domingo, 13 de novembro de 2022

A SUCESSÃO NO PCP

 A substituição do Secretário-Geral do Partido Comunista Português (PCP), assenta na ‘hereditariedade específica’, isto é, na transmissão dos agentes genéticos conservadores do partido que determinam a herança de características comuns àquela força política. É uma ‘eleição’, tipo monarquia constitucional, sem parentesco, ou tipo monarquia eletiva, onde o governante é periodicamente selecionado por um pequeno colégio eleitoral. Parece que foi o que se passou, na presente substituição de Jerónimo de Sousa, à frente do PCP. Não há uma Assembleia eletiva, com candidatos a concorrerem ao cargo. Há um pequeno núcleo de eleitos do Secretário-geral que, numa ‘sala escura’, escolhem o sucessor, que é presente ao Comité Central dos comunistas que aí ratificam a escolha (por unanimidade), “sem tugir nem mugir”.

Processo ‘pacífico’, longe daquela ‘luta de galos’ que os restantes partidos da democracia, ciclicamente, nos brindam, não só em Portugal, claro.

É, evidentemente, um processo de democraticidade duvidosa e longe dos padrões ocidentais. Em abstrato, não há oposição à escolha do líder e os putativos candidatos da comunicação social (eles próprios se autopromovendo), vêm adiada a subida ao ‘púlpito’, aparentemente, com ‘bons olhos’. João Oliveira, João Ferreira ou Bernardino Soares, não mereceram a escolha de Jerónimo de Sousa, certamente, por imaturidade política e pela fraca consistência programática, na defesa da ortodoxia comunista. O novo Secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, é um ilustre desconhecido, da democracia portuguesa. É um comunista de Abril de 1974, entrou para o partido comunista português em 1994, pertenceu à comissão política de Carlos Carvalhas e é descrito como um “homem afável” com “muita capacidade de diálogo”. Segundo o mesmo Carlos Carvalhas, a escolha de Álvaro Cunhal, em 1992, “O futuro o dirá, mas esta é a decisão coletiva e eu creio que não é só um líder que pode projetar o partido, somos todos nós, somos todos os comunistas, todos aqueles que entendem que da projeção deste secretário-geral quem lucra não é o secretário-geral, nem é o partido, é o povo português, são os trabalhadores, são os pequenos e médios empresários”. (sublinhado nosso).

É evidente que esta “decisão coletiva” é um eufemismo, de Carlos Carvalhas, que pretende significar um amplo debate em torna da escolha do Secretário-geral do PCP. Sabemos que não foi assim. Tudo se resumiu a uma semana de designação do sucessor e um Comité Central amorfo e totalitariamente “ámen”.

Nada de novo. Os tempos de João Amaral e outros, há muito que se findaram. A nova geração de comunistas, incluindo, Paul Raimundo, não tem estofo ideológico e apenas serve ao combate politico interno. Numa fase em que o centrão deu de si, os comunistas portugueses foram chamados com êxito à participação na governação, mas rapidamente cederam aos caprichos ortodoxos da “brigada do reumático” do partido. Claro que foram penalizados nas eleições, mas este é o mal menor, pois onde existir um comunista, a esperança nunca desvanece.

Este é o problema das tradições. Por mais desajustadas e antiquadas que estejam, há sempre quem as queira manter vivas.

Há duzentos anos a abolição das touradas já era motivo de debate parlamentar em Portugal. Hoje, ainda se mantém. O comunismo de Marx e Lenin, do qual resultou a falência do modelo socioeconómico e político comunista, deixou desamparados os seus militantes e ativistas políticos que deambulam por todo o mundo numa catarse sem precedentes, alheios à realidade que os rodeia. Os “operários” das startups fogem aos dogmas de classe e inscrevem uma nova classe - “empreendedores” – ao catálogo das profissões. Paulo Raimundo, na esteira de Jerónimo de Sousa, poderão estar tentados à mudança. Mas mudar, mesmo, ‘tá quieto ó mau”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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sábado, 12 de novembro de 2022

O BULLYING E OUTROS ANGLICISMOS, DOS JORNALISTAS DO ACESSÓRIO

Com injustiça ou não, creio que a humorista Joana Marques, tem sido acusada frequentemente de comportamentos ‘bullies’ entre colegas de profissão, jornalistas do acessório e outros. Joana Marques é uma humorista, guionista, apresentadora de televisão e locutora de rádio portuguesa, cargos que acumula com distinção o que lhe tem criado uma inveja quase delinquente. A prova de que assim é está nas reações dos/das visados/as que a coberto do anglicismo (bullying), proferem afirmações disparatadas ou despropositadas, em sua ‘defesa’, como tivessem sido vítimas de intimidação sistemática ou vexatória, não se dando conta, que o exercício da liberdade de expressão, não está condicionado ao agrado ou desagrado de alguns. É, em si mesmo, um direito fundamental.

