sábado, 20 de fevereiro de 2021

𝐎 𝐃𝐞𝐫𝐫𝐮𝐛𝐞 𝐝𝐞 𝐒í𝐦𝐛𝐨𝐥𝐨𝐬 – 𝐎𝐮 𝐚 𝐝𝐞𝐦𝐨𝐜𝐫𝐚𝐜𝐢𝐚 𝐬𝐞𝐦 𝐡𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐚

Ascenso Simões, deputado do PS, na Assembleia da República, defendeu esta semana a destruição do “Padrão dos Descobrimentos”, enquanto “monumento do regime ditatorial”. Escreveu, ainda, que no 25 de Abril “devia ter havido sangue, devia ter havido mortos”. Apressou-se a dizer que este sangue e estas mortes eram simbólicas. Escreveu: “Não se trata de mortos físicos nem de sangue derramado nas ruas, mas de cortes epistemológicos. Cortes verdadeiros do ponto de vista da política, da transformação da sociedade”. E conclui: “em Portugal, o salazarismo foi muito eficaz na construção de uma história privativa, garantindo, até hoje, a perenidade dos mitos do desígnio português, dos descobrimentos, ou do império”.

É claro que estas afirmações vindas de um deputado da democracia, cujo partido teve e tem uma importância decisiva na construção do processo democrático saído do 25 de abril de 1974, podem ser entendidas como um “mea culpa”. Pois, mas é pouco!

Os descobrimentos, as guerras coloniais, o Tarrafal, o forte de Peniche, o Aljube, etc., etc., nunca foram verdadeiramente temas da democracia. Houve sempre um certo pudor em tratar estes temas, vá-se lá saber porquê. Para mim, contudo, uma boa parte das elites de abril, não estavam à altura da proposta dos militares de abril. Aliás, isso é comprovado, ainda hoje, pelo atraso social, económico, cultural e até político, em que se encontra quase um terço da nossa população. Verdadeiramente, desígnios nacionais, tiveram os militares de abril e uma mão cheio de homens de exceção, que lutaram por esses “cortes epistemológicos”, mas a sua corte de seguidores enveredaram antes pelo seu enriquecimento pessoal (material), muitas vezes à custa de terceiros, criando um lastro de corrupção, em pouco mais de trinta anos, inimaginável. E este fenómeno tornou-se transversal a toda a sociedade.

Porquê, então, derrubar o “Padrão dos Descobrimentos”? É por ter sido construído, no período salazarista ou por aquilo que ele representa?  Na Alemanha, na Bielorrússia, na Polónia, na Croácia, na Ucrânia, só para falar de campos de extermínio, estes encontram-se preservados, para que todas as gerações saibam o que foi o nazismo.  

Os descobrimentos, não nos envergonham nem são um “mito” como diz o deputado. Foram uma realidade muito concreta, muito romanceada é certo, com grandezas e misérias, próprias deste tipo de empreendimento.

É verdade que depois do 25 de abril de 1974 a ponte salazar passou para ponte 25 de abril. Este exemplo que o deputado dá, não parece razoável, pois aqui era o culto da personalidade que de todo devia ser banido. Não é comparável. Mudar o nome do “padrão dos descobrimentos” ou derrubá-lo, é uma proposta de uma esquerda que convive mal com a história de Portugal. Onde se pede grandeza, responde-se com demagogia. Nada a fazer …!

Nenhum comentário:

Postar um comentário