Guy Mettan é cientista político e jornalista.
Iniciou sua carreira jornalística no Tribune de Genève em 1980 e foi seu
diretor e editor-chefe em 1992-1998. De 1997 a 2020, foi diretor do “Club
Suisse de la Presse” em Genebra. Atualmente é jornalista e escritor freelancer.
Guy Mettan, é um jornalista e
político suíço, membro do Partido Popular Democrata Cristão da Suíça. Diz a Wikipédia, que o Partido Democrata Cristão é um
partido político suíço de centro-direita, membro minoritário da coligação dos
quatro partidos do Conselho Federal. Fundado em 1848 como Partido Católico
Conservador, adotou o nome atual em 1970.
Feito
este introito, deu à estampa um longo artigo de Guy Mettan, sobre a Ucrânia,
que Ana Paula Fitas, investigadora, docente e interventora social, recomenda viva
e seriamente, a sua leitura, na tradução do Senhor General Luís Cunha, e “da
sua generosa e relevante partilha, indispensável ao direito à informação plural
e objetiva que é um dos direitos fundamentais dos cidadãos” (sic)
Interessado
que sou sobre a matéria e convicto opositor da invasão da Rússia à Ucrânia,
sejam quais forem os motivos e/ou justificações que se arranjem, fui ler de
espírito aberto, as visões que se encontram espelhadas no artigo, na esperança
de ler algo de novo.
Tenho
de ser franco, nada de novo! As teses pró-russas explanadas e as contundentes
críticas à europa ocidental, acriticamente dependentes dos Estados
Unidos da América (EUA), como se alega, em nada me surpreende face aos
discursos (pró-russos) proferidos após 24 de fevereiro de 2022.
No
entanto deteto alguma incoerência neste texto do democrata cristão suíço (cientista
político e jornalista), que não se pode deixar passar em claro. Vejamos
Diz
o Democrata Cristão Suíço, logo no início do seu texto que, esta foi “Uma
guerra inevitável e improvisada.” Esta parecer ser a primeira divergência
(semântica), com Putin. Este assume, que realizou (e está em curso) uma
“operação militar especial”, na Ucrânia. Diz o democrata cristão, que “As
análises dos peritos mais qualificados (em particular dos americanos John Mea
rsheimer e Noam Chomsky), as investigações de jornalistas como Gens Greenwald e
Max Blumenthal, e documentos apreendidos pelos russos – a interceção de
comunicações do exército ucraniano a 22 de janeiro e um plano de ataque
apreendido num computador abandonado por um oficial britânico – mostram que esta
guerra foi inevitável e muito improvisada.”.
Dito
assim, até parece que os ucranianos se preparavam para desferir um ataque
contra território russo. A ser verdade o que escreve, tudo indica que os
ucranianos se preparavam (e preparam), para reconquistar os territórios
ocupados por separatista, com o apoio militar da Rússia, na
Crimeia e dentro de pouco tempo no Donbass. E isto é relevante.
Na
Europa ocidental, durante décadas e décadas, vários grupos separatistas em
alguns Estados Europeus, praticaram ações, incluindo terroristas, para proclamar
a independência dos seus territórios. Imaginem, que alguns desses grupos tinham
o apoio militar explicito de países terceiros, com “operações militares
especiais”, para garantir o território para esses grupos de separatistas. Imaginem,
por exemplo, a França a apoiar explicitamente o grupo separatista basco, para
se independentizar da Espanha; ou a Irlanda do Norte, para se separar do Reino
Unido; ou a região de Flandres, na Bélgica, que reivindica a soberania para os
Países Baixos e ainda a Galiza, na Espanha, que reivindica a soberania para
Portugal.
O
que é que a península da Crimeia tem de diferente de outras regiões na Europa e
no mundo, que são parte integrantes de países reconhecidos pela comunidade
internacional, há muito? A que propósito se defende a desintegração territorial
de um país? O que justifica esta “adesão” de intelectuais, jornalistas e outros,
por uma invasão de um país por outro? A Crimeia, que é uma Républica Autónoma
da Ucrânia, foi anexada pela Rússia, militarmente, em 2014. De 2014 a 2022,
inclusive, a Europa Ocidental e os Estados Unidos da América, por omissão,
sufragaram esta anexação.
É
de acreditar, que esta passividade da Europa Ocidental e dos Estados Unidos da
América, quanto à “facilidade” da anexação da península da Crimeia, pelos
russos, terá criado a convicção ao ditador Putin que o restante território
teria os dias contados, caso persistissem, na sua veia independentistas.
