de menores, e de uma entidade que tem por missão o bem e de que Marcelo é um devoto confesso. Marcelo mostrou, no entanto, que para ele tudo é relativo. Até a dignidade da pessoa humana. Este, que era um campo, em que Marcelo aparecia, aparentemente, ‘impoluto’, veio a revelar uma “falsa identidade católica” muito próxima da linha mais ortodoxa da igreja católica protagonizada por Bento XVI. O Papa Francisco, bem luta contra esta podridão no seio da igreja católica, impondo estas comissões de investigação dos abusos sexuais de menores que, de outra forma, seriam ocultados e as vítimas escondidas e votadas ao silêncio e à vergonha. Aqui não há misericórdia, nem Marcelo o demonstrou. O abuso sexual de crianças é um crime gravíssimo e abominável, pelo que, qualquer hesitação seja de que tipo for na sua condenação é uma fraqueza imperdoável e verdadeiramente cúmplice.

Marcelo, revelou esta fraqueza. O povo português, não lhe perdoou.

Só que Marcelo está ferido, pela sua própria incúria, e virará “escorpião” traidor, como no passado.

A fábula do escorpião conta a história de um bicho que pede a uma rã para o passar para a outra margem do rio, e acaba por ferrá-la com o seu veneno a meio da travessia, mesmo sabendo que se vão afogar os dois, porque é simplesmente da sua natureza.

Como diz um conhecido seu (ferrado por ele): numa coisa ele "é mestre: a criação de factos políticos que alimentassem os media e a opinião pública ou que desviassem a atenção de assuntos ou decisões atrasados ou a correr mal".

É, por isso, de temer novas caçadas já que a sua “maioria” parece estar a esfumar-se e o regresso às origens parece ser o destino final.

Por tudo isto, Marcelo aprestasse a exercer o segundo mandato ao jeito de Cavaco Silva. Que se cuidem as instituições democráticas, em particular o Governo.

Porém, Marcelo continuará a reivindicar os “seus” pobrezinhos. Nisto ele acertou. Realmente, Passos Coelho, sabe como fazê-los!… 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

PREDITA AOS ABUSADOS SEXUALMENTE NA IGREJA CATÓLICA!

Como pretendestes esperar outra coisa do vosso Presidente da República, quando Deus vos abandonou, na sua própria casa, ainda na flor das vossas vidas? O que vos levou a pensar que o vosso Presidente da República iria ter compaixão por um pequeno grupo de quatrocentas e tal crianças abusadas sexualmente no seio da igreja católica? Porque vos julgais tão importantes? Sabeis, por acaso, que “um universo de pessoas que se relacionam com a igreja católica [na ordem] de milhões de jovens ou muitas centenas de milhares de jovens. Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado porque noutros países com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”, disse o Chefe de Estado. “Crescei e multiplicai-vos” e então sim, mereceis a atenção, aqui na terra, do vosso Presidente da República. Nesta conceção presidencial, pelo que passastes, doloroso é certo, ainda não dá para a categoria de crime. Falta-lhe quantidade. Vós pensais que bastava um caso, para logo ser considerado crime hediondo? Pensastes bem. Contudo, isso é na versão da lei penal. Na versão presidencial, falta-lhes número. A chave do crime de abuso sexual de menores na igreja católica, é, portanto, a quantidade, na visão presidencial. Assim sendo, vós nem sequer à categoria de mártires, ascenderam, pois não está provado que preferiram sacrificar o vosso corpo a renuncia à vossa fé. Não. O vosso corpo foi violado sexualmente, por uma cambada de criminosos, que deveriam arder na fogueira da inquisição. Mas tal não acontece, porque vós sois poucos. E assim sendo, os criminosos têm ‘direito’ ao anonimato e vós o direito ao esquecimento. A menos que decidam lutar até à exaustão. Nesse caso, ao Presidente, respondem: “antes quebrar que torcer!". Mas cuidado, o terreno está minado. O senhor Presidente da República é um devoto cristão, disposto a sacrificar-se, pela sua igreja. E como ele há um número exponencial de cristãos disposto a defender o “templo”. Vós, para eles, não sois vítimas: sois fruto do acaso das circunstâncias da época.

Revoltem-se, exijam justiça, não aceitais a resignação como método sugerido. Tudo o que puderes fazer hoje, servirá de purificador para o futuro nessa e em outras instituições.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

“O SONHO DE ALGUÉM É O PESADELO DE UM SER HUMANO”

Eu adoraria ter uma primeira página do The Telegraph com um avião decolando para Ruanda. Esse é o meu sonho. Essa é a minha obsessão” Secretária de Estado para os Assuntos Internos do Reino Unido, Suella Braverman.

Quem diz isto é uma filha de emigrantes, de origem indiana, que emigram para a Grã-Bretanha na década de 1960. A mãe desta Secretária do Interior, de ascendência hindu era enfermeira. Seu pai, de ascendência goesa trabalhava para uma associação de habitação.

