A IMIGRAÇÃO DE EXCELÊNCIA – FIM AO ‘BIDONVILLE’
Portugal não tem autoridade moral
para se posicionar, em matéria de imigração, como um país de esquecimento fácil
e rápido, dando guarida às novas tendências xenófobas, racistas e preconceituosas,
que grassam pelo nosso país, cujo acolhimento, o atual governo da AD, parece
disposto a dar.
É importante relembrar o fluxo
migratório português para França. Muitos viveram nos anos 1960/70 no gigantesco
bairro de lata português de Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, que
ficou para a história como o maior bidonville de sempre em França (15 mil
pessoas, num terreno baldio de 45 hectares).
Alguns foram emigrantes
clandestinos, viveram anos a fio a chapinhar na lama, em barracas ou casitas em
tijolo, sem eletricidade, sem água canalizada, sem retrete, sem esgotos e sem
serviço de recolha do lixo.
Hoje, a comunidade portuguesa
(só) em França, incluindo, lusodescendentes é de mais de um milhão de pessoas.
A França, tem uma população estrangeira, de mais de 10% do total da sua
população.
O governo da AD, lançou agora 41
medidas para (como diz) regular a imigração, porque entende que há um
"abuso excessivo" no acolhimento de imigrantes (sic) Este
discurso, próximo do discurso da extrema-direita, não só portuguesa, mas também
europeia, faz-nos refletir, se esta gente tem noção do nosso passado e das
obrigações que temos para com o nosso semelhante.
Não há excesso de imigrantes em
Portugal. É dito por todas as agências credenciadas no País e na Europa. Pelo contrário,
em certos setores de atividade há falta de recursos humanos. Por outro lado, o
progressivo rejuvenescimento da nossa população deve-se em grande parte à
imigração. São eles que trazem “sangue novo” a uma população maioritariamente
envelhecida. Então qual é o problema? O problema, são dois: - Um, de caráter
ideológico, que seguindo as atuais tendências no mundo, tenta a todo transe,
bloquear a circulação de pessoas de outras latitudes, num misto de xenofobia
extrema e de um nacionalismo bacoco, retrógrado e de feição fascizante.
- O outro, este sim bem presente, é
o da incapacidade de organização administrativa do Estado no acolhimento e
integração destas comunidades. Aqui, sim, reside o problema.
Quando se diz que existem mais de
400.000 processos em atraso, no ex-SEF, é o mesmo que dizer que existem mais
585.000 processos em atraso na justiça portuguesa ou que existem mais de
200.000 portugueses em lista de espera para uma cirurgia ou que em Portugal
Continental existem mais 860 mil casas que não estão ligadas à rede pública de
água o que afeta cerca de 1.300.000 de pessoas ou, ainda, que há mais de 20.000
crianças em risco de pobreza, etc., etc., etc.
Este é o nosso problema. E a
imigração, ‘apanha por tabela’. Aqui está uma das nossas maiores fraquezas.
Cíclica incapacidade da gestão da coisa publica, com evidentes sinais de
aproveitamento pessoal, por alguns que lá passam. Esta é a nossa vergonha que
alguns governantes transformam em ‘lucro antecipado’. Este atraso atávico, é
muitas vezes aproveitado pelo discurso da caridade e do assistencialismo, uma
espécie de chancela da nossa condição. Quando conseguirmos vencer esta batalha,
colocando ao lado de outras, já vencidas, ai sim, Portugal terá autoridade
moral para, no concerto das nações, exigir um mundo mais justo e fraterno, em
permanente solidariedade ativa com os restantes povos e nações. Até lá,
estaremos sempre em redor do ‘Bidonville’, ainda que em habitações com oito
casas de banhos.
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