Ascenso Simões, deputado do PS, na Assembleia da República, defendeu esta semana a destruição do “Padrão dos Descobrimentos”, enquanto “monumento do regime ditatorial”. Escreveu, ainda, que no 25 de Abril “devia ter havido sangue, devia ter havido mortos”. Apressou-se a dizer que este sangue e estas mortes eram simbólicas. Escreveu: “Não se trata de mortos físicos nem de sangue derramado nas ruas, mas de cortes epistemológicos. Cortes verdadeiros do ponto de vista da política, da transformação da sociedade”. E conclui: “em Portugal, o salazarismo foi muito eficaz na construção de uma história privativa, garantindo, até hoje, a perenidade dos mitos do desígnio português, dos descobrimentos, ou do império”.
É
claro que estas afirmações vindas de um deputado da democracia, cujo partido teve
e tem uma importância decisiva na construção do processo democrático saído do
25 de abril de 1974, podem ser entendidas como um “mea culpa”. Pois, mas
é pouco!
Os
descobrimentos, as guerras coloniais, o Tarrafal, o forte de Peniche, o Aljube,
etc., etc., nunca foram verdadeiramente temas da democracia. Houve sempre um
certo pudor em tratar estes temas, vá-se lá saber porquê. Para mim, contudo, uma
boa parte das elites de abril, não estavam à altura da proposta dos militares
de abril. Aliás, isso é comprovado, ainda hoje, pelo atraso social, económico,
cultural e até político, em que se encontra quase um terço da nossa população.
Verdadeiramente, desígnios nacionais, tiveram os militares de abril e uma mão
cheio de homens de exceção, que lutaram por esses “cortes epistemológicos”,
mas a sua corte de seguidores enveredaram antes pelo seu enriquecimento pessoal
(material), muitas vezes à custa de terceiros, criando um lastro de corrupção,
em pouco mais de trinta anos, inimaginável. E este fenómeno tornou-se transversal
a toda a sociedade.
Porquê,
então, derrubar o “Padrão dos Descobrimentos”? É por ter sido construído, no período
salazarista ou por aquilo que ele representa? Na Alemanha, na Bielorrússia, na Polónia, na
Croácia, na Ucrânia, só para falar de campos de extermínio, estes encontram-se
preservados, para que todas as gerações saibam o que foi o nazismo.
Os
descobrimentos, não nos envergonham nem são um “mito” como diz o deputado. Foram
uma realidade muito concreta, muito romanceada é certo, com grandezas e
misérias, próprias deste tipo de empreendimento.
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