quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

A Inglaterra, foi-se!

Hoje, dia 01 de fevereiro de 2020, a União Europeia, perdeu um dos seus membros, a Inglaterra, por vontade unilateral desta. Para além de algumas brechas e rombos financeiros, que estes divórcios sempre acarretam, a perda da Inglaterra, na construção europeia, é mais sentida, não tanto pelo contributo que esta deu durante a sua permanência, mas antes, e sobretudo, pela importância do Reino Unido na história da Europa.
Durante 47 anos de permanência na UE, a Inglaterra sempre foi um mau parceiro e muito pouco solidário na construção europeia. Salvam-se alguns períodos, admito. Mas mesmo nesses, a Inglaterra sempre esteve mais fora do que dentro. O Ministro dos negócios estrangeiros português, dizia ontem que, embora Portugal e a Inglaterra tivessem a mais velha aliança era bizarro ver os dois países nas questões europeias. Portugal, sempre europeista e a Inglaterra sempre euro céptica. Eram como dois irmãos cada um a puxar para seu lado, digo eu. Só que o drama não é este. Este é o menor dos males. O drama é que a despedida britânica do clube europeu traz bastantes preocupações aos emigrantes portugueses no Reino Unido. Há cerca de 300 mil portugueses a viver no Reino Unido, a maioria, certamente, com a sua situação regularizada, mas ainda há quem não se tenha registado. Ora, se até 31 de dezembro de 2020, ainda o podem fazer, a partir de 2021, será o Reino Unido a estabelecer a sua própria política de migrações. Uma das bandeiras dos defensores Brexit era a de que a saída deixa o caminho livre para que o Reino Unido possa alterar a política de portas abertas para cidadãos da UE, que consideram uma política cara e fora do controlo, e bloquear a vinda de imigrantes fora da UE. Há que temer algum preconceito racial. O clima a partir de agora, vai ser outro. Que se cuidem, os que lá estão ...
Luis Ferreira, Isabel De Almeida e 2 outras pessoas
1 comentário
Gosto
Comentar

Comentários

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A morte por eutanásia carece de “vida”?