Braverman nasceu em Harrow, Greater London, e cresceu em Wembley. Frequentou a Uxendon Manor Primary School em Brent e a Heathfield School, Pinner, com uma bolsa de estudos parcial. Estudou direito no Queens' College, Cambridge. Foi presidente da Associação Conservadora da Universidade de Cambridge.

Braverman residiu em França durante dois anos, como aluna do Programa Erasmus e depois como Entente Cordiale Scholar, onde completou um mestrado em direito europeu e francês na Universidade Panthéon-Sorbonne.

Braverman é membro da Comunidade Budista de Triratna (anteriormente Amigos da Ordem Budista Ocidental) e frequenta o Centro Budista de Londres mensalmente. Fez seu juramento de posse no Dhammapada (caminho de "darma", base das filosofias, crenças e práticas que se originaram na Índia).

Sua mãe foi a candidata conservadora em Tottenham nas eleições gerais de 2001 e nas eleições de 2003 em Brent East.

Este é uma síntese (Wikipédia) do perfil desta Secretária do Interior, que sendo filha de imigrantes despreza imigrante. Como diz um jornalista inglês, (James Oh Brien), “Filhos de imigrantes que desprezam outros imigrantes provavelmente não deveriam ser responsáveis ​​pela política de imigração. Eles muitas vezes parecem estar lidando com questões pessoais que não deveriam estar nem perto do espaço político. Pessoas que protegeram e defenderam seus pais podem fazer um trabalho melhor.”

Tudo isto porque, o governo britânico, no primeiro trimestre deste ano de 2022, na tentativa de impedir que mais pessoas se arrisquem na travessia Canal da Mancha, assinou um acordo com o Ruanda para deportar imigrantes indocumentados para aquele país do leste africano. Segundo o programa, os migrantes são incentivados a solicitar asilo, e a estabelecer-se e construir novas vidas no novo país. Em troca, o Governo britânico prometeu pagar o equivalente a 120 milhões de libras (cerca de 144 milhões de euros) para o Ruanda integrar os recém-chegados.

É este “o sonho” da Secretária do Interior. Deportar imigrantes, para o Ruanda. Esta governante britânica e filha de imigrantes, vincadamente xenófoba e racista, não pretende para os outros o que teve para si. Ela entende e diz, que as aspirações dos refugiados e imigrantes de agora, que dão à costa inglesa, não podem ser acolhidos tal como os pais dela foram, porque certamente não estão ungidos por uma vaca sagrada indiana. Para estes imigrantes, de agora, o sonho de uma vida melhor para si e para os seus filhos não pode ser realizado num país rico do primeiro mundo, nem beneficiar de bolsas de estudo, ainda que parciais, no Reino Unido, pois o máximo que esta racista e xenófobo tem para dar é um acordo feito com o Ruanda e o repatriamento para este país africano, destes imigrantes, a troco de uns patacos.

Como é possível chegar a este ponto na solidariedade humana?

A história já nos tinha ensinado que os “guardas do campo” foram em certas circunstâncias piores que os seus carcereiros.   

Talvez esta Secretária do Interior (eurocética, convicta???) ainda não se tenha apercebido que a após o «Brexit» (do qual beneficiou regaladamente de um programa de Erasmus e de uma estadia em França), se deve ter destravado algum mecanismo inibidor das expressões de racismo no Reino Unido, pois os episódios de racismo e xenofobia multiplicaram-se exponencialmente, ao ponto de tentaram, por exemplo, tirar o turbante de um cidadão de origem indiana.

A senhora que se cuide, pois os “guardas do campo” poderão ser da origem dela!...

sábado, 1 de outubro de 2022

O CERCO DO COBARDE! – Parte XIII (A anexação de territórios rapinados)

Hoje, 30 de setembro de 2022, o presidente Putin consumou a anexação à Rússia dos territórios rapinados à Ucrânia, a saber: Kherson, Zaporíjia, Lugansk e Donetsk.

Estes territórios que são parte indissociável da nação ucraniana, foram objeto de referendos organizados e realizados por Moscovo no passado dia 26 de setembro, através de comissários seus enviados para cada uma daquelas regiões da Ucrânia.

 O resultado dos referendos, por obscenos, não merecem referência.

Esta violação grotesca do direito internacional e da integridade territorial da nação ucraniana é, acima de tudo, uma despudorada manifestação de terrorismo de Estado perpetrado por um país contra um seu vizinho, totalmente intolerável e condenável em pleno séc. XXI e representa uma provocação à comunidade internacional e uma ameaça à paz mundial, sem precedentes.

Dir-se-á que o mesmo se tem passado um pouco por todo o mundo. Com esta desfaçatez, não!

