Dizem-nos os Professores Pires de
Lima e A. Varela, nas suas “Noções
Fundamentais D. Civil”, 4.ªed., 2.º-162, que são impedimentos dirimentes do casamento, “os que tornam nulo ou anulável se, não obstante a sua existência, este
vier a ser celebrado” e são impedimentos
impedientes do casamento “os que
obstam simplesmente à celebração do casamento, mas não determinam a sua
anulação, caso o ato venha a ser celebrado com a existência de algum deles.”
Ora, transportando esta matéria
dos impedimentos para o que está a acontecer na difícil indigitação de Costa por
Cavaco Silva para formar governo, detetamos lamentavelmente o seguinte situação
confrangedora.
Para Cavaco Silva, Costa padece
de impedimentos dirimentes absolutos
para formar governo, por anomalia política do PS resultante dos acordos celebrados
com o PCP/PEV e BE. Porém, decretar tais impedimentos, implicaria a afronta
constitucional do regime democrático, assente nos partidos.
Uma “guerra” destas significaria a criação de um clima de confronto com
efeitos colaterais muito significativos nas hostes da maioria de direita e nos
seus projetos de poder futuros.
Dizia Cavaco, bastante sobranceiro,
diga-se, no dia das eleições de 04 de outubro último que "Temos estudado todos, todos os cenários,
todos os cenários foram estudados na Presidência da República ao longo deste
tempo, agora só nos falta saber qual o cenário que vai ser determinado pelos
portugueses depois da sete da tarde".
Hoje sabe-se que a alternativa de
governo apresentado por António Costa, não fazia parte dos planos (cenários)
estudados pelo presidente Cavaco. É mesmo de acreditar que Cavaco nunca quis, ainda
que por hipótese meramente académica, sequer estudar tal cenário. Isto parece inequívoco,
na atrapalhação destes quase 60 dias de vazio de poder.
A situação é tão apalermada que
por um lado dá posse a um governo minoritário que já sabia não reunir o
consenso maioritário na Assembleia da República, ainda assim, fazendo questão
que fosse o parlamento a determinar a sua queda e, por outro lado, impõe
condições escritas a uma solução maioritária do PS desta vez entendendo que
neste campo não é a Assembleia mas ele que tem de assegurar as condições
prévias de governabilidade.
Trata-se, naturalmente, de uma grosseria constitucional que põe
em causa “o regular funcionamento das
instituições democráticas.”. Coisa, aliás, em que este presidente é fértil.
É irónico verificar que muitos
comentadores cavaquistas e da orla do governo rejeitado e da maioria que o
suportava, passavam a “vida” a dizer
que Cavaco era um legalista e um cumpridor fiel da Constituição. Nada de mais
errado, com se vê.
Para Cavaco entre o Pacto de
Estabilidade e a Constituição da República Portuguesa, aquele sobrepõe-se sem
pestanejar a esta. Entre os direitos fundamentais constitucionalmente
consagrados e os interesses dos credores internacionais estes sobrepõem-se sem
pestanejar àqueles. Entre a difusão da pobreza e da miséria e o cumprimento do
pagamento das remunerações dos empréstimos estes sobrepõem-se sem pestanejar
àqueles.
Por todas estas e outras razões, Cavaco
Silva foi o presidente da República que mais denegriu e empobreceu a democracia
portuguesa.
Temos urgentemente que regenerar
a democracia.
Comecemos com um novo governo e
mais adiante com um novo Presidente da República.
Desta vez sem qualquer
impedimento seja de que natureza for.
Nenhum comentário:
Postar um comentário