O debate está aí, de novo!  
Desde 2017, com votação negativa na AR, em maio de 2018, que a questão da despenalização da eutanásia em Portugal tem sido tema de debate com diversos matizes. Naquela época, o debate centrava-se na questão essencial, ou seja, a dimensão ética da eutanásia a qual se dizia não cabia em princípios gerais, como o da simetria ou o da diferença moral 
hoje o debate político sobre esta matéria não tem qualidade. Aqueles que foram os grandes vencedores da rejeição da lei da despenalização na AR, em 2018, são os mesmos que agora defendem a realização de um referendo, exatamente com o argumento de que a AR não tem legitimidade para legislar sobre esta matéria. 
O debate agora é esquerda/direita. Ou melhor esquerdas/direitas e extrema-direita. E a igreja católica, claro! 
Esta, pela voz do secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), no final da reunião do Conselho Permanente, disse que o referendo, "embora a vida não seja referendável", pode ser, nas atuais circunstâncias, uma forma "útil para defender a vida no seu todo, desde o princípio até ao seu fim natural". 
Claro que esta posição não é mais do que “empurrar com a barriga para a frente”.  Adiar é o lema! 
Nesta segunda investida legislativa sobre a eutanásia, ouvem-se slogans do tipo “não matem os velhinhos”, o que denota uma ignorância só comparável àquela que dizia “que os comunistas comiam criancinhas” 
A questão central, porém, permanece. Deverá ou não ser permitido aos cidadãos em certas circunstâncias pôr termo à vida? Deverá ou não ser permitido aos cidadãos em certas circunstâncias ter uma morte assistida? 
Partindo da perspetiva filosófica de que a morte é uma dimensão da existência humana, já que somos finitos e mortais, temos o direito não apenas de viver de modo digno, mas também o direito de morrer com dignidade, sem sofrimento ou sem um prolongamento artificial do processo de morrer (distanásia). Isso, porém, não nos dá o direito de abreviar a vida (eutanásia). Ou dá? 
Temos o direito não apenas de viver de modo digno, mas também o direito de morrer com dignidade. Entre o não abreviar e o não prolongar está o cuidar com arte e humanidade, ou seja, garantir a morte em paz e sem sofrimento (ortotanásia), proporcionada pela prática dos cuidados paliativos. 
 Quer isto dizer, portanto, que a eutanásia pode ser defendida ou rejeitada a partir das suas consequências. No primeiro caso, defende-se a eutanásia porque ela tem a consequência de minimizar o sofrimento; no segundo, rejeita-se a eutanásia porque ela tem a consequência de diminuir a confiança nos profissionais de saúde. 
A despenalização e regulamentação da morte medicamente assistida em Portugal, tem de considerar que as pessoas em pleno uso das suas faculdades mentais, mas perante um sofrimento profundo ou uma doença incurável, devem ter liberdade de escolha, ou seja, liberdade para decidir morrer. O tema da eutanásia e do suicídio medicamente assistido tem de ser enquadrado no plano da consciência individual precisamente por ser uma decisão profundamente íntima e pessoal na qual o Estado não tem direito a intervir. 
Para Laura Ferreira dos Santos, autora de vários livros sobre esta matéria, e fundadora do movimento "Direito a morrer com dignidade" defende ainda que, sendo esta uma questão que se coloca no plano pessoal, não pode nem deve ser decidida por Referendo uma vez que não é à maioria que cabe decidir algo tão intimo e profundo como decidir morrer. 
Esta autora e bem, considera que, tal como o direito à vida, o direito à morte é um direito fundamental. 
No próximo dia 20 de fevereiro vão ser debatidos e votados (espera-se) no nosso Parlamento, cinco projetos de lei para despenalizar a eutanásia. As diferenças entre eles são poucos, tendo em comum, porém, o deixar de fora menores e pessoas incapazes. 
Espera-se que Portugal, á semelhança do que aconteceu em Espanha, na semana passada, reponha o quadro de direitos a todos aqueles que pretendem morrer com dignidade, sem sofrimento ou sem um prolongamento artificial da vida. 
Também este é um direito inalienável 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Delação Premiada – “… a legalização (parcial) da corrupção.”


Não posso estar mais de acordo. A chamada “delação premiada”, não é mais de que um ato de corrupção, praticado pelo Estado, através do Ministério Público (MP). Como sugere, e bem, o Juiz Jubilado Noronha do Nascimento ([1]), “… na delação premiada o investigador promete ao arguido que, se este contar a versão que de outro modo não contaria, o liberta de qualquer punição ou lhe reduz a pena. Em condições normais, isto é corrupção: o investigador tira vantagem em obter uma prova que de outro modo não obteria, e o delator tira vantagem ao ser absolvido (ou sofrendo uma pena menor) por um crime que cometeu. Daí que a delação premiada seja, verdadeiramente, uma corrupção legalizada – e legalizada pelo tribunal.
Mas o problema maior surge quando o delator conta uma versão falseada que interessa ao investigador ou que interessa a si mesmo para salvar a sua pele.”

Vem este tema a propósito do anúncio feito pela Ministra da Justiça, no passado dia 09/12/2019, que o Governo tinha criado um grupo de trabalho com o objetivo central de estudar novas ferramentas para reforçar a investigação, no combate a corrupção, reduzindo os trâmites judiciais e os megaprocessos, com a criação de juízos especiais para julgar corrupção e crimes conexos, a possibilidade de os arguidos fazerem acordos em julgamento e melhorar a lei sobre o direito premial são algumas das intenções do Governo para a área da justiça.

