A Imigração – ‘Uma espada de dois gumes’
Disse Luís Montenegro: “Precisamos
de imigração, mas não temos as portas escancaradas”. Disse ainda, que “aqueles
que não cumpram as regras têm que ser repatriados”. Ao ler estas
declarações do primeiro-ministro, logo me veio à cabeça dois episódios,
históricos: um, recordando-me a nossa ‘imigração a salto’, sobretudo para
França; e o outro, a ex-chanceler alemã Ângela Merkel. Aparentemente, uma coisa
não tem a ver com a outra, mas é só aparentemente. Como diria o outro, «eu
explico».
Nos tempos de hoje, as causas da
imigração são, essencialmente, para fugir às guerras e ao colapso de alguns
Estados, que geram a fome e a pobreza. Por isso, não é uma imigração ‘ordenada’
e ‘organizada’. Não, é uma imigração descontrolada, que leva à aventura da fuga
e á inevitável morte de muitos daqueles, que fugiram à morte. Os oceanos, estão
cheios de corpos.
Por isso, a nossa ‘imigração a
salto’, apesar de descontrolada, não foi tão trágica. Mas beneficiou de uma
França de ‘portas escancaradas’. E estavam escancaradas, pelas mesmas
razões que Luís Montenegro apontou, ou seja, “Precisamos de imigração …”.
Também os franceses, precisaram desta imigração para o seu desenvolvimento
económico e social. Hoje, na França, há gerações de luso-franceses, que são o
testemunho vivo, do fluxo migratório dos anos 60. Os nossos, fugiram do país,
pela fome, desemprego e às guerras em áfrica.
Neste sentido, sempre que os
nossos governantes usam chavões de cariz reacionário sobre a imigração
descontrolada, fico a pensar na miséria moral e intelectual destes eleitos pelo
povo.
E é aqui que entra a ex-chanceler
alemã Ângela Merkel. Sob a sua governação (entre 2005 e 2021), a Alemanha
recebeu mais de 1,2 milhões de refugiados e requerentes de asilo, sobretudo nos
anos 2015 e 2016, quando o conflito na Síria estava no seu auge e a Europa
viveu uma das maiores crises de imigração de sempre. Disse, ela, naquela
altura: "Quando as pessoas estão na fronteira austro-alemã e
austro-húngara, é preciso tratá-las como seres humanos". "Essa
é a minha convicção".
Esta dimensão, não tem Luís
Montenegro nem os seus apaniguados.
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