É certo que há as chamadas ‘piadas de mau gosto’ que alguns de pensamento mais conservador e pouco pluralista, tendem a considerar uma espécie de ‘bullying’. Por exemplo, dizer que o Stevie Wonder não podia ver à sua frente o Ray Charles é, obviamente, uma ‘piada de mau gosto’ ou dizer que quando a Joana Amaral Dias diz que “…usa o corpo como arma política”, está a fazer ‘bullying’ sobre a Joana Marques é um evidente exagero e também de mau gosto ou pior ainda, dizer aos homens-bomba que o seu sacrifício será recompensado com 72 virgens no paraíso é, estupidamente, de mau gosto. Mas não vai para além disto. Mau gosto (para alguns, claro!). A Joana Marques, que me tenha apercebido, não vai tão longe. Fui repescar algumas pérolas e deu isto: - «Ela apanhou um texto de um comentário que eu tive aqui e disse que a minha mãe andava a fugir à polícia por tráfico de droga. Isso é gravíssimo! A minha mãe faleceu, não lhe admito a ela nem a ninguém (…) e quando ela diz que eu bebo chás marados, eu não bebo chá até porque não gosto, como vê tenho um corpo Danone, graças a Deus, coisa que a senhora não tem”, prosseguiu, para logo a seguir terminar: “A Joana devia beber chá de cavalinha, sabe porquê? Está muito inchada, emagrece e desincha da língua também, fica aqui a resposta (…). Acho que esta senhora é muito infeliz e alguém tem de pôr um limite (…) ela é uma indecente”» (Filipa Castro?)

Gente grande de verdade, sabe que é pequena e por isso quer crescer, quer evoluir. Já gente pequena acha que sabe tudo e daí maltratam e humilham os outros. Não vamos hostilizar ninguém nem fazer comédia gratuita a hostilizar, a menosprezar e diminuir os nosso colegas." (Luciana Abreu)

«Se eu estivesse a poucas horas de me tornar cunhada do Bruno de Carvalho, ficava muito pensativa". "Este casamento estava tão escasso ao nível de celebridades, que uma das mais famosas era a Inês Simões"» (Joana Marques)

"Reforcei o meu seguro quando descobri que a Judite Sousa não tinha gostado nada do ‘'Extremamente Desagradável” (Joana Marques)

Claro que resumi o alegado ‘bullying’ a duas ou três situações, pois que se relatasse mais isto ficaria parecido com o “Extremamente Desagradável”, o que é plágio, ainda por cima de “mau gosto”!

 

P.S.: Aquela do “corpo Danone”, é soberbo …

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

“Tv MARCELO”

O presidente populista, Marcelo Rebelo de Sousa, sempre dispôs de uma caixa de ressonância que bem podemos de apelidar de “Tv Marcelo”. Na verdade, embora em Portugal existam múltiplas estações de televisão, todas, sem exceção, têm um canal da “Tv Marcelo”, que passa diariamente e a toda a hora a programação do presidente populista. Não é uma programação programada, pois o presidente populista é mais de improvisos e diretos. É nesta incontinência comunicacional que os portugueses, vieram a tomar conhecimento, pelo próprio, de algumas lacunas graves do seu pensamento cristão e democrático, como seja a desvalorização da pedofilia (não quantitativa) no seio da igreja católica; A grave indiscrição do PR, ao desvendar a data da ida do PM a Kiev; a desconsideração do presidente brasileiro ao presidente português e a leveza com que Marcelo tratou o tema; a advertência pública, totalmente despropositada e desrespeitosa, que fez à ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, dizendo que está atento e não perdoará uma má execução do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência); o seu ultimo espetáculo na Web Summit, em total descontrolo emocional, são tudo sinais de que o presidente Marcelo, ensaia terminar o mandato em espiral negativa.

E se a maior parte das infelicidades do presidente na ‘Tv Marcelo’ estão a fazer mossa, e o presidente já se deu conta disso, a desvalorização da pedofilia no seio da igreja católica abriu uma ferida difícil de sarar.

Nem anunciando Passo Coelho, evitou o rombo. Daí que, como bom populista que é, lançou-se para as catedrais de consumo, lojas de rua, feiras e mercados, na esperança de que o rebanho se concilie com esta ‘ovelha tresmalhada’.

Os seus mais acérrimos seguidores, pedem uma pausa, e a hierarquia da igreja, “nem tuge nem muge”.

Marcelo sabe, que “mais vale cair em graça do que ser engraçado”. Durante muito tempo, Marcelo ‘caiu em graça’ na generalidade dos portugueses. Porém, ultimamente, teima em ‘ser engraçado’, e não está a resultar.

Não haverá ninguém, para além de António Costa, e os seus ministros devidamente industriados para serem compreensivos com Marcelo, como já se viu, que o convença a arrepiar caminho? É que se não, vai ser uma estopada até ao fim…!