Com
a revolução de Abril de 1974 e a instauração da democracia, pluripartidária,
habituámo-nos, desde o inico, a viver e conviver com quatro grandes partidos do
“sistema “, a saber, o PS, o PSD, o PCP e o CDS. Alguns destes partidos (PCP e
PS), até são anteriores à revolução e, em certa medida, lutaram, cada um à sua
maneira, para derrubar a ditadura. Antes que “caia o Carmo e a Trindade”,
deve-se consignar que quer a UDP quer o PRD, quer o PSN, chegaram a ter
representação parlamentar em 1980, 1985 e 1991, respetivamente. Porém, foram
partidos episódicos, hoje extintos quer por fusão em outros partidos quer por
extinção pura.
Assim
se manteve a democracia de Abril, até 1999, data em que são eleitos dois
deputados da nova formação politica, nascida da concentração de pequenos
partidos à esquerda do PCP e do PS. O Bloco de Esquerda (BE). O BE, até à
presente data, embora de percursos errante até 2009, onde passou a ter uma
representação expressiva (16 deputados), sofrendo um “abalo” nas eleições de
2011, onde recuou para os oito deputados, não mais parou de crescer até à data,
estabilizando nas últimas eleições nos 19 deputados que, de resto, já vinham
das eleições de 2015.
Constata-se,
pois, que de Abril de 1974 a 1999, a nossa democracia pluripartidária foi
assente em quatro grandes partidos e que o aparecimento de um novo partido, em
1999, deu-se à esquerda do espetro político-partidário, ou seja, para lá do PS
e do PCP. É sabido, contudo, que o Bloco de Esquerda, para além de ser formado
por pequenos partidos da extrema-esquerda portuguesa (UDP, PSR, Politica XXI e
outros movimentos), contou também com a adesão de alguns descontentes do PCP e
do PS.
Com
as eleições legislativas de 2019, uma nova brecha se dá à esquerda, agora com a
conquista de representação parlamentar do LIVRE, partido fundado em 2014, por alguns
dissidentes do BE. O LIVRE como lembra e bem Sá Fernandes, “É o primeiro partido da esquerda portuguesa
que não vem do marxismo ou do leninismo. É um partido de gente jovem,
maioritariamente nascida depois do 25 de Abril, que não deve fidelidades aos
“ismos” que sempre dividiram a esquerda portuguesa. É europeísta e cosmopolita,
luta pelos direitos colectivos, mas também é um defensor acérrimo dos direitos
individuais.”
No
momento em que escrevemos, o LIVRE está envolto em polémica, por causa da
gaguez da sua única deputada eleita Joacine Katar Moreira. Esta polémica é
inútil e baseia-se na falta de argumentos políticos dos seus opositores, já
que, com diz a própria deputada, «a sua
gaguez é apenas quando fala, não quando pensa, ao contrário dos indivíduos que
estão na Assembleia da República».
Mas
muito mais significativa, foi a fratura que se deu na direita tradicional
portuguesa com o “nascimento” de novos partidos saídos do seu seio, também
aqui, posicionando-se à direita do espetro político partidário, ou seja, para
lá do PSD e do CDS. Esta é, talvez, a maior novidade nascida das eleições
legislativas de outubro de 2019. O assento parlamentar de dois novos partidos
na Assembleia da República, de feição claramente de direita se não mesmo, de
extrema-direita.
Portugal
foi, até então, um dos poucos países da Europa que resistiu aos ventos dos
populismos e dos nacionalismos, que grassam pelo mundo, de inspiração
protofascista e de acentuado pendor racista, xenófobo e de forte discriminação étnico-racial,
que com a chegada ao poder de Trump, Orban, Salvini, Bolsonaro e tantos outros,
se vem disseminando um pouco por todo o lado, com preocupações acrescidas para
nós europeus.
Hoje,
os representantes desta corrente mundial já tem assento na Assembleia da
República Portuguesa. Essa terá sido a recompensa do trabalho levado a cabo por
grandes centrais dos populismos e nacionalismos, liderados por ideólogos da
“supremacia branca”, com particular destaque, para "Steve" Bannon ex-assistente
do presidente e ex-estratega-chefe da Casa Branca no governo Trump.
Em
meados de 2018, Bannon criou “The Movement” (O Movimento), uma organização que
visou justamente promover grupos políticos nacionalistas e populistas de
direita na Europa, contando, no princípio, com o apoio de políticos italianos
(Matteo Salvini), belgas, húngaros (Viktor Orbán) e britânicos (UKIP), além da
perspetiva de adesão de neerlandeses (Partido pela Liberdade e Fórum para a
Democracia). Bannon é apoiado financeiramente, entre outros, pela milionária
família Mercer (gestora de fundos de investimento), através da qual construíram
a base mediática na defesa do movimento populista e anti-establishment.
É
através “The Movement”, que as novas formações políticas, nacionalistas e
populistas, se financiaram, para chegar ao poder e espalhar a sua “mensagem”.
Assim aconteceu, também em Portugal.
Dificilmente
ficaríamos imunes a esta “estirpe contagiosa” que grassa pelo mundo e que no
nosso caso só não se desenvolveu mais cedo, por estar camuflada nos dois
partidos da direita tradicional portuguesa que serviu de “esconderijo” a estas criaturas.
Rompidas
as malhas, ai estão eles no seu esplendor …
Nenhum comentário:
Postar um comentário