O dilema está instalado. A Ucrânia e a restante comunidade internacional não reconhecem a integração desses territórios na Rússia, daí manterem-se as ajudas incluindo militares à Ucrânia, bem como as sanções. A Ucrânia, para defender a sua soberania, vai tentar recuperar esses territórios, como fez e faz, de resto, na Crimeia. Resultado, os russos vão reagir com se os territórios fossem seus tentando inverter os papeis de invasor para invadido. Isto já foi declaradamente dito, pelo chefe dos invasores.

O que é mais assustador é que, para alem do descarado roubo de territórios à Ucrânia, a Rússia prepara-se para prolongar a guerra até á liquidação total deste país. Para isso, já fez um ensaio geral de mobilização da sua população para a guerra, à força, pois falta-lhe outros argumentos. Esta escalada militar, depois do falhanço do seu exército regular mais as forças mercenárias ao seu serviço, na Ucrânia, transporta o conflito para outra dimensão de resultados totalmente imprevisíveis. Ao envolver a sociedade civil russa na invasão, Putin demonstra um total desprezo pelos seus cidadãos e uma obsessão única. Restaurar a união soviética, sem comunismo, mas com totalitarismo e «assalto à mão armada».

Com o cinismo próprio dos déspotas, Putin diz que está a ser formada uma "ordem mundial mais justa" para se contrapor a "uma hegemonia unipolar", promovida pelo Ocidente, que disse estar "em colapso". Assumindo-se como o protagonista principal para a criação dessa “ordem mundial mais justa”, Putin, exemplifica através da invasão da Ucrânia, como o pretende fazer. Invasão militar de países vizinhos (e não só), desmembramentos desses países, nomeação de autoridades fantoches, para governar os escombros, eliminação de populações e símbolos nacionais, russificação dos territórios ocupados e campos de “filtragem” para os resistentes.

O Presidente russo, atribui os conflitos na ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), incluindo o atual entre a Rússia e a Ucrânia, como causa do "colapso da União Soviética". Diz ele, "Basta olhar para o que está a acontecer agora entre a Rússia e a Ucrânia, o que está a acontecer nas fronteiras de alguns países da ex-União Soviética. Tudo isso, obviamente, é resultado do colapso da União Soviética", disse o líder russo, durante uma reunião com autoridades dos países membros da Comunidade de Estados Independentes (CEI), que reúne as ex-repúblicas soviéticas.

Dá para perceber a "ordem mundial mais justa" que Putin pretende construir.

Que se cuidam os países anteriormente pertencentes à União Soviética. E os outros também!

terça-feira, 27 de setembro de 2022

ITÁLIA - NUMA DAS EXTREMAS DO REGIME DEMOCRÁTICO

Disse um dia Winston Churchill que "a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros". Apesar de gasta, lembramo-nos de a citar, pois continua a ser das melhores para usar na hora de defender as virtudes dos sistemas políticos ocidentais. A democracia em Itália apresta-se a passar por tempos difíceis e seguramente irá ser posta à prova em todas as suas dimensões. “Esticada” até à sua extrema-direita a Itália irá experimentar, pela primeira vez, após a sua adesão à União Europeia em 1958, governar contra os princípios fundadores da União, assentes nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Ora, esta coligação de direita e extrema-direita italiana que acaba de ganhar as eleições, tem no seu programa (e ADN), uma oposição feroz à chegada de migrantes. A líder da extrema-direita e futura primeira-ministra, opõe-se à imigração e já ameaçou o bloqueio naval de países do Norte da África para impedir a chegada de barcos de refugiados. Tem uma agenda clara de incompatibilidade com a comunidade LGBTQIA+. Declarou ser contrária à adoção por casais gays, com o argumento que é melhor para uma criança ter mãe e pai. É dela uma emenda, como deputada, que estenderia a proibição da barriga de aluguer para italianos no exterior.

De raiz neofascista, Giorgia Meloni para suavizar a sua imagem e a do partido às eleições, em plenos preparativos para a campanha eleitoral, terá instruído as direções regionais do partido “Irmãos de Itália (Fratelli d`Italia, ou FDI,​ na sigla italiana) FdI” a alertarem os membros para evitar declarações mais extremas, menções à ideologia fascista e para não fazerem em público a “saudação romana”, que consiste em estender o braço direito, num gesto semelhante à saudação nazi.

De certa forma, a União Europeia já vinha sendo confrontada com Estados membros, violadores dos princípios fundadores da União. O caso da Hungria e da Polónia, são casos paradigmáticos. Porém, a Itália, um dos países cofundadores da União Europeia, representa um golpe nas aspirações democráticas da União, uma vez que são conhecidas as visões eurocéticas e até “Itaxit” dos partidos de direita e extrema-direita, vencedores das eleições legislativas. A tudo isto acresce que, a Itália, tem uma forte dependência do gás russo, e há quem tema que a Itália se torne o “cavalo de Troia” da Rússia, com a chegada ao poder de um pró-Putin. As incertezas, estão aí.

Resta-nos confiar que a democracia italiana conterá em si os necessários mecanismos para fazer face aos desafios com que irá ser confrontada.

Definitivamente, a Europa está instável!