Este meritório impulso do Governo, na área da justiça, designadamente, instituindo uma estratégia nacional de combate à corrupção, com "uma forte dimensão preventiva”, mereceu no entanto uma atenção exagerada (pressão?), sobre a chamada “delação premiada”, muitos pretendendo a sua ‘brasileirização’ no sistema jurídico-penal português. É claro, que a Ministra da Justiça já se tinha pronunciado sobre esta matéria, se calhar antevendo a “veia” justicialista que se iria fazer ouvir. Disse a Ministra a propósito: “A delação premiada é uma realidade que existe em determinados países. Portugal não tem propriamente o mesmo histórico e tradições jurídicas. Nós temos instrumentos próprios e iremos trabalhar os nossos instrumentos”.

Acertadamente o fez. Na verdade, num país de tradição pidesca é certo e sabido que a mais leve abertura a esta ferramenta, com os contornos que existem no Brasil ou mesmo a figura próxima nos Estados Unidos (“plea bargain”), enchem de “coragem“ os “bufos”, que por herança ou vocação própria povoam o nosso dia-a-dia.

Aliás, na maior parte da Europa (com algumas exceções, como a Itália e a Inglaterra) não existem muitas políticas que incentivam a delação premiada. Isso porque os países europeus buscam outros meios formais para descobrir fraudes, sem precisarem utilizar a delação. Portugal, nesta matéria, tem seguido o exemplo da maioria.

É claro que para alguns sectores do Ministério Público Português (MP), mais dados à “judicialização da política”, a ideia da delação premiada os seduz (sobretudo em processos mediáticos), por estarem convencidos que, no momento da acusação, a delação premiada terá permitido reunir indícios suficientes que permitam sustentar que a condenação em julgamento é mais provável do que a absolvição, dando-lhes por isso, uma aparente, sensação de vitória.

O problema é que as grandes delações que criam a ilusão de uma grande condenação são as mesmas delações que podem dar lugar a grandes absolvições, quer por assentarem em verdadeiros negócios com delatores que praticaram crimes e cuja credibilidade está necessariamente abalada, quer por força de invalidades na forma como a prova foi obtida.

O exemplo brasileiro é tão negativamente vivo e presente que, só por si, serviria de repulsa à utilização desta ferramenta, no sistema jurídico-penal português.

Nós não temos inscrito no nosso sistema jurídico-penal esta figura da delação premiada. Porém, embora, o Código Penal Português, na sua Parte Geral, cuide da atenuação geral e especial da medida da pena, dando nomeadamente relevância legal ao arrependimento, não se pode afirmar que estamos no âmbito de um verdadeiro direito premial. A verdadeira premiação surge sim, no entanto, na Parte Especial do Código Penal, nos artigos (i) 368º-A (que pune o crime de branqueamento, prevê uma atenuação especial da pena, no nº7 e n.º 9, do mesmo artigo), (ii) o artigo 374º-B (que trata da dispensa e atenuação da pena no âmbito do crime de corrupção e recebimento indevido de vantagens); (iii) na Lei 52/20003, de 22 de Agosto (Lei de combate ao terrorismo, que prevê no seu artigo 2º nº5, artigo 3º nº2 e artigo 4º nº3 uma atenuação especial da pena quando o agente abandonar voluntariamente a sua atividade ou auxiliar concretamente na recolha das provas decisivas para a identificação ou a captura de outros responsáveis); e (iv) no Decreto-Lei nº15/93, de 22 de Janeiro (prevê uma especial atenuação da pena ao agente que abandonar voluntariamente a sua atividade, ou auxiliar concretamente as autoridades na recolha de provas decisivas para a identificação ou captura de outros).

Que as mudanças que vierem a ser propostas no direito premial para combater a corrupção não alterem o atual modelo penal, é uma garantia que deve ser reconfirmada.





