sexta-feira, 30 de maio de 2014

SAÍDA LIMPA OU A BELA E O MONSTRO


Em grandes parangonas e até com o pensamento ressabiado de Cavaco Silva, em pleno Facebook, o Governo, a maioria que o sustenta e a maioria que dele se sustentam, vêm alardear a saída da tróica como um feito transcendental a eles devido, claro, para tanto assinalando o fato com «pompa e circunstância», através de um conselho de ministro extraordinário no próximo dia 17 de Maio, embora o parceiro de coligação, em relógio digital, adquirido e pago com as subvenções do Estado, em Janeiro de 2014, pelas contas ao número de dias assinalados no relógio, o trio de credores internacionais só deixaria o país a 17 de Junho.
Sabe-se, hoje, que a ‘festa’ vai ter lugar, efetivamente, a 17 de Maio, embora a tróica só saia do país em finais de Junho de 2014. Dificuldades burocráticas, é o que dizem …!

Seja como for, é hoje possível fazer um balanço destes 3 (três) anos de governação com a tróica (que era bem-vinda, como se sabe, vide declarações de Passos Coelho A mudança, hoje, está facilitada por aquilo que é o programa de ajustamento da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional. Está muito facilitada porque aquilo que eu tenho vindo a dizer que é preciso fazer está, em parte, neste documento. (...) De certa maneira o PSD ganhou um aliado, que foi o programa de ajustamento. (...) O nosso programa vai muito para lá do programa da troika, é verdade”, Pedro Passos Coelho, 28 de maio de 2011, Expresso). Data curiosa, não é?

Adiante. Três anos volvidos desta parceria executiva e os lastros de destruição são assombrosos. Segundo o INE (Março de 2014), o designado programa de ajustamento, criou quase dois milhões de portugueses a viver com menos de 409 euros por mês, praticamente metade dos portugueses não pode acudir a uma despesa de 400 euros sem recorrer a crédito, ser velho ou ter filhos é uma porta aberta para a pobreza, mais de metade das pessoas em situação de desemprego não recebem subsídio e, estavam no desemprego, em finais de 2013, cerca de 16,40%, sendo o desemprego jovem na casa dos 42,00%, no mesmo ano.
A tudo isto acresce, o «brutal aumento de impostos», e a redução generalizado do acesso aos cuidados de saúde, ao sistema educativo, às prestações sociais, etc., etc.

E, perante isto, os objetivos do programa foram cumpridos? Não.

A dívida pública aumentou, o deficit público não diminuiu, a dívida privada é astronômica, a economia não cresceu, antes pelo contrário, o desemprego disparou, e as crianças e os idosos foram, por ato de governação consciente desta maioria, colocados a viver abaixo do limiar da pobreza o que constitui um verdadeiro atentado aos mais elementares direitos fundamentais da pessoa humana, protegidos quer pela Constituição da República Portuguesa, quer pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, a que voluntariamente aderimos.

E porque este governo e esta maioria que o sustenta escolheu deliberada e conscientemente esta política de verdadeiro atentado aos direitos humanos, seguimos o entendimento do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos que vê a pobreza como uma “condição humana caracterizada pela privação prolongada e crónica de recursos, capacidades, escolhas, segurança e poderes necessários para desfrutar de um padrão de vida adequado e outros direitos civis, culturais, económico e sociais”, situação que se vem a verificar de há três anos para cá relativamente a uma parte muito significativa quer da população mais idosa quer e sobretudo às crianças deste país, na sequência da implementação do programa de ajustamento e as derivas neoliberais para o seu cumprimento, assumidas expressamente por Passos Coelho, em 2011, quando afirmou “O nosso programa [governo] vai muito para lá do programa da troika, é verdade.”.

É neste estado de coisas que com propriedade se pode dizer, que há uma restrição muito significativa ao nível das necessidades básicas, entendendo-se estas como a negação da alimentação (há pelo menos 300 mil pessoas a passar fome em Portugal, sendo que destas 95.000 são crianças), educação, uma vida saudável e habitação, por exemplo, a comercialização de água, eletricidade e serviços escolares e hospitalares impelem os preços dos serviços essenciais para além do alcance dos pobres, forçando-os a vender os seus escassos bens e a viver em condições sub-humanas, o que, em última análise, lhes retira o direito de viver em dignidade.

Ora, um governo que atua assim perante a sua população, não só deve ser censurado nas urnas mas, sobretudo, nos tribunais, já que estamos perante uma ofensa aos direitos fundamentais das pessoas. É, pois um caso de polícia.

