quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Os liberais de percurso estatizante

Na semana passada (11-02-2016) deu-se mais um epifenómeno da realidade sociocultural e politica portuguesa. O PáFiano João Miguel Tavares (JMT), desiludido com o agrupamento, sugeriu a criação de um movimento/partido liberal, porque eu seu entender, “… o espaço liberal está deserto, numa época em que me parece absolutamente essencial preenchê-lo.”

As adesões não se fizeram esperar. Ou melhor dizendo, uma adesão não se fez esperar

Só um aparte. Isto que eu vou contar é um pouco como um GNR na minha terra, nos idos de 50 do século passado, que implicava sempre que via eu e os meus amigos a falar na esquina de um prédio da nossa rua. Dizia ele, com a autoridade que lhe estava outorgada, o seguinte: “Eu já vos disse que não quero ajuntamentos a mais de uma pessoa”. Dixit

Aqui passou-se o mesmo. João Miguel Tavares, arregimentou imediatamente um aderente, que o fez saber nas páginas do mesmo jornal (?) “Público”, em artigo publicado no dia 17-02-2016, intitulado «Ser Liberal, sem rodeios nem receios».

Só mais um aparte. O que é isto de ser liberal?

O ponto central do liberalismo é a ênfase na liberdade dos indivíduos, com igualdade de direitos jurídicos e políticos, mas cujas ações devem ser recompensadas de acordo com os talentos individuais e disposição para o trabalho, ou seja, com o uso que cada indivíduo faz de sua liberdade, como podemos perceber no próprio sentido da palavra “liberal”, que deriva do latim “liber” e “referia-se a uma classe de homens livres; em outras palavras, homens que não eram nem servos nem escravos [...] passou a ser cada vez mais associado a ideias de liberdade de escolha” (HEYWOOD, 2010, p. 37).
Assim, o Liberalismo pode ser definido como um conjunto de princípios e teorias políticas, que apresenta como ponto principal a defesa da liberdade política e económica. Neste sentido, os liberais são contrários ao forte controle do Estado na economia e na vida das pessoas.
Ou, como diz (JMT) “… um país menos dependente do Estado e onde a liberdade de cada indivíduo seja valorizada como merece. Infelizmente, a direita parece ter assimilado a patranha do “terrível neoliberalismo”, e engolir tal tese significa ter vergonha de lutar por um Estado menor e mais eficiente, que não seja o alfa e o ómega da pátria.”
Como alguém ensinava, o liberalismo “é uma doutrina política e não económica. Procura conciliar dois sentimentos humanos conflituantes, o desejo ser livre e o de viver em sociedade.
Liberais das diferentes correntes só têm em comum a defesa do estado de direito…O liberalismo inspirou na época, a Independência Americana e a Revolução Francesa…”.

Com raízes nas ideias liberais defendidas pelo Fisiocratismo o Liberalismo Económico surge na Europa e na América no final do Séc. XXVIII associado ao liberalismo político nascido nas Revoluções Americana e Francesa. Segundo esta doutrina económica, deve ser colocada a ênfase na liberdade de iniciativa económica, na livre circulação da riqueza, na valorização do trabalho humano e na economia de mercado (defesa da livre concorrência, do livre cambismo e da lei da procura e da oferta como mecanismo de regulação do mercado), opondo-se assim ao intervencionismo do Estado e à adoção de medidas restritivas e protecionistas defendidas pelo Mercantilismo.
Fechando o parêntesis, estas parecem ser as grandes ideias básicas dos atuais defensores (dois) dos princípios liberais.

Curioso é verificar, porém, que o “liberal” «Ser Liberal, sem rodeios nem receios», fez todo o seu percurso na administração pública, como ele próprio informa: Trabalho na Câmara Municipal de Cascais, no Departamento de Comunicação. Trabalho como repórter, escrevo conteúdos para a página on-line. E em resposta às perguntas, Como concilia tudo? Na função pública não tem um horário para cumprir? Responde: “Existe um horário, embora no meu caso seja, em regime de exceção, flexível. Eu já trazia um embalo de ator de seis anos e eles compreendem que tenho sede de mais coisas e, por isso, não me castram, são absolutamente porreiros comigo.” (FLASH! Vidas, 19-05-2012).

Até para os liberais a vida é madrasta. Pessoas que defendem a iniciativa privada como o motor ideal da livre concorrência, do livre cambismo e da lei da procura e da oferta como mecanismo de regulação do mercado, vêm-se “sujeitas” ao emprego público e ainda por cima com «benesses».

É claro que assim, todos querem ser liberais.

Já JMT, como liberal, também participa em programas “com o apoio à produção” de entidades públicas ou congéneres (ex. “Braga 2012: Capital Europeia da Juventude”).

Claro que esta história de menos Estado na economia “é a gente a falar”. Sobretudo se isso afeta cada um dos “liberais” de «per si».

Cada liberal, de percurso estatizante, o que quer é assumir-se como Foodie e Gourmand e mais nada.

Quem não gosta que “atire a primeira pedra”!...

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