[1] LUÍS NORONHA NASCIMENTO, Juiz jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, Blogue “Aspirina B”, de 12-05-2018

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O atual estado do pluralismo político em Portugal



Com a revolução de Abril de 1974 e a instauração da democracia, pluripartidária, habituámo-nos, desde o inico, a viver e conviver com quatro grandes partidos do “sistema “, a saber, o PS, o PSD, o PCP e o CDS. Alguns destes partidos (PCP e PS), até são anteriores à revolução e, em certa medida, lutaram, cada um à sua maneira, para derrubar a ditadura. Antes que “caia o Carmo e a Trindade”, deve-se consignar que quer a UDP quer o PRD, quer o PSN, chegaram a ter representação parlamentar em 1980, 1985 e 1991, respetivamente. Porém, foram partidos episódicos, hoje extintos quer por fusão em outros partidos quer por extinção pura.

Assim se manteve a democracia de Abril, até 1999, data em que são eleitos dois deputados da nova formação politica, nascida da concentração de pequenos partidos à esquerda do PCP e do PS. O Bloco de Esquerda (BE). O BE, até à presente data, embora de percursos errante até 2009, onde passou a ter uma representação expressiva (16 deputados), sofrendo um “abalo” nas eleições de 2011, onde recuou para os oito deputados, não mais parou de crescer até à data, estabilizando nas últimas eleições nos 19 deputados que, de resto, já vinham das eleições de 2015.

Constata-se, pois, que de Abril de 1974 a 1999, a nossa democracia pluripartidária foi assente em quatro grandes partidos e que o aparecimento de um novo partido, em 1999, deu-se à esquerda do espetro político-partidário, ou seja, para lá do PS e do PCP. É sabido, contudo, que o Bloco de Esquerda, para além de ser formado por pequenos partidos da extrema-esquerda portuguesa (UDP, PSR, Politica XXI e outros movimentos), contou também com a adesão de alguns descontentes do PCP e do PS.

Com as eleições legislativas de 2019, uma nova brecha se dá à esquerda, agora com a conquista de representação parlamentar do LIVRE, partido fundado em 2014, por alguns dissidentes do BE. O LIVRE como lembra e bem Sá Fernandes, “É o primeiro partido da esquerda portuguesa que não vem do marxismo ou do leninismo. É um partido de gente jovem, maioritariamente nascida depois do 25 de Abril, que não deve fidelidades aos “ismos” que sempre dividiram a esquerda portuguesa. É europeísta e cosmopolita, luta pelos direitos colectivos, mas também é um defensor acérrimo dos direitos individuais.”

No momento em que escrevemos, o LIVRE está envolto em polémica, por causa da gaguez da sua única deputada eleita Joacine Katar Moreira. Esta polémica é inútil e baseia-se na falta de argumentos políticos dos seus opositores, já que, com diz a própria deputada, «a sua gaguez é apenas quando fala, não quando pensa, ao contrário dos indivíduos que estão na Assembleia da República».

Mas muito mais significativa, foi a fratura que se deu na direita tradicional portuguesa com o “nascimento” de novos partidos saídos do seu seio, também aqui, posicionando-se à direita do espetro político partidário, ou seja, para lá do PSD e do CDS. Esta é, talvez, a maior novidade nascida das eleições legislativas de outubro de 2019. O assento parlamentar de dois novos partidos na Assembleia da República, de feição claramente de direita se não mesmo, de extrema-direita.

Portugal foi, até então, um dos poucos países da Europa que resistiu aos ventos dos populismos e dos nacionalismos, que grassam pelo mundo, de inspiração protofascista e de acentuado pendor racista, xenófobo e de forte discriminação étnico-racial, que com a chegada ao poder de Trump, Orban, Salvini, Bolsonaro e tantos outros, se vem disseminando um pouco por todo o lado, com preocupações acrescidas para nós europeus.

Hoje, os representantes desta corrente mundial já tem assento na Assembleia da República Portuguesa. Essa terá sido a recompensa do trabalho levado a cabo por grandes centrais dos populismos e nacionalismos, liderados por ideólogos da “supremacia branca”, com particular destaque, para "Steve" Bannon ex-assistente do presidente e ex-estratega-chefe da Casa Branca no governo Trump.

