terça-feira, 4 de junho de 2024

 A IMIGRAÇÃO DE EXCELÊNCIA – FIM AO ‘BIDONVILLE’

Portugal não tem autoridade moral para se posicionar, em matéria de imigração, como um país de esquecimento fácil e rápido, dando guarida às novas tendências xenófobas, racistas e preconceituosas, que grassam pelo nosso país, cujo acolhimento, o atual governo da AD, parece disposto a dar.

É importante relembrar o fluxo migratório português para França. Muitos viveram nos anos 1960/70 no gigantesco bairro de lata português de Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, que ficou para a história como o maior bidonville de sempre em França (15 mil pessoas, num terreno baldio de 45 hectares).

Alguns foram emigrantes clandestinos, viveram anos a fio a chapinhar na lama, em barracas ou casitas em tijolo, sem eletricidade, sem água canalizada, sem retrete, sem esgotos e sem serviço de recolha do lixo.

Hoje, a comunidade portuguesa (só) em França, incluindo, lusodescendentes é de mais de um milhão de pessoas. A França, tem uma população estrangeira, de mais de 10% do total da sua população.

O governo da AD, lançou agora 41 medidas para (como diz) regular a imigração, porque entende que há um "abuso excessivo" no acolhimento de imigrantes (sic) Este discurso, próximo do discurso da extrema-direita, não só portuguesa, mas também europeia, faz-nos refletir, se esta gente tem noção do nosso passado e das obrigações que temos para com o nosso semelhante.

Não há excesso de imigrantes em Portugal. É dito por todas as agências credenciadas no País e na Europa. Pelo contrário, em certos setores de atividade há falta de recursos humanos. Por outro lado, o progressivo rejuvenescimento da nossa população deve-se em grande parte à imigração. São eles que trazem “sangue novo” a uma população maioritariamente envelhecida. Então qual é o problema? O problema, são dois: - Um, de caráter ideológico, que seguindo as atuais tendências no mundo, tenta a todo transe, bloquear a circulação de pessoas de outras latitudes, num misto de xenofobia extrema e de um nacionalismo bacoco, retrógrado e de feição fascizante.

- O outro, este sim bem presente, é o da incapacidade de organização administrativa do Estado no acolhimento e integração destas comunidades. Aqui, sim, reside o problema.

Quando se diz que existem mais de 400.000 processos em atraso, no ex-SEF, é o mesmo que dizer que existem mais 585.000 processos em atraso na justiça portuguesa ou que existem mais de 200.000 portugueses em lista de espera para uma cirurgia ou que em Portugal Continental existem mais 860 mil casas que não estão ligadas à rede pública de água o que afeta cerca de 1.300.000 de pessoas ou, ainda, que há mais de 20.000 crianças em risco de pobreza, etc., etc., etc.

Este é o nosso problema. E a imigração, ‘apanha por tabela’. Aqui está uma das nossas maiores fraquezas. Cíclica incapacidade da gestão da coisa publica, com evidentes sinais de aproveitamento pessoal, por alguns que lá passam. Esta é a nossa vergonha que alguns governantes transformam em ‘lucro antecipado’. Este atraso atávico, é muitas vezes aproveitado pelo discurso da caridade e do assistencialismo, uma espécie de chancela da nossa condição. Quando conseguirmos vencer esta batalha, colocando ao lado de outras, já vencidas, ai sim, Portugal terá autoridade moral para, no concerto das nações, exigir um mundo mais justo e fraterno, em permanente solidariedade ativa com os restantes povos e nações. Até lá, estaremos sempre em redor do ‘Bidonville’, ainda que em habitações com oito casas de banhos.



 

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