Em entrevista à TVI, António
Costa (AC), secretário-geral do PS disse que é absolutamente impossível existir
uma coligação formal de governo à esquerda na próxima legislatura e reconheceu
que os portugueses não gostam de maiorias absolutas. Ou seja, (AC), não quer
ministros do Bloco de Esquerda e do PCP no Governo, caso o PS vença as
eleições, claro.
Dito desta maneira, parece que
Costa não afasta uma coligação formal de governo à direita ou, pelo menos, com
o PSD. É certo que em maio deste ano, Costa rejeitava a solução “bloco
central”, afirmando “que a governação conjunta de PS e PSD "empobrece a
democracia". Sobre isso, aparentemente, parece que todos estão de acordo.
Mais, a solução governativa encontrada por Costa, nesta última legislatura,
mostrou-se razoavelmente eficaz. Mas como deverá ser aprofundado o debate político,
para que a solução que resulte das próximas eleições legislativas de outubro,
possa criar condições efetivas para enfrentar os grandes desafios da sociedade
portuguesa, como sejam o da pobreza estrutural, o da precariedade do emprego, o
da redistribuição justa e equilibrada da riqueza produzida, a elevação dos níveis
de escolaridade dos portugueses, o combate efetivo às assimetrias nacionais, regionais
e locais, dando prevalência ao modelo da regionalização, o combate sem tréguas à
corrupção, com uma nova cultura jurídica da investigação, onde possa voltar a
funcionar o princípio in dúbio pro reo,
o que pressupõe, a chamada efetiva à justiça de suspeitos da prática de crimes
e não este espetáculo indecoroso de permanentemente os “suspeitos” se
encontrarem em “banho-maria” na imprensa, com a narração de “factos” que não se
conhece a origem, mas que alimentam sofregamente estes veículos e geram na
opinião pública um sentimento, verdadeiro, de impunidade, parcialidade,
amiguismo, partidarismo, encobrimento e até colaboração disfarçada ou expressa
entre poderes, políticos e magistrados e, o grande poderoso, poder económico. Acabar
com os megas processos, é uma lição a tirar deste passado recente. Tudo isto é
feito, com a aparência de legalidade e normalidade, numa ofensa expressa a
todos os cidadãos, numa sociedade que cada vez se apresenta mais doente e, por
isso mesmo, gere o aparecimento de novos “curandeiros” e “pastores”, todos eles
portadores de mensagens de natureza discriminatória, o que fere o princípio da
igualdade, como distinção, exclusão, restrição ou preferências, motivado por
raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou convicções políticas. O
clima internacional a isso é propício.
Em outubro, portanto, terá de
haver um governo forte, com aliados fortes, para combater estes “fungos” e, terminado
o ciclo, pós-troika, estruturar a política e a governação para as grandes
questões nacionais, que urge fazer. Enfrentar os lóbis com coragem e
determinação, denunciar atempadamente as pessoas e organizações que minam o
tecido social, ter uma política pública de saúde exigente e sem tibiezas,
enfrentar o sistema de educação, como a prioridade das prioridades, chamando à
participação de boa-fé todos os agentes que participam no processo educativo, não
criando clareiras e/ou vazios que possam ser ocupados por oportunistas e
profissionais do caos; colaborar ativamente com o mundo do trabalho,
dinamizando a concertação social, fomentando o respeito pelas leis e convenções
estabelecidas e arbitrando conflitos potenciais ou emergentes, tomando a iniciativa,
não só no sector da sua responsabilidade, como em todo o restante mundo do
trabalho; ter uma política ativa de promoção da habitação, em todo o território
nacional, para isso colaborando de boa-fé com todas as autarquias, com vista a
eliminar a pobreza de habitação que ainda se encontra um pouco por todo o país;
eliminar o flagelo da falta de água, luz e comunicações em muitas das
habitações em Portugal; dar prioridade aos pobres, às crianças, aos velhos, e
aos mais desfavorecidos, nas políticas públicas a implementar pelo governo saído
das eleições de outubro é um imperativo nacional, que só um governo forte, com
aliados fortes, poderá concretizar. Estes são desígnios da esquerda, e fazem
parte da matriz dos partidos da esquerda. Há que concretizá-los.
P.S.: O dinheiro para isto tudo?
Depois da prevalência da canalização de recursos financeiros do Estado (a) para
o sector bancário e financeiro, qualquer coisa como vinte e quatro mil milhões de
euros; (b) para os benefícios fiscais às empresas, pelo menos em cerca de ¼ e
(c) para a manutenção de algumas subvenções partidárias, que deverão ser drasticamente
reduzidas exemplos de entre outros), creio que é possível iniciar o percurso de
uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais solidaria, desviando agora esses recursos para estes fins. Permitir bolsas de
riqueza, perfeitamente escabrosas, num país com taxas de pobreza como o nosso,
em especial, nas crianças e nos idosos, é uma afronta à dignidade e aos valores
inerentes à condição humana.