Em meados de 2018, Bannon criou “The Movement” (O Movimento), uma organização que visou justamente promover grupos políticos nacionalistas e populistas de direita na Europa, contando, no princípio, com o apoio de políticos italianos (Matteo Salvini), belgas, húngaros (Viktor Orbán) e britânicos (UKIP), além da perspetiva de adesão de neerlandeses (Partido pela Liberdade e Fórum para a Democracia). Bannon é apoiado financeiramente, entre outros, pela milionária família Mercer (gestora de fundos de investimento), através da qual construíram a base mediática na defesa do movimento populista e anti-establishment.

É através “The Movement”, que as novas formações políticas, nacionalistas e populistas, se financiaram, para chegar ao poder e espalhar a sua “mensagem”. Assim aconteceu, também em Portugal.

Dificilmente ficaríamos imunes a esta “estirpe contagiosa” que grassa pelo mundo e que no nosso caso só não se desenvolveu mais cedo, por estar camuflada nos dois partidos da direita tradicional portuguesa que serviu de “esconderijo” a estas criaturas.

Rompidas as malhas, ai estão eles no seu esplendor …





































sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Governo forte, com aliados fortes!


Em entrevista à TVI, António Costa (AC), secretário-geral do PS disse que é absolutamente impossível existir uma coligação formal de governo à esquerda na próxima legislatura e reconheceu que os portugueses não gostam de maiorias absolutas. Ou seja, (AC), não quer ministros do Bloco de Esquerda e do PCP no Governo, caso o PS vença as eleições, claro.
Dito desta maneira, parece que Costa não afasta uma coligação formal de governo à direita ou, pelo menos, com o PSD. É certo que em maio deste ano, Costa rejeitava a solução “bloco central”, afirmando “que a governação conjunta de PS e PSD "empobrece a democracia". Sobre isso, aparentemente, parece que todos estão de acordo. Mais, a solução governativa encontrada por Costa, nesta última legislatura, mostrou-se razoavelmente eficaz. Mas como deverá ser aprofundado o debate político, para que a solução que resulte das próximas eleições legislativas de outubro, possa criar condições efetivas para enfrentar os grandes desafios da sociedade portuguesa, como sejam o da pobreza estrutural, o da precariedade do emprego, o da redistribuição justa e equilibrada da riqueza produzida, a elevação dos níveis de escolaridade dos portugueses, o combate efetivo às assimetrias nacionais, regionais e locais, dando prevalência ao modelo da regionalização, o combate sem tréguas à corrupção, com uma nova cultura jurídica da investigação, onde possa voltar a funcionar o princípio in dúbio pro reo, o que pressupõe, a chamada efetiva à justiça de suspeitos da prática de crimes e não este espetáculo indecoroso de permanentemente os “suspeitos” se encontrarem em “banho-maria” na imprensa, com a narração de “factos” que não se conhece a origem, mas que alimentam sofregamente estes veículos e geram na opinião pública um sentimento, verdadeiro, de impunidade, parcialidade, amiguismo, partidarismo, encobrimento e até colaboração disfarçada ou expressa entre poderes, políticos e magistrados e, o grande poderoso, poder económico. Acabar com os megas processos, é uma lição a tirar deste passado recente. Tudo isto é feito, com a aparência de legalidade e normalidade, numa ofensa expressa a todos os cidadãos, numa sociedade que cada vez se apresenta mais doente e, por isso mesmo, gere o aparecimento de novos “curandeiros” e “pastores”, todos eles portadores de mensagens de natureza discriminatória, o que fere o princípio da igualdade, como distinção, exclusão, restrição ou preferências, motivado por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou convicções políticas. O clima internacional a isso é propício.
Em outubro, portanto, terá de haver um governo forte, com aliados fortes, para combater estes “fungos” e, terminado o ciclo, pós-troika, estruturar a política e a governação para as grandes questões nacionais, que urge fazer. Enfrentar os lóbis com coragem e determinação, denunciar atempadamente as pessoas e organizações que minam o tecido social, ter uma política pública de saúde exigente e sem tibiezas, enfrentar o sistema de educação, como a prioridade das prioridades, chamando à participação de boa-fé todos os agentes que participam no processo educativo, não criando clareiras e/ou vazios que possam ser ocupados por oportunistas e profissionais do caos; colaborar ativamente com o mundo do trabalho, dinamizando a concertação social, fomentando o respeito pelas leis e convenções estabelecidas e arbitrando conflitos potenciais ou emergentes, tomando a iniciativa, não só no sector da sua responsabilidade, como em todo o restante mundo do trabalho; ter uma política ativa de promoção da habitação, em todo o território nacional, para isso colaborando de boa-fé com todas as autarquias, com vista a eliminar a pobreza de habitação que ainda se encontra um pouco por todo o país; eliminar o flagelo da falta de água, luz e comunicações em muitas das habitações em Portugal; dar prioridade aos pobres, às crianças, aos velhos, e aos mais desfavorecidos, nas políticas públicas a implementar pelo governo saído das eleições de outubro é um imperativo nacional, que só um governo forte, com aliados fortes, poderá concretizar. Estes são desígnios da esquerda, e fazem parte da matriz dos partidos da esquerda.  Há que concretizá-los.

