segunda-feira, 9 de junho de 2014

A EXTENSÃO DO RESGATE SEM “ACLARAÇÃO”

Sem “aclaração” e sem qualquer aviso prévio, veio a tomar-se conhecimento pela imprensa, que o Governo está em diálogo com o FMI para pedir nova extensão do resgate e, desta vez, não será por razões técnicas. Tudo indica que o resgate já não vai ficar fechado a 16 de Junho, tal como previsto, segundo se diz “por motivos políticos.” O que é que isto seja, não interessa…!

Já em Abril de 2013, os países da Zona Euro chegaram a um acordo para permitir que Portugal e a Irlanda pagassem os empréstimos que estão a receber no seio dos resgates num período mais alargado. Nessa altura foi aprovada a extensão dos empréstimos por mais sete anos – com vista a facilitar o reembolso numa decisão que teve como objetivo retirar alguma pressão sobre as dúvidas relativas à incapacidade dos países pagarem os valores em dívida relativos a estes empréstimos. O que veio a ajudar, igualmente, o processo de regresso aos mercados de ambos os países, que então estava em curso. 

No caso português, houve luz verde informal dos ministros das Finanças europeus em Abril 2013 mas a decisão ficou dependente das medidas, entretanto já apresentadas, que compensassem o impacto da decisão do Tribunal Constitucional, que rejeitou as medidas que faziam parte do Orçamento do Estado para 2013. A luz verde formal só veio a ser dada em Junho, para que os países que tinham de levar estes casos aos seus parlamentos o fizessem.

Sensivelmente um ano depois volta Portugal a precisar de uma nova extensão do regate, desta vez alegadamente fundado em “motivos políticos”. Já se percebeu, porém, que a verdade é outra. Vejamos:

O resgate de Portugal foi assinado a 17 de Maio de 2011 e o Governo tem reiterado que terminou a 17 de Maio de 2014. Ainda assim, o Executivo pediu um prolongamento do período do programa por mais seis semanas, até 30 de Junho, argumentando que se trata de "uma extensão técnica" para "garantir tempo suficiente para avaliar o desempenho dos critérios de final de Março e completar a revisão final".

Ora, a realidade é que com o novo chumbo do constitucional, o tempo pedido anteriormente, já não chega para o estudo e aplicação das medidas alternativas às julgadas inconstitucionais que, diga-se, têm sido as mesmas de há três anos para cá.

Chega, por isso, a ser compulsivo o tique antidemocrático deste governo e da maioria que o sustenta, na afronta sistemática e sem quartel ao Tribunal Constitucional e por esta via à Constituição da República Portuguesa.

Aliás, as últimas considerações de Passos Coelho sobre o Tribunal Constitucional e sobre o perfil e escolha dos juízes desse tribunal são já um pré-inicio de uma insurreição sem quartel contra um dos órgãos de soberania mais importantes do Estado de Direito Democrático e, consequentemente, contra a própria democracia.

Por tudo isto, as "ameaças que pesam sobre o Estado de direito" em Portugal deveriam levar a União Europeia a reagir, mas a direita unida no Partido Popular, a Comissão Barroso e o presidente do Conselho, Van Rompuy bem como o Presidente do BCE, bloqueiam qualquer atitude, pois para estes é mais importante garantir o reembolso dos empréstimos feitos a Portugal, do que conter esta evolução progressiva e perniciosa da violação corrente dos valores fundamentais em Portugal. A união europeia é, pois, cúmplice da arrogância e autoritarismo do governo português.

Vejam-se as últimas declarações do comissário europeu dos Assuntos Económicos, Olli Rehn, que considera "algo frustrante" ser recorrentemente confrontado com questões sobre decisões do Tribunal Constitucional (TC) que forçam o Governo português a encontrar medidas orçamentais alternativas.

Também a este comissário ainda não lhe passou pela cabeça considerar “algo frustrante” o Tribunal Constitucional Português ser “recorrentemente” confrontado com normas repetidas e ostensivamente inconstitucionais, propostas por este governo durante três anos consecutivos.

Esta interrogação não questiona o comissário. E porquê? É Finlandês de memória curta…!

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