"Angola já não é nossa". ‘Angola era nossa até 1975, já não
é. Angola é um país independente e parece que há muita gente em alguns partidos
políticos de esquerda, designadamente no Bloco de Esquerda, em alguns
dirigentes do Partido Socialista e também em alguma comunicação social, que
julgam que Angola é o Alentejo.’ (sublinhado nosso)
Quem diz isto é o Embaixador
Martins da Cruz, em entrevista ao “Negócios”, ontem 21/08/2017.
Mas o que terá levado esta «iminência
parda» a fazer esta comparação tão estapafúrdia? Não gosta do Alentejo? Dos alentejanos?
Das duas coisas? Sendo um cidadão de Lisboa, nascido e criado na capital,
mantem a ideia de que «tudo o resto é
paisagem»? Ou, pelo contrário, foi acometido pela nostalgia e
sentimentalismo ditos alentejanos, que o fazem derrapar para o saudosismo envergonhado,
contido na frase ‘Angola era nossa até
1975, já não é.” É claro, que também se pode tentar perceber esta
comparação tão estapafúrdia como uma indireta ao que se terá passado nos tempos
da «reforma agrária». Mesmo por este ângulo, esta «iminência parda» erra (de
que maneira) o alvo. O PCP é o aliado natural do MPLA, partido do governo em
Angola. Insisto, portanto, o que terá levado esta «iminência parda» a comparação
tão estapafúrdia? É a chamada «diplomacia de cócoras». Isto é, esta «iminência parda»
sacrifica nos argumentos, gentes e território português para a sua afirmação (posição!?)
subserviente perante países estrangeiros, designadamente, Angola. Criticar o
regime angolano, é ‘pecado’ para esta «iminência parda». Sobretudo se a crítica
vem de certos setores da sociedade politica e social portuguesa. Pelo contrário,
criticar (preocupar-se!) a Venezuela, onde «existe
uma ditadura marxista controlada pelos cubanos» é que deveria ser uma
prioridade para esta «iminência parda». Aqui já «têm o direito de dar palpites sobre tudo o que se passa».
É curiosa esta afirmação, quando hoje é unanimemente reconhecido que Angola,
apesar de ser formalmente uma democracia, a realidade é que se trata de uma
democracia “falsa”, com um partido quase único que dominou o Estado e um
presidente no poder durante os últimos 37 anos. As características democráticas
básicas da independência judicial, do Estado de Direito ou dos direitos das
minorias não são respeitadas. Os direitos humanos são muitas vezes violados. E
os resultados das eleições correspondem sempre ao esperado, e atribuem
consecutivamente uma confortável maioria ao partido presidencial. Isto é o
que dizem os próprios angolanos (vide, por exemplo, o sitio “MakaAngola”, na
internet)
Enfim, sejam quais forem os
ângulos ou prismas em que se analise a absurda comparação (“Angola não é o
Alentejo”), chego sempre à mesma conclusão. O homem quis ofender os alentejanos
e pôr em causa toda uma região. Talvez por isso, valha a pena lembrar a sua excelência
que Portugal é um Estado unitário que abrange o território historicamente
definido no continente europeu e os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Neste território se inclui
naturalmente o Alentejo que é uma região do centro-sul de Portugal, que compreende
integralmente os distritos de Portalegre, Évora e Beja, e a metade sul do
distrito de Setúbal e parte do distrito de Santarém, sendo, por isso, a maior
região de Portugal.
Será que aquela metade sul do
distrito de Setúbal terá criado na «iminência parda» o síndrome da Comporta?
Mau presságio…!