P.S.: O dinheiro para isto tudo? Depois da prevalência da canalização de recursos financeiros do Estado (a) para o sector bancário e financeiro, qualquer coisa como vinte e quatro mil milhões de euros; (b) para os benefícios fiscais às empresas, pelo menos em cerca de ¼ e (c) para a manutenção de algumas subvenções partidárias, que deverão ser drasticamente reduzidas exemplos de entre outros), creio que é possível iniciar o percurso de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais solidaria, desviando agora esses recursos para estes fins. Permitir bolsas de riqueza, perfeitamente escabrosas, num país com taxas de pobreza como o nosso, em especial, nas crianças e nos idosos, é uma afronta à dignidade e aos valores inerentes à condição humana.



quarta-feira, 7 de agosto de 2019

O contrassenso ou a mentira piedosa? (Os fins nunca justificam os meios)


Ontem, em futebol, jogou-se a supertaça Cândido de Oliveira, entre o Benfica e o Sporting. Ganhou o Benfica, por uns expressivos 5 (cinco) a zero. Dir-se-ia que as hostes benfiquistas rejubilaram de alegria e festa por mais esta conquista tão motivadora para início de época. Porém, alega-se que não foi assim. Miguel Albuquerque, diretor das modalidades leoninas, disse ter sido atacado por 15 adeptos do Benfica no final da Supertaça. Segundo ele, quando se dirigia para o seu carro, foi cobardemente atacado por cerca de 15 adeptos do Benfica devidamente identificados com camisola desse clube, que ao me reconhecerem avançaram em grupo desferindo vários murros na cabeça, socos e pontapés. Por esta descrição, os adeptos do Benfica afinal não estavam felizes mas com raiva por terem ganho ao Sporting e logo por cinco a zero. É incompreensível, não é? É facto que o adepto nem sempre racionaliza os seus atos. É facto também que os adeptos do Benfica ou do Sporting em dérbi, não são das pessoas mais amistosas. Em regra, os adeptos da equipe que perde “verbalizam” as suas frustrações ou a frustração da derrota, em atos impensados. Também é verdade que alguns adeptos da equipe que ganha nem sempre sabem comemorar de forma civilizada a vitória. Tudo isto vem nos livros.

Já é estranho, muito estranho, que alguns adeptos da equipe categoricamente vencedora, alegadamente tenham partido para a agressão física de um diretor das modalidades da equipe vencida, a pretexto da vitória. É surreal, no mínimo …!