A ditadura da pobreza e da indigência, levada a cabo por este governo e pela maioria que o sustenta, terá que ser punida como quaisquer outras ditaduras que proliferam por esse mundo fora.

O abandono pelo governo de crianças e idosos à fome é um crime hediondo equiparável aos crimes de sangue e como tal devem ser punidos.

O endividamento do país, o recurso à ajuda financeira externa, as condições impostas pelos credores, e tretas do mesmo gênero, não justificam uma política de total desrespeito dos direitos fundamentais das pessoas, de entre elas, das mais desfavorecidas e das indefesas, como é o caso dos menores. Quando o governo e a maioria que o sustenta e o que delas se sustentam ostentam riqueza e normalidade econômico-social, fazendo parecer que nada de anormal se passa no país, é caso para dizer que o regular funcionamento das instituições democráticas está seriamente em perigo e que quem tem responsabilidades para por termo a tais desmandes se encontra totalmente anestesiado pela “saída airosa”, esquecendo as obrigações constitucionais que decorrem da sua (infeliz!) eleição.

À semelhança do que se passou na Islândia, há que pugnar pela punição dos governantes que lançam à fome velhos e crianças, que como dizia o antigo Presidente da República Ramalho Eanes da «pobreza que envergonha e ofende a dignidade do Homem». 

Não tenhamos medo das palavras. Esta é uma opção política e ideológica assumida por este Governo e esta maioria com o beneplácito do Presidente da República. Estes homens de palha da economia de casino insensíveis ao outro seu semelhante merecem a reprovação e repulsa de todos aqueles que não toleram a violação sistemática dos direitos básicos e fundamentais de uma grande parte dos portugueses.

Segundo Philippe Legrain, ex-conselheiro económico independente do presidente da Comissão Europeia, no livro que acaba de publicar “European Spring: Why our Economies and Politics are in a mess”, “… a recessão [em Portugal] foi desnecessariamente longa e profunda e, em resultado dos erros cometidos, a dívida pública é muito mais alta do que teria sido. A austeridade foi completamente contraproducente, as pessoas sofreram horrores e isso prejudicou imenso a economia.”
A troika  (…) [em Portugal] que desempenhou um papel quase colonial, imperial, e sem qualquer controlo democrático, não agiu no interesse europeu mas, de facto, no interesse dos credores de Portugal. E pior que tudo, impondo as políticas erradas. Já é mau demais ter-se um patrão imperial porque não tem base democrática, mas é pior ainda quando este patrão lhe impõe o caminho errado. Isso tornou-se claro quando em vez de enfrentarem os problemas do sector bancário, a Europa entrou numa corrida à austeridade coletiva que provocou recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas. Foi claramente o que aconteceu em Portugal.” (idem)

E depois destas verdades escritas em livro, diz ainda o mesmo autor:
Ou seja, o que começou por ser uma crise bancária que deveria ter unido a Europa nos esforços para limitar os bancos, acabou por se transformar numa crise da dívida que dividiu a Europa entre países credores e países devedores. E em que as instituições europeias funcionaram como instrumentos para os credores imporem a sua vontade aos devedores. Podemos vê-lo claramente em Portugal.”

Resumindo: Quem se candidata a gerir os destinos de um país, tem de ter a consciência que as opções ditadas por circunstâncias externas a que não estão aptos a contradizer e/ou alterar, torna-os cúmplices dos crimes que forem praticados e como cúmplices e em alguns autores confessos, devem ser punidos por como tal.

Da mesma forma que a comunidade internacional não tolera e condena os crimes praticados pelos ditadores, ou a conivência dos mesmos com o crime organizado, ou a autoria de genocídios e /ou abandono das populações, também aqui, no nosso caso, há razões mais que suficientes para pedir a incriminação dos políticos que atentaram de uma forma livre e consciente, contra os direitos básicos e fundamentais de uma boa parte dos cidadãos mais velhos e indefesos, vetando-os à fome, ao abandono e à miséria.

Nada justifica ou justificou tal procedimento a não ser a total impunidade e insensibilidade de estes homens de palha que trocaram a ética do carácter “por um prato de lentilhas”.

É pena que os mais sacrificados e atingidos por esta tragédia não possam fazer sentir a sua ira. Compete aos restantes, manifestarem a sua indignação e frontal oposição.




COSTA ESTÁ SEGURO DE QUE SEGURO NÃO TEM COSTAS...!

