Primeiro, foi a «bazuca» da Europa, com milhões e milhões de euros a encharcar os Estados-membros, com “o objetivo de atenuar o impacto económico e social da pandemia de coronavírus e tornar as economias e sociedades europeias mais sustentáveis, resilientes e mais bem preparadas para os desafios e as oportunidades das transições ecológica e digital.”
Depois, foi a «bazuca»
presidencial, através do anúncio da dissolução da Assembleia da República e
consequente, eleições legislativas antecipadas, pelo facto inédito, do chumbo
do Orçamento do Estado.
Enquanto o recurso a armas
pesadas, no primeiro caso, até parece positivo, já no segundo caso, é
desproporcional e desajustado, havendo até um exagero manifesto, no tipo de “arma”
usada, para debelar a crise provocada pelo chumbo do orçamento.
Em direito penal, “O uso de um
meio não necessário constitui excesso de meios ou excesso intensivo que não
exclui a ilicitude do facto defensivo – art. 33.º do CP.” (Ac. do STJ de 27-10-2010,
Proc.º 971//09. 1JAPRT, in www.dgsi.pt)
Claro que em política a censura é
feita de maneira diversa. Se o Presidente exagerou, cá estará o eleitorado para
o demonstrar. Porém, o mal está feito.
Há uma secreta suspeita que o uso
da «bazuca» pelo presidente da República, apenas teve como objetivo afastar
qualquer entendimento na geringonça e favorecer o aparecimento de uma
alternativa liderada pelo seu delfim, Rangel. Trata-se de uma «violência
ilegal», a ser verdade.
Seja como for, o país, desde o
anúncio da dissolução do parlamento (04-11-2021) até 30 de janeiro de 2022, ou
seja, 90 dias, vai estar num limbo governativo, difícil de suportar, uma vez
que à crise de saúde publica, há que juntar a crise social e económico-financeiro
que ficarão em “Stand by” por falta de orçamento. Alguém, um dia, dirá
quantos nos custou esta aventura.
O desnorte provocado pela decisão
presidencial é tal, que algumas estruturas representativas dos trabalhadores,
marcaram as suas greves para este período de «vacatio» governativo, bramindo as
suas espadas reivindicativas, certamente, para um futuro governo, na esperança
de que o que aí venha, lhes permita continuar a negociar/reivindicar.
Entretanto, e para ajudar,
a crise de saúde pública agravou-se e já se registam números de infetados,
muito próximos dos piores números da crise do Covid-19, do passado recente. Dentro
em pouco, se as coisas continuarem a piorar, vão ser necessárias medidas de
exceção, que o país não estará em condições de aplicar, pois, entretanto, o
parlamento foi dissolvido. Dirão alguns, que o Presidente poderá pedir
autorização à Comissão Permanente da Assembleia da República (ouvido o governo),
para declarar o Estado de Emergência. É verdade. Porém, caso seja autorizada
pela comissão permanente, a declaração do estado de emergência terá de ser
ratificada pelo Plenário logo que seja possível reuni-lo. Mais uma exceção
dentro das exceções que a «bazuca» presidencial criou. E para quê? Imaginem, a
título meramente especulativo e por absurdo, que o novo parlamento vem a ser formado,
maioritariamente, por negacionistas (que já lá estão) e opositores à criação de
estados de exceção, mesmo que para combate à pandemia? Obviamente, que não há
ratificação da declaração do estado de emergência. Quais seriam, então, as
implicações (continuando no absurdo), da não ratificação da declaração do
estado de emergência? Uma das consequências é que nem a (nova) Assembleia da
República, nem a sua comissão permanente podem, respetivamente, autorizar e
confirmar a autorização com emendas. Outra, mais gravosa, seria um conflito
institucional, do qual o Presidente não se sairia nada bem. E uma outra, não
despicienda, seria a criação de uma crise política, sem precedentes.
Para baralhar mais as coisas,
veio agora um “tiro de pólvora seca”, dos Açores.
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