Menos surreal, muito menos, foi o que eu ouvi hoje à hora do almoço, da boca do empregado de mesa, um indefetível Sportinguista, de reação à derrota. “Sabe, p’rá quela gente era uma decisão sumária, tipo Alcochete. Quais Bas Dost, é tudo a chupar …”. Não reproduzo na íntegra, porque não é relevante. Apenas demonstra a deceção do adepto do Sporting, perante tão copioso derrota e, mais que isso, o sentimento de que essa responsabilidade é da atual direção e dos jogadores (alguns?). Este comentário, que é parte de um comentário maias vasto, realmente, contém alguma “violência” verbal que, se se ficar por aqui, nenhum mal traz ao mundo. Pior é quando esta “violência” verbal é o rastilho para a violência física, com atos de vandalismo, inaceitáveis.

Devem as autoridades, em tempo, investigar o que se passou e sinalizar os autores dos crimes que foram cometidos. Hoje, com os meios ao dispor, sistemas de videovigilância e outros, é possível com alguma rapidez chegar aos autores dos ilícitos penais e afastar de vez (ou não) a suspeição que recai sobre adeptos do Benfica. O facto de os autores das agressões, como diz a vítima, estarem devidamente identificados com camisola desse clube, não prova que sejam adeptos do Benfica, assim como um grupo de criminosos vestidos de polícias, roubaram 720kg de ouro no aeroporto de Guarulhos, Brasil, e hoje sabe-se que não eram polícias.


sexta-feira, 2 de agosto de 2019

A Lista de Candidatos


 Deverá ter terminado o processo interno nos partidos da escolha de candidaturas a deputados para as próximas eleições legislativas que se deverão realizar em outubro deste ano. Seria muito importante que os partidos se preocupassem com cada um dos seus candidatos escolhidos, designadamente, em matéria de honorabilidade, integridade, honradez, consciência do interesse público, vocação politica, disponibilidade integral para o cargo, etc., etc.

Não se justifica a menorização do Estado de direito democrático através da escolha de representantes de fraca qualidade e muitas vezes de honorabilidade duvidosa. Os partidos até aqui têm dado mais importância à ligação do candidato ao partido e ao seu grau de subserviência quase cega ao “apparatchik”. Isto é patente no processo interno de escolha de candidatos, que é, em regra, uma luta “fratricida” por um lugar protagonizada pelos candidatos e as direções partidárias, que pretendem assegurar (salvo o exagero), o «pensamento único».

Por isso a democracia empobrece, em cada eleição que passa. Por isso os eleitores se desmotivam e as taxas de participação tendem a refletir este estado de coisas. Está na hora, de novo, de os partidos deixarem de olhar para dentro e preocuparem-se seriamente com o país. Está na hora de haver mais rigor na escolha dos candidatos que sejam garantes da democracia de qualidade para todos e não de indivíduos que usam a democracia para a sua degradação senão mesmo denegação.  

Se os partidos forem exigentes nas escolhas, como devem ser, previnem a proliferação de “verbos de encher” que pouco ou nada têm contribuído para o crescimento da nossa democracia, como se tem visto ao longo destes anos. As “maças podres” devem ser retiradas do cesto antes que contaminem as restantes.

Não faltam exemplos de, por pura tática político-partidária, o país ter sido representado por indivíduos que no parlamento, no governo, nas autarquias, etc., mostraram não ser dignos do mandato que o povo lhes tinha confiado, agindo em muitos casos, contra os interesses do seu próprio país.

Quarenta e três anos depois das primeiras eleições legislativas livres e democráticas, após o 25 de Abril de 1974, das quais saíram um conjunto de tribunos e governantes de estirpe elevada, é hora de devolver ao povo e à democracia portuguesa essa qualidade perdida.

Esta é uma exigência que, em primeira linha, é da responsabilidade dos partidos.