Devo recordar a quem me lê, que nos idos de 1990,
Herman José foi autor e intérprete de um programa humorístico, denominado
“Casino Royal”. Não é deste programa, porém, que aqui hoje vamos falar. É
doutro, bem parecido, que resulta de um governo que instituiu a “fatura da sorte” como uma das “manobra [s] (mais) rasca [s] de quem concebe a
sociedade como uma economia de casino e o Estado como instrumento dos mercados
e promotor de raspadinhas.”
E a
isto chamam, sem vergonha, promover a “cidadania
fiscal”. ([1])
É este
mesmo governo e a maioria que o concebe que “lava as mãos” do maior descalabro que se vem a verificar no sistema bancário português, não tendo a sensatez nem a
preparação necessária para apreender que o descalabro do maior banco privado
português “é sempre um assunto nacional,
é sempre um assunto de Estado.”
Por outro lado, “a
intervenção do Banco de Portugal [o croupier], sobretudo nos últimos três meses, foi absolutamente inconsequente e desleixada.
Não é aceitável que se decapite a liderança de um banco, sem ter uma solução
alternativa imediata.
Ao
vetar nomes e soluções a conta-gotas, o Banco de Portugal gerou um vazio de
poder sinistro e aterrador.
Os
mercados sentiram a fragilidade, e desataram a vender, fugindo a sete pés da
bolsa portuguesa.”([2])
Hoje que a solução está (aparentemente) encontrada,
as desconfianças mantêm-se e continuam a minar a credibilidade do Estado
Português, embora o governo tenha colocado com relativo êxito uma emissão de
dívida a seis meses, com juros mais baixos, subindo estes, no entanto, nos bilhetes com prazo de um ano.
É esta
contradição que assusta, pois é evidente, que estamos perante mercados
especulativos que vão continuando a fragilizar as economias do sul, em
particular, a portuguesa, por forma a criar um dependência insustentável quando
a bolha rebentar.
Muita
gente tem perguntado o que é que o regulador (leia-se BdP) andou a fazer
durante este tempo todo, ou seja, desde as queixas apresentadas, no Verão de
2013, por entidades do universo financeiro, mas também do presidente da
Semapa Pedro Queiroz Pereira, após várias denúncias a alertar para o facto de o
maior banco privado, através da sua rede de retalho, estar a colocar dívida de
sociedades familiares não financeiras, de que se desconheciam os riscos: ou
seja, estava a usar os clientes para financiar as empresas do grupo.
Hoje é evidente que a atuação do
BdP foi conivente e perniciosa aos interesses do país. Quase um ano de contínua
degradação do tecido económico e financeiro português e de obscuros
comportamentos protegidos e, em certa medida, perdoados, a troco de umas multas
simbólicas, levam-nos a pensar que o “regulador” está comprometido com esta
linha de atuação, quer no passado recente quer mesmo no presente, dos maiores
bancos privados portugueses.
Veja-se, aliás, que Paulo Mota
Pinto (what?), que está indicado para a presidência não executiva (chairman)
do Banco Espírito Santo (BES), ao que se diz, vai também liderar o conselho
estratégico. E, para que não haja confusões, diz-se que Ricardo
Salgado e o primo José Maria Ricciardi são nomes apontados pela Espírito Santo
Financial Group (ESFG) para integrar este órgão, que irá acompanhar a
actividade e, ao mesmo tempo, pronunciar-se sobre as decisões estratégicas da
sociedade.
Sejamos honestos: “tudo como dantes no quartel de Abrantes”!...
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