Clara Ferreira Alves (CFA), já está na idade legal da reforma. Aliás, já ultrapassou em 2 anos. Mas vive num dilema. Não é uma reformada dos países do norte da europa, o que lhe permitia cumprir o seu sonho de viver da escrita e, por outro lado, gosta de viajar, mas não ser imigrante. Embora pareça amargurada no país onde nasceu, a verdade é que lhe falta tudo o resto para se “libertar”. Daí que nós, os portugueses, novos, velhos, mulheres e crianças, somos o seu alvo preferido. Não na versão de Ettore Scola, apenas e tão só, por vergonha dissimulada.
Desta vez, Clara, foi viajar ao “seu”
Vietname. Suspira que o futuro “mora” na Ásia, pois, diz ela, “a Europa está
demasiado velha, gasta de cansaço e agora de guerra. Um jovem na Europa tem
direito ao futuro se estiver incluído numa certa classe social ou herdar
dinheiro.” (sic)
Este discurso passadista, tem
tudo a ver com a formatação política híbrida que não a deixa progredir (“burro
velho não aprende línguas”?). Fala da Europa, como os políticos da época, falavam
há 50 anos. Não deu pela criação da União Europeia, pelo progresso que esta
união trouxe a cada um dos países que a compõem, da livre circulação de pessoas
e culturas nesse espaço, da fonte de benefícios aos países mais pobres, da
potência económica em que se tornou e pela paz que trouxe ao continente, por
mais de três quartos de século.
Afinal, esta Europa “velha”
e “gasta”, nas palavras desta figura decadente, sob renascer-se e criar
uma comunidade de bem-estar e prosperidade, continuando a ser o maior polo
científica e técnico que há no mundo e, de longe, o continente culturalmente
mais avançado deste planeta. Esta Europa, que sob criar um dos projetos
civilizacionais mais arrojados da história moderna, é hoje uma comunidade
virada para a promoção da paz, da estabilidade, da prosperidade e da
solidariedade na Europa. Esta Europa, “velha” e “cansada”,
segundo CFA, é a mesma que promove, no seio da União, o mercado único, onde
pessoas, bens, serviços e capitais circulam livremente, sem barreiras ou
obstáculos. É a Europa que promove a cooperação em áreas como a segurança, a
justiça, a educação, a cultura, o meio ambiente e a saúde. Esta Europa, “velha”
e “cansada”, segundo a decadente, teve ainda forças para criar uma moeda
única, o euro, e é hoje um pilar fundamental na defesa dos direitos humanos, da
democracia e do Estado de direito.
Por isso, o futuro da Europa está
assegurado e é cada mais exigente, pois para além do papel importante na
promoção da paz e da estabilidade no continente europeu, a União Europeia tem
sido uma força significativa na promoção dos direitos humanos e da democracia
em todo o mundo. Pelo contrário, a Ásia, tem futuro, certamente, como têm a
África e também a América do Sul. Porém, são futuros mais ásperos, mais
dolorosos em que milhões esperam e desesperam por condições mínimas de
subsistência. E, contrariamente, ao que Clara Ferreira Alves quer fazer crer, a
Ásia, também está fustigada pela guerra. A Síria, que desde 2011 até hoje, tem
uma guerra instalada no seu território que já causou centenas de milhares de
mortes e milhões de pessoas foram deslocadas; O conflito em Caxemira (que dura
desde 1947, até hoje), região disputada entre a Índia e o Paquistão, com a
China também tendo uma reivindicação territorial na área; O Afeganistão, que
tem sido uma zona de guerra desde a invasão liderada pelos Estados Unidos em
2001 e hoje é governada pelos talibãs, que restringem severamente os direitos
das mulheres e colocam as populações ao nível da indigência. Estes são apenas
alguns exemplos de conflitos na Ásia e há muitos outros em curso que desmentem,
que o futuro “mora” (por enquanto) na Ásia.
É bucólico falar do Vietname
(para viajante, e não para residente), “com as suas «motoretas» conduzidas
maioritariamente por mulheres, quase todas estudantes e muito jovens”, como
forma de angariar uns “tostões”, que CFA apelida de “arredondar o fim do
mês”. Nem isto é totalmente verdadeiro,
pois as tais «motoretas» são um meio de transporte muito comum e proeminente na
Ásia. Estas «motoretas» (ou tuk-tuks) são um meio de subsistência dos
motoristas locais, pois são uma opção de transporte barata para turistas e
moradores locais. Eles são uma parte icónica da cultura e da paisagem urbana em
muitas partes da Ásia. Aqui, como em tantas outras coisas, a Europa cedeu,
começando pela Itália, passando pela Grécia e hoje um pouco por todas as
cidades europeias, incluindo Lisboa, como é óbvio. Dir-se-ia, que os «tuk-tuks»,
os Uber e os TVDE fazem parte da paisagem urbana da maior parte dos países
europeus, numa lógica de startup.
A decadência política e intelectual
em que Clara Ferreira Alves se encontra é confrangedora. Em compensação, não
está sozinha.