Cabe, no entanto, aqui perguntar se na história da democracia portuguesa, após o período revolucionário, há memória de tão extrema desregulação da vida do Estado, em particular, no que se refere aos pilares fundadores do chamado «Estado Social», matriz fundamental e inalienável da democracia portuguesa? Crê-se que a resposta é negativa. Senão vejamos: Este governo Gaspar/Passos/Portas, entusiastas defensores da presença da "troika" em Portugal, de tal forma que, expresssamente, fizeram seus o programa da troika, anunciando Passos inclusive, a sua disposição para ir além dele, como foi, volvidos 15 meses de governação, é já possível extrair as seguintes conclusões:
1.ª - A "ajuda" externa empobreceu fortemente o País; 2.ª - Portugal ficou mais pobre e mais endividado; 3.ª - Houve uma desregulação da vida do Estado, nas suas componentes essenciais, sejam economica, políticas e mais gravemente as sociais; 4.ª - Há uma clara convulsão em milhares de famílias motivada pelo desemprego de ambos os progenitores já sem direito a qualquer subsídio com evidentes reflexos nos filhos que frequentam as escolas em clara subnutrição; 5.ª - Há um autêntico confisco fiscal e para-fiscal, com a finalidade dominante de inflingir uma penalidade ao cidadão por, no entender dos governantes, «viverem acima das suas possibilidades»; 6.ª - Há uma pressão doentia sobre os recursos dos cidadãos com particular ênfase nos rendimentos do trabalho, pensões e reformas; 7.ª - Há, em surdina, uma turbe de tecnopartidocratas que vai desmantelando peça a peça os alicerces do Estado social e minando as principais funções ligadas ao mesmo, isto tudo através de uma escabrosa «quota litis» assente num locupletamento injustificado, unica e exclusivamente por acesso directo ao «pote»...!; e 8.ª - Finalmente, há muito que se esvaiu a cooperação institucional entre o Governo e o Presidente da República, como também há muito que são «óbvias [as] assimetrias políticas entre P.R. e o Governo, no entendimento do que deverá ser a prossecução da política geral do País», o que só por si, vem progressivamente pondo em causa o «regular funcionamento das instituições democráticas.»
Como dizia Paul Krugman, referindo-se a Portugal, ("New York Times" de 25-03-2011), estão errados "os advogados da austeridade que prevêem que os cortes da despesa trarão dividendos rápidos na forma de uma confiança crescente e que terão pouco, se algum, efeito adverso no crescimento e no emprego". E mais adiante, comentava: "cortar a despesa numa economia muito deprimida é muito auto-derrotista, até em termos puramente orçamentais", uma vez que "qualquer poupança conseguida é parcialmente anulada com a redução das receitas, à medida que a economia diminui".
Um ano e oito meses depois, verifica-se, infelizmente, que este Autor tinha toda a razão, embora não nos tivesse prevenido para o descrédito total em que o governo caiu, de tal forma que, citando o insuspeito Rui Vilar: «É altura de o País fazer ouvir a sua voz para um "ajustamento mais suave"» (Negócios online de 10 de Novembro de 2012) (sublinhado nosso)
Ora como já se percebeu que este governo acredita piamente na "receita" que está a aplicar, ainda que sem sucesso, uma vez que dobra a sua dose para 2013, está na altura, de travar esta espiral de ajustamento suicidário levada a cabo pelo Governo e apelar ao Senhor Presidente da República para que revisite o artigo 195.º, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa e actue de acordo com as suas determinações, antes que seja tarde...!
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