É isso mesmo. Que o desfecho era este já se esperava e, curiosamente, para mim, era este o timing e não outro. Alguém teria de fazer a «travessia do deserto» das legislativas de Junho de 2011 até às eleições europeias de 2014, no PS. Era nestas eleições europeias de 2014, que se esperava que o PS «descolasse» da maioria que sustenta o governo atual. Isto porque, estas eleições europeias, contrariamente às restantes de cunho eminentemente nacional, serviriam de laboratório único para que os cidadãos eleitores, para além de manifestarem o seu total desinteresse por via da abstenção e dos votos nulos ou em branco, aqueles que votaram, transmitissem sem qualquer dúvida a punição que se esperaria a este governo e à maioria que o sustenta, o que nos parece ter sido o caso, mas, em contrapartida, fizesse renascer o PS como a grande alternativa eleitoral a essa maioria, dando-lhe um expressivo voto de confiança nos resultados eleitorais. Porém, tal não foi assim. Embora, diga-se em abono da verdade, que qualquer que sejam as contas que se façam, o PS registou uma folgada vitória perante o seu concorrente direto, o PSD, já que se nos lembrarmos que o CDS, nas europeias de 2009, teve um pouco mais de 8,%, significa que a manter este resultado em 2014, o PSD, terá conseguido nestas europeias, pouco mais de 19%, dos votos dos portugueses. Ora, 19% dos votos ou mesmo 20% é, na realidade, para o PSD, um terramoto eleitoral. Daí a frase muito feliz de António Costa de que a vitória do PS é "uma vitória que sabe a pouco". E acrescentou, os eleitores mostraram nas europeias de domingo que "não querem este Governo, esta política e esta maioria", mas ainda "não disseram claramente o que querem".

"É um desafio para o PS, que tem de resolver esta situação até às legislativas, acrescentou.
Contas feitas, é evidente que António José Seguro (Seguro) embora tenha feito um trabalho meritório em contexto absolutamente adverso, diga-se, a verdade é que não conseguiu congregar à sua volta e do PS todo o descontentamento de grande parte dos eleitores portugueses e, pior que isso, o eleitorado não vê em Seguro a alternativa ao atual primeiro-ministro.

Havia, pois, que «agitar as águas» no PS, sob de pena de o tempo passar e o pântano governativo nacional se instalar de vez. Nenhum dos atuais atores políticos nos partidos da maioria ou da oposição, são alternativa aos grandes desafios com que se encontra confrontada a sociedade portuguesa. Mais, esta maioria que atualmente nos governa tem de ser rapidamente afastada do poder pelos males, em alguns casos irreversíveis, que causou ao povo português. De resto, sou de opinião que a condução politica deliberada de abandono de velhos e crianças à pobreza, por este governo, é uma violação grave dos direitos humanos e como tal deveriam os agentes políticos nacionais serem punidos judicialmente à semelhança do que se passa por violação de outros direitos universalmente reconhecidos e garantidos.

Aparece, assim, como natural e necessário o processo de substituição da liderança do PS, com vista aos grandes desafios que se avizinham com as legislativas do próximo ano. E António Costa é uma aposta forte do PS, uma vez que “tem uma capacidade de alargamento do impacto da mensagem que mais ninguém tem hoje no partido.” (João Galamba, no twitter)

Na verdade, António Costa vai além do PS e reúne em assim todos aqueles que não sendo filiados no PS, veem nele, uma alternativa sólida e credível à atual maioria que suporta o governo.
Por outro lado, à semelhança do que se passa na autarquia, espera-se que prossiga a política de entendimentos com sectores mais à esquerda do PS, por forma a criar uma grande maioria capaz de romper com este ciclo vicioso, à volta do «centrão».

Por tudo isto e, sobretudo, pelo estado empobrecido e descrente em que se encontra o país, a que António José Seguro, não conseguiu dar a esperança devida, é salutar o aparecimento de uma alternativa como António Costa à liderança do PS e, consequentemente, à oposição à maioria de direita que sustenta o governo.

É urgentíssimo afastar esta maioria de direita do governo deste país que tão maus resultados têm produzido para os cidadãos portugueses, ao longo destes três últimos anos, principalmente, para as crianças e velhos que pura e simplesmente foram vetados ao abandono pelas políticas indecorosas deste governo e desta maioria de direita retrógrada e reacionária.

Só uma nova oposição liderada por um PS forte e pronto a romper com o ciclo vicioso do «centrão», poderá ser a esperança para todos os portugueses, nas eleições legislativas que se avizinham.

É bem verdade, que enquanto há vida há esperança…!