sexta-feira, 18 de outubro de 2024

 A Imigração – ‘Uma espada de dois gumes’

Disse Luís Montenegro: “Precisamos de imigração, mas não temos as portas escancaradas”. Disse ainda, que “aqueles que não cumpram as regras têm que ser repatriados”. Ao ler estas declarações do primeiro-ministro, logo me veio à cabeça dois episódios, históricos: um, recordando-me a nossa ‘imigração a salto’, sobretudo para França; e o outro, a ex-chanceler alemã Ângela Merkel. Aparentemente, uma coisa não tem a ver com a outra, mas é só aparentemente. Como diria o outro, «eu explico».

Nos tempos de hoje, as causas da imigração são, essencialmente, para fugir às guerras e ao colapso de alguns Estados, que geram a fome e a pobreza. Por isso, não é uma imigração ‘ordenada’ e ‘organizada’. Não, é uma imigração descontrolada, que leva à aventura da fuga e á inevitável morte de muitos daqueles, que fugiram à morte. Os oceanos, estão cheios de corpos.

Por isso, a nossa ‘imigração a salto’, apesar de descontrolada, não foi tão trágica. Mas beneficiou de uma França de ‘portas escancaradas’. E estavam escancaradas, pelas mesmas razões que Luís Montenegro apontou, ou seja, “Precisamos de imigração …”. Também os franceses, precisaram desta imigração para o seu desenvolvimento económico e social. Hoje, na França, há gerações de luso-franceses, que são o testemunho vivo, do fluxo migratório dos anos 60. Os nossos, fugiram do país, pela fome, desemprego e às guerras em áfrica.

Neste sentido, sempre que os nossos governantes usam chavões de cariz reacionário sobre a imigração descontrolada, fico a pensar na miséria moral e intelectual destes eleitos pelo povo.

E é aqui que entra a ex-chanceler alemã Ângela Merkel. Sob a sua governação (entre 2005 e 2021), a Alemanha recebeu mais de 1,2 milhões de refugiados e requerentes de asilo, sobretudo nos anos 2015 e 2016, quando o conflito na Síria estava no seu auge e a Europa viveu uma das maiores crises de imigração de sempre. Disse, ela, naquela altura: "Quando as pessoas estão na fronteira austro-alemã e austro-húngara, é preciso tratá-las como seres humanos". "Essa é a minha convicção".

Esta dimensão, não tem Luís Montenegro nem os seus apaniguados.

 



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