Para
o democrata cristão suíço, porém, esta era uma guerra inevitável, também, por
outras razões. Diz ele, com alguma ingenuidade (?), “que desde a declaração
de Zelensky, em abril de 2021, sobre a possível recaptura da Crimeia à
força, ucranianos e americanos decidiram desencadeá-la o mais tardar no início
deste ano. A concentração das tropas ucranianas no Donbass desde o verão, as
entregas maciças de armas pela NATO durante muitos meses, o treino acelerado de
combate dos regimentos azov e do exército, a intensificação do bombardeamento
de Donetsk e Luhansk pelos ucranianos, em particular entre 16 e 23 de fevereiro
(tudo isso é claro que permaneceu ignorado pelos meios de comunicação
ocidentais), provam que uma grande operação militar estava planeada por Kiev
para o final do inverno.”
Pois,
quer a recaptura da Crimeia, quer o fortalecimento e intensificação militar da
região de Donetsk e Luhansk pelos ucranianos, de nada serviram, como se sabe,
visto que os russos, em 21de fevereiro, na sequência do apoio militar explicito
aos grupos separatista, e como claramente declarou Putin: “Considero
necessário tomar uma decisão há muito esperada". Reconhecer imediatamente
a independência e a soberania da República Popular de Donetsk e da República
Popular de Luhansk. Peço à Assembleia Federal da Federação Russa que apoie esta
decisão e depois ratifique os tratados de amizade e assistência mútua com ambas
as repúblicas.
“Se
era uma decisão há muito esperada”, nada teria a ver com movimentações
recentes. Só não foi, também, em 2014, pois o resultado seria ainda pior. E
esta é a diferença, que o democrata cristão suíço (e outros), fingem que não
percebem. Quando a comunidade ocidental e a Ucrânia, assistiram impávidas e
serenas à captura da Crimeia, imediatamente perceberem, que não podiam tomar a
mesma atitude perante a “gula soviética”, para o restante território ucraniano,
designada e principalmente, a região do Donbass, com a conquista de outro porto
importante da Ucrânia, Mariupol, que liga com a Crimeia e o Mediterrâneo.
Mas
a “recaptura” da Crimeia (que não aconteceu), “à força”, pelos ucranianos,
podia sê-lo de outra forma? Alguém acredita (exceto, este democrata cristão
suíço), que os russos aceitariam restituir os territórios anexados, só porque
sim? Se os EUA, se opunham à anexação da Crimeia, pelos russos, demoraram 8
(oito) anos para o demonstrar. Se a Europa Ocidental se opunha à anexação da
Crimeia pelos russos, demoraram, igualmente, 8 (oito) anos, para o demonstrar.
Ou,
o que está subliminarmente assumido, por estes “cientistas políticos”, é a
perda de territórios da Ucrânia para a Rússia, como «conditio sine qua non», à
sua sobrevivência como país. Porém, por mais que estes cientistas políticos nos
tentem fazer convencer das suas teses putinistas, a verdade é que a questão
ucraniana, infelizmente, é só uma e bem mais simples de explicar.
Putin percepcionou em 24 de fevereiro de 2022, uma oportunidade de dissolver a Ucrânia
como um Estado independente. Essa oportunidade não quer perdê-la. Assim, Putin
e seus acólitos, só deixarão a Ucrânia em “paz”, quando esta se
desmilitarize, mude a sua constituição para garantir neutralidade, reconheça a
Crimeia como território russo e reconheça as regiões separatistas de Donetsk e
Lugansk como estados independentes.
Enquanto
tal não acontecer, os russos, destroem cidades, vilas e aldeias, ucranianas,
matam civis indiscriminadamente, são protagonista do maior êxodo de refugiados
depois da segunda guerra mundial e, tristemente, dispõe de uma desproporção
militar com os Ucranianos de um para dez.
O
desastre humanitário na Ucrânia e nas suas fronteiras é trágico e não há uma
poderosa força de dissuasão a um avanço militar russo.
Termino,
lembrando que em Agosto de 1942, Hitler descreveu a Suíça como "uma
espinha na face da Europa" e como um estado que não tinha mais o direito
de existir, denunciando o povo suíço como "um ramo desvantajoso do nosso
Volk” (povo).
O
democrata cristão suíço, Guy Mettan, ainda não tinha nascido!...