quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O atual estado do pluralismo político em Portugal



Com a revolução de Abril de 1974 e a instauração da democracia, pluripartidária, habituámo-nos, desde o inico, a viver e conviver com quatro grandes partidos do “sistema “, a saber, o PS, o PSD, o PCP e o CDS. Alguns destes partidos (PCP e PS), até são anteriores à revolução e, em certa medida, lutaram, cada um à sua maneira, para derrubar a ditadura. Antes que “caia o Carmo e a Trindade”, deve-se consignar que quer a UDP quer o PRD, quer o PSN, chegaram a ter representação parlamentar em 1980, 1985 e 1991, respetivamente. Porém, foram partidos episódicos, hoje extintos quer por fusão em outros partidos quer por extinção pura.

Assim se manteve a democracia de Abril, até 1999, data em que são eleitos dois deputados da nova formação politica, nascida da concentração de pequenos partidos à esquerda do PCP e do PS. O Bloco de Esquerda (BE). O BE, até à presente data, embora de percursos errante até 2009, onde passou a ter uma representação expressiva (16 deputados), sofrendo um “abalo” nas eleições de 2011, onde recuou para os oito deputados, não mais parou de crescer até à data, estabilizando nas últimas eleições nos 19 deputados que, de resto, já vinham das eleições de 2015.

Constata-se, pois, que de Abril de 1974 a 1999, a nossa democracia pluripartidária foi assente em quatro grandes partidos e que o aparecimento de um novo partido, em 1999, deu-se à esquerda do espetro político-partidário, ou seja, para lá do PS e do PCP. É sabido, contudo, que o Bloco de Esquerda, para além de ser formado por pequenos partidos da extrema-esquerda portuguesa (UDP, PSR, Politica XXI e outros movimentos), contou também com a adesão de alguns descontentes do PCP e do PS.

Com as eleições legislativas de 2019, uma nova brecha se dá à esquerda, agora com a conquista de representação parlamentar do LIVRE, partido fundado em 2014, por alguns dissidentes do BE. O LIVRE como lembra e bem Sá Fernandes, “É o primeiro partido da esquerda portuguesa que não vem do marxismo ou do leninismo. É um partido de gente jovem, maioritariamente nascida depois do 25 de Abril, que não deve fidelidades aos “ismos” que sempre dividiram a esquerda portuguesa. É europeísta e cosmopolita, luta pelos direitos colectivos, mas também é um defensor acérrimo dos direitos individuais.”

No momento em que escrevemos, o LIVRE está envolto em polémica, por causa da gaguez da sua única deputada eleita Joacine Katar Moreira. Esta polémica é inútil e baseia-se na falta de argumentos políticos dos seus opositores, já que, com diz a própria deputada, «a sua gaguez é apenas quando fala, não quando pensa, ao contrário dos indivíduos que estão na Assembleia da República».

Mas muito mais significativa, foi a fratura que se deu na direita tradicional portuguesa com o “nascimento” de novos partidos saídos do seu seio, também aqui, posicionando-se à direita do espetro político partidário, ou seja, para lá do PSD e do CDS. Esta é, talvez, a maior novidade nascida das eleições legislativas de outubro de 2019. O assento parlamentar de dois novos partidos na Assembleia da República, de feição claramente de direita se não mesmo, de extrema-direita.

Portugal foi, até então, um dos poucos países da Europa que resistiu aos ventos dos populismos e dos nacionalismos, que grassam pelo mundo, de inspiração protofascista e de acentuado pendor racista, xenófobo e de forte discriminação étnico-racial, que com a chegada ao poder de Trump, Orban, Salvini, Bolsonaro e tantos outros, se vem disseminando um pouco por todo o lado, com preocupações acrescidas para nós europeus.

Hoje, os representantes desta corrente mundial já tem assento na Assembleia da República Portuguesa. Essa terá sido a recompensa do trabalho levado a cabo por grandes centrais dos populismos e nacionalismos, liderados por ideólogos da “supremacia branca”, com particular destaque, para "Steve" Bannon ex-assistente do presidente e ex-estratega-chefe da Casa Branca no governo Trump.

Em meados de 2018, Bannon criou “The Movement” (O Movimento), uma organização que visou justamente promover grupos políticos nacionalistas e populistas de direita na Europa, contando, no princípio, com o apoio de políticos italianos (Matteo Salvini), belgas, húngaros (Viktor Orbán) e britânicos (UKIP), além da perspetiva de adesão de neerlandeses (Partido pela Liberdade e Fórum para a Democracia). Bannon é apoiado financeiramente, entre outros, pela milionária família Mercer (gestora de fundos de investimento), através da qual construíram a base mediática na defesa do movimento populista e anti-establishment.

É através “The Movement”, que as novas formações políticas, nacionalistas e populistas, se financiaram, para chegar ao poder e espalhar a sua “mensagem”. Assim aconteceu, também em Portugal.

Dificilmente ficaríamos imunes a esta “estirpe contagiosa” que grassa pelo mundo e que no nosso caso só não se desenvolveu mais cedo, por estar camuflada nos dois partidos da direita tradicional portuguesa que serviu de “esconderijo” a estas criaturas.

Rompidas as malhas, ai estão eles no seu esplendor …





































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