A França é um grande Estado de Direito democrático, há mais de duzentos e tal anos. Diz-se, até, com alguma propriedade, que o mesmo tem as suas raízes e inspiração nos ideais da revolução francesa. Daí para cá, com todas as vicissitudes políticas conhecidas, a França, periodicamente, vai a votos, para a escolha dos seus representantes, quer em eleições nacionais, regionais ou locais. A França elege, a nível nacional, o Presidente da República e o Parlamento. O sistema eleitoral francês, prevê que o dia anterior à eleição presidencial seja considerado para reflexão, com a proibição de campanhas eleitorais e de divulgação de sondagens de intenção de voto. Quer isto dizer, que a democracia em França não é uma democracia madura?
Vem isto a propósito de em
Portugal, há uns tempo para cá, ter crescido o “exército de anti-dia de
reflexão”, com argumentos que fariam corar de vergonha os franceses. Servem de
exemplo, o que se ouviu e escreveu, como “agora que a era digital tomou
definitivamente conta da comunicação social e da política”, não há razão
para manter o dia de reflexão; ou, “o mais simples era acabar com o dia de
reflexão” (Prof. Jorge Miranda). E justificou: “Já existe suficiente experiência
eleitoral em Portugal para já não se justificar. Ainda por cima havendo agora a
possibilidade do voto antecipado. É contraditório haver pessoas que votam em
plena campanha eleitoral e outras que só votam depois do tal dia de reflexão”;
também para o constitucionalista Bacelar de Vasconcelos, hoje em dia esta data
“é perfeitamente dispensável”. E explica: “A ideia de impor uma pausa
era uma preocupação que, em 1976, parecia adequada, atendendo a que estávamos a
sair de um período agitado. A experiência mostra que isso já não ocorre e, por
isso, penso que numa futura oportunidade haverá toda a conveniência em refletir
sobre a necessidade de manter essa pausa”. A ideia de que o dia de reflexão
parece ultrapassado é defendida também por politólogos e colunistas. Argumentos
que ganharam peso em Portugal numa altura em que o sistema eleitoral se alterou
para flexibilizar o voto por antecipação ou em mobilidade, que se tornou menos
burocrático precisamente nas eleições europeias.
As dúvidas sobre a sua utilidade têm vindo a
aumentar, tendo em conta a omnipresença da propaganda política nas redes
sociais, e a criação do voto antecipado. Em março do ano passado, a Iniciativa
Liberal elaborou um projeto de lei visando acabar com o dia de reflexão, por
entenderem que este dia representa um “paternalismo estatal”, e uma lei
anacrónica. A 29 de janeiro de 2022, por ocasião do dia de reflexão das
eleições legislativas de 2022, e aproveitando a habitual mensagem de apelo ao
voto, o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu a
“oportuna reponderação” do dia de reflexão na véspera das eleições, que
considera ter sido pensado para "outra época e outras preocupações".
Não há dúvida, que a maioria dos
políticos portugueses, incluindo o PR, têm uma visão limitada da história e surfam
a onda do populismo, com impressionante à-vontade.